Nos últimos dias, em alguns estados brasileiros, intensificaram-se os debates em torno da flexibilização do uso de máscaras, acessório de proteção no combate à Covid-19. O item, desde o início da pandemia, foi indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), por cientistas e por profissionais da área médica como essencial para barrar o avanço do coronavírus que, somente no Brasil, já provocou a morte de mais de 600 mil pessoas. Na sexta-feira (8) o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) fez um apelo aos gestores de saúde para que mantenham a obrigatoriedade do uso do acessório.Em movimento contrário ao que diz a ciência e especialistas, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se disse contrário à obrigatoriedade do uso de máscaras. O ministro testou positivo para Covid-19 em setembro, em Nova York, quando integrava a comitiva do presidente Jair Bolsonaro que participou da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, e teve de cumprir quarentena. Ao chegar ao Brasilm defendeu a flexibilização e anunciou que uma equipe da pasta está avaliando a desobrigação de forma gradual.Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, foi o primeiro município no país a anunciar o fim da obrigação do uso de máscaras. O prefeito Washington Reis (MDB) disse que assinou o decreto considerando o alto número de pessoas vacinadas contra o coronavírus no município que, naquele momento estava em torno de 46,8% com a segunda dose. Dois dias depois, a Justiça do Rio de Janeiro determinou a suspensão do decreto.InfectologistaMédica infectologista, especialista em epidemiologia de doenças infecciosas e chefe do Departamento de Saúde Coletiva do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cristiana Toscano é a única brasileira a integrar o Grupo Estratégico Internacional de Experts em Vacinas (Sage) da OMS. Para ela, não é momento para decretar o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. “Há evidências muito fortes da importância do uso de máscara para prevenir a transmissão do vírus que causa a Covid e, portanto, diminuir o impacto da doença no processo da pandemia. A gente tem uma perspectiva, e vale para qualquer doença respiratória, de que quando temos uma parcela grande da população protegida e medidas implementadas para prevenir o processo de transmissão de pessoa para pessoa temos redução do impacto.”Cristiana Toscano ressalta que, no caso da Covid, no Brasil, há avanço na vacinação, há vacinas disponíveis, mas não há ainda uma proporção altíssima de pessoas imunizadas com a segunda dose, o que é necessário para ter um impacto importante do ponto de vista populacional. “Chegamos a 600 mil óbitos e há risco da reemergência provocada por novas variantes. A gente vê a situação dos Estados Unidos, que tinham uma cobertura relativamente alta quando chegou lá a variante delta e estão vivenciando alta transmissão e números altos de óbitos. O país, que já tinha retirado a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos, a reintroduziu em função dessa situação.”Para a médica infectologista e pesquisadora da UFG, ainda é preciso um pouco mais de tempo para se pensar no fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. “Já estamos voltando à vida normal e a máscara é uma estratégia importante que funciona e tem pouquíssimos incômodos ou eventos secundários. Somente com a manutenção de todas as estratégias, como a vacina, o uso do álcool gel, o distanciamento e a máscara vamos sair desta pandemia e garantir uma situação mínima de normalidade.” Conass defende equipamentoHá pelo país outros movimentos pela liberação gradual da obrigatoriedade do acessório, como em São Paulo. O governador João Dória chegou a anunciar uma entrevista coletiva para o dia 18 quando trataria do tema, mas logo em seguida o Comitê Científico de São Paulo informou que, apesar da queda no número de mortes e internações por Covid-19, por enquanto a máscara continua obrigatória em todo o território paulistaEm Santa Catarina, o governo estadual retirou a obrigatoriedade do uso de máscaras por artistas durante apresentações. O decreto não atinge a equipe técnica e de produção. Na capital, Florianópolis, o prefeito Gean Loureiro (DEM) disse que quando 80% da população estiverem totalmente vacinados, a máscara não será obrigatória em locais públicos. O índice atual não chega a 65%.As manifestações de gestores públicos a favor do fim da obrigatoriedade do equipamento de proteção levaram o Conass a fazer um apelo público. Em nota na sexta-feira (8), o conselho, que reúne secretários de Saúde de todo o país, afirmou que “a vacinação da população, a testagem e o consequente monitoramento dos casos detectados e de seus contatos, somam-se ao uso de máscaras, à lavagem frequente das mãos e a utilização de álcool em gel como medidas indispensáveis para a superação da pandemia.”Assinada pelo presidente do Conass, Carlos Lula, a nota lembra que as experiências frustrantes de alguns países que suspenderam a obrigatoriedade do uso de máscaras devem ser um exemplo para o Brasil. Austrália e Portugal tiveram aumento no número de casos e óbitos pela doença, obrigando-os a retroceder. “Interesses que não os da proteção da população não podem se sobrepor à salvaguarda de nosso mais importante patrimônio: a vida e a saúde de todos os brasileiros”, reforça o Conass.Debate está longe em GoiásEm Goiás, o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras ainda não é debatido. Em nota ao POPULAR, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que “embora Goiás venha registrando sucessivas quedas de casos confirmados e de mortes pela Covid-19, o que se reflete também na redução gradativa da ocupação de leitos nas unidades de saúde, não há, por ora, discussão sobre o tema no estado”. Conforme a SES, “mesmo com números positivos, o abandono de medidas de proteção como o uso de máscaras, só poderá ser discutido quando o estado estiver com mais de 70% da população totalmente imunizada”. Neste domingo (10), segundo o consórcio de veículos de imprensa que realiza levantamento com base em números oficiais, Goiás contava com 41% de sua população totalmente imunizada com duas doses ou dose única.Em Goiânia, o assunto também não está na pauta da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). “O momento é de enfrentamento da pandemia, que ainda requer, além da vacinação, a manutenção de medidas protetivas contra a Covid-19 e uma delas é o uso de máscara que, na área científica, é reconhecidamente uma medida eficaz no controle da doença”, informou a SMS em nota. A pasta esclareceu que o município de Goiânia dispõe da Lei N° 10.545 de 4 de novembro de 2020 que torna obrigatório o uso de máscara de proteção facial.-Imagem (1.2334744)