Educação é principal trava para reciclagem avançar em Goiânia, afirmam especialistas
Apenas 5,5% dos resíduos vão para reaproveitamento. Reverter cultura depende de compromisso de vários órgãos da administração municipal. Situação atual implica na perda de ativo econômico que poderia circular e gerar renda
Manoella Bittencourt

Coletor tenta aproveitar material entregue em ecoponto de Goiânia (Wildes Barbosa)
O tratamento inadequado dispensado aos resíduos sólidos em Goiânia faz com que pouco mais de 5% de tudo que é recolhido seja separado para reciclagem. Especialistas ouvidos pelo POPULAR atribuem o problema à falta de educação ambiental, que na visão deles, deveria ser feita pela administração pública de forma mais acentuada, contínua e tecnológica.
O problema ambiental também avança para a questão econômica porque com o baixo aproveitamento do que é recolhido deixa de circular como um grande ativo financeiro.
O projeto 'Coleta Seletiva', voltado ao recebimento de resíduos, realizado pela Companhia de Urbanização do Município de Goiânia (Comurg) em parceria com a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), recolheu, em 2021, 36.050,18 toneladas de resíduos sólidos e materiais recicláveis e 2.114 toneladas de material reciclável. Ou seja, a coleta de reciclados hoje corresponde a 5,5% do total recolhido. A capital andou para trás. Em 2019, o porcentual era de 5,67%.
A questão ganha contornos ainda mais críticos quando é observado o real aproveitamento de tudo que é recolhido: 1,8%. Isto acontece porque nem tudo que vai para a reciclagem tem condição de passar pelo processo. "Os materiais não chegam com qualidade às cooperativas", afirma a presidente da Cooperativa Reciclamos e Amamos o Meio Ambiente (Cooper Rama), Dulce Helena do Vale.
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O esquecimento da população perante os programas de coleta da Prefeitura de Goiânia, e a incerteza do que deve ser separado requer campanhas de conscientização contínuas e mecanismos mais amplos para comunicar os habitantes, dizem especialistas e cooperativas.
O especialista engenheiro ambiental Diógenes Aires, reitera que o projeto público é importante na garantia do giro de economia da reciclagem na capital, estimulando renda e trabalho para as cooperativas. No entanto, ainda apresenta três problemas centrais focados na educação ambiental dos moradores; a infraestrutura disposta para coleta e fiscalização dos materiais descartados, por exemplo, se há contaminantes e se os estabelecimentos seguem o regime.
Quanto mais eficiente for o serviço de coleta seletiva, menos resíduos serão destinados ao aterro sanitário ou descartados inadequadamente em terrenos baldios e lixões, de acordo com o especialista em engenharia ambiental e professor do Instituto Federal Goiano (IFG) Marlon Capanema. "Reduz-se assim diversos impactos ambientais como poluição do solo, da água subterrânea, do ar e problemas relacionados à transmissão de doenças por meio de vetores como mosquitos e ratos."
Solução
Em relação ao primeiro, é percebido que há períodos, muitas vezes eleitorais, e datas específicas voltadas ao meio ambiente, em que a Coleta Seletiva é um assunto tratado com mais frequência. Mas o feito não condiz com a necessidade de informação sobre o tema. Como solução, Aires exemplifica que poderiam existir aplicativos virtuais, tal qual o Prefeitura 24h, que lembrassem os cidadãos a separarem os resíduos e contivesse informações detalhadas do que pode ou não ser encaminhado para a reciclagem.
Empresas e comércio que são grandes geradores de lixo poderiam passar por uma exigência de comprovar que houve alguma atividade de educação ambiental dos proprietários e funcionários para que renovassem a licença ambiental, propõe o especialista, que ainda sugere que o governo proporcionasse um aprendizado contínuo nas escolas promovendo gincanas.
Segundo Aires, as brincadeiras possuem adesão dos jovens e estimulam as crianças a recusarem atitudes inadequadas e deveriam ser incentivadas pela Secretaria Municipal da Educação. "É preciso que todos os órgãos façam este trabalho, e não o mesmo fique concentrado apenas na Amma", afirma o engenheiro ambiental. Dulce concorda que "a responsabilidade do resíduo é de quem gera e do poder público é dar condições para a população destine este material adequadamente."
Em nota, a Comurg ressalta que as redes sociais da Prefeitura de Goiânia e do órgão fazem publicações frequentes acerca dos locais dos Ecopontos, bem como o tipo de material depositado. "As mesmas informações são apresentadas no site oficial da administração, e que diante da postura informacional da Prefeitura, há sim estudos para realização de campanhas mais abrangentes.", escreve.
Já a Amma tem como uma das vertentes do Programa de Educação Ambiental a 'oficina de resíduos sólidos' direcionado para o público infantil e adulto. A partir dele, os participantes têm uma experiência prática com os materiais utilizados para coleta seletiva, e recebem orientação da destinação adequada de cada resíduo, em que são explicados os danos daqueles produtos para os parques, matas e cursos d'água.
"Esta oficina tem apresentado resultados interessantes na sensibilização das pessoas envolvidas", afirma a Amma em nota. Segundo o órgão, a localização dos resíduos na mata e nos corpos hídricos suscitam muitas reflexões e tendem a provocar mudanças estruturais na forma de lidar com este problema ambiental. O descarte errôneo dos resíduos acomete em poluição do lençol freático e outras consequências degradadoras ao meio ambiente. ( Manoella Bittencourt é estagiária do GJC em convênio com a PUC Goiás )
Comurg estuda implantar mais 20 ecopontos
A Comurg ressalta que, em 2021, foram recolhidas 25.369,70 toneladas de recicláveis em locais domiciliares e públicos. Com o fim de estimular a adesão de mais moradores, o órgão estuda implantar mais 20 ecopontos em Goiânia, e está atuando com a identificação das áreas públicas. Por enquanto, na capital, existem quatro ecopontos fixos (veja quadro) para destinação de resíduos diversos dos recolhidos nas coletas convencional e seletiva.
Quanto aos veículos disponíveis, atualmente, 50 caminhões compactadores são utilizados na execução dos circuitos regulares e especiais, conforme demanda. Todavia, o número de caminhões aliados à frota da coleta seletiva é o mesmo apurado pelo POPULAR em 2013, sendo 16 veículos disponíveis para o serviço, número que não acompanha o crescimento do município, conforme afirma o engenheiro ambiental Diógenes Aires.
Outro ponto de melhoria é a quantidade de Ponto de Entrega Voluntário (PEV) na cidade, segundo Aires poderiam ser realocados em parques, praças e outros locais públicos.
Em questões orçamentárias, a Amma segue o previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA), na qual há previsão de receitas para as atividades de Licenciamento Ambiental e previsão de despesas para as atividades de Monitoramento Ambiental e Fiscalização Ambiental que agem para identificar a poluição e também para coibir atos ilícitos no Município. Por nota, o órgão diz que o valor envolve, veículos, combustível, laboratórios de análises, deslocamento de técnicos, analistas ambientais e todo aparato tecnológico para produzir dados e provas dos ilícitos.
Fiscalização
O artigo 35 da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), conceitua que os municípios podem implantar a coleta seletiva e dar incentivos, mas também podem criar punições aos moradores e estabelecimentos que não contribuem com o programa. De acordo com a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), as regiões da capital onde mais ocorrem denúncias são a oeste e sudoeste.
"A fiscalização tem trabalhado de forma intensificada nessas regiões, dezenas de veículos já foram apreendidos somente neste ano. Eles foram pegos em situação de flagrante realizando o descarte.", afirma em nota. Para as cooperativas, a fiscalização adequada facilitaria a chegada de materiais regularizados para reciclagem.
A Amma, por sua vez, é responsável em exercer a fiscalização ambiental quando identificado um poluente. Com os dados do monitoramento, o empreendimento poluidor poderá ser multado e embargado administrativamente. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) poderá abrir uma ação cível contra este agente poluidor que deverá reparar o local poluído e cessar imediatamente a causa da poluição.
Dentre as melhorias que poderiam ser feitas, Aires sugere que a Prefeitura da capital teria de multar com frequência para incentivar a separação dos materiais recicláveis de modo correto nas moradias e estabelecimentos, e se caso um local estivesse descartando muito contaminante, que recebesse autuações fiscais do governo municipal. O valor coletado das multas poderia, então, ser revertido em investimento para melhoria da infraestrutura e educação ambiental.

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