A criação de um programa para instituir Goiânia entre as cidades inteligentes do mundo, em que a oferta de dados e de serviços seja feita de forma eficaz, foi um dos principais pontos da campanha que elegeu a chapa Maguito Vilela (MDB) e Rogério Cruz (Republicanos) em 2020 para o Paço Municipal. Um ano e quatro meses depois, no entanto, os benefícios prometidos, como pontos públicos de internet, prontuários médicos digitais e implantação de fibra óptica, seguem como projetos.O POPULAR apurou que ainda há a intenção da administração Rogério Cruz em instituir o programa Cidade Inteligente, mas os projetos devem ser colocados em prática apenas a partir de 2023.Atos pontuais, como a expansão da rede de videomonitoramento na capital, estão previstos para esse semestre, com o funcionamento das câmeras ao redor do Parque Vaca Brava, que estão desligadas desde 2020. No entanto, outros projetos passaram à frente na lista de prioridades, como a finalização das obras de infraestrutura na cidade e mesmo o início de outras, como a remodelação da Avenida Anhanguera.Isso fez com que fosse deixado de lado, por enquanto, o programa de modernização do parque de iluminação de Goiânia, em que seria feita a troca das lâmpadas atuais por outras, de tecnologia de LED. Assim como a instalação dos pontos públicos de WiFi, que no começo do mandato, em fevereiro do ano passado, era visto como o pioneiro benefício para a população dentro do programa Cidade Inteligente. Para tal, a administração chegou a fazer diversas viagens e reuniões em Brasília e São Paulo para viabilizar o projeto, que agora já deixou de ser prioridade.Há um ano, a Prefeitura chegou a divulgar que publicaria um decreto para colocar a Avenida 24 de Outubro, no Setor Campinas, em um teste para os equipamentos que seriam usados no programa Cidade Inteligente. A ação é chamada de SandBox (termo em inglês para caixa de areia, que se refere a um espaço reservado e controlado para a aplicação de testes) e a previsão era que fosse feita em junho do ano passado, com a aplicação de câmeras de videomonitoramento com reconhecimento facial e semáforos inteligentes, mas nada foi realizado.Na época, a Prefeitura argumentou que o uso da SandBox economizaria tempo e dinheiro para a implantação do Cidade Inteligente, pois seria possível verificar o que funciona para o projeto da cidade. A avenida ganharia luminárias com câmeras de reconhecimento facial e de placas, roteamento de internet para visitantes e comerciantes e semáforos inteligentes. Para isso, o Paço abriria licitação para que empresas interessadas fornecessem os equipamentos a serem utilizados na avenida até mesmo para verificar o tipo de tecnologia e de aparelhos.Após um ano dos testes, haveria discussão entre a administração, moradores, visitantes e comerciantes para avaliar como foi o uso dos equipamentos, quais as melhorias foram levadas à população e os dados coletados. No entanto, nem o decreto prometido que liberaria o espaço público para a realização do projeto, já que seria necessária a flexibilização das normas urbanas, foi publicado. O lançamento da SandBox não foi mais considerado dentre as políticas municipais.Na mesma época, a Prefeitura ainda informou a vontade de realizar testes também na Região da Rua 44. Em ambos os casos, as escolhas tinham como argumento o fato de serem locais com grande movimento de veículos e de pessoas, o que contribuiria com uma alta capacidade de armazenar muitos dados em um menor espaço de tempo e também para verificar as opiniões das pessoas que estiveram nos locais de forma mais eficaz. Mas, assim como ocorreu com relação à 24 de Outubro, a intenção não foi à frente.Em agosto de 2021, o Paço Municipal divulgou decreto em que previa investimentos na ordem de R$ 478 milhões para este ano. Neste recurso consta, por exemplo, R$ 21,6 milhões para serviços de telemedicina, R$ 10 milhões para o projeto Cidade Segura, o mesmo valor para a instalação da rede de fibra óptica, R$ 9,6 milhões para uma central de dados, R$ 6,25 milhões para semáforos inteligentes e ainda R$ 1,8 milhão para a construção de um Centro de Controle Operacional (CCO). Todos estes citados fazem parte do Cidade Inteligente, mas ainda não receberam os investimentos prometidos.Questionada na quarta-feira (13) sobre a continuidade do programa, a Secretaria Municipal de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sictec), responsável pelo Cidade Inteligente, não respondeu até a conclusão da matéria neste domingo (17). A reportagem apurou, no entanto, que ainda neste semestre o Paço Municipal deve anunciar os investimentos contidos no decreto de agosto do ano passado, mas não com relação ao Cidade Inteligente. Dentre o valor de R$ 478 milhões, há verba também para infraestrutura, saúde, educação e outros projetos.Programa-chave na campanhaA ideia de colocar Goiânia entre as SmartCities (Cidades Inteligentes) de referência no mundo foi ponto-chave no Plano de Governo da chapa Maguito Vilela e Rogério Cruz, eleita em 2020. Na proposta apresentada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) consta o uso do conceito na “Governança Eletrônica”, cuja explicação dada é que o programa seja capaz de encontrar e resolver os problemas diagnosticados na cidade e pelos cidadãos, com foco nos serviços municipais.Na época, Maguito, então candidato a prefeito, usou como referência o trabalho iniciado pela sua gestão em Aparecida de Goiânia. A cidade vizinha da capital possui um videomonitoramento mais amplo, com cerca de 200 câmeras, assim como a rede de cabeamento de fibra óptica, com 720 quilômetros. Na capital, atualmente, há 66 câmeras de segurança instaladas, mas nem todas estão em funcionamento, como os 10 postos ao redor do Parque Vaca Brava, que também eram usados para monitorar o trânsito e que está sem funcionamento desde 2020. Para se ter uma ideia, em março, o então prefeito Gustavo Mendanha, que substituiu Maguito, iniciou a instalação de pontos públicos e gratuitos de internet Wi-Fi. A proposta é conceder o benefício em 200 locais distintos da cidade até o final deste mês de abril.Paço cita projeto em Plano PlurianualNo Plano Plurianual de Goiânia, preparado para ser executado de 2022 a 2025 e publicado em setembro do ano passado, a prefeitura da capital descreve que “outro desafio importante será melhorar a condição da cidade de Goiânia no contexto das Cidades Inteligentes, cidades cujos indicadores retratam sua inteligência, conexão e sustentabilidade, para que ocorra o desenvolvimento sustentável”. Ainda não há, no entanto, nenhum projeto prático que estabeleça os programas elencados na campanha de 2020, e que começariam a ser elaborados há um ano, dentro do proposto.O Plano cita para este ano de 2022 a implantação de 25% de todo o videomonitoramento da cidade, “gerando controle e redução dos índices de violência e criminalidade, além de informações em tempo real para outras áreas: como questões ambientais, trânsito, defesa civil e alertas em geral”. Há ainda o projeto de tornar Goiânia um destino turístico, dentro do conceito do Cidade Inteligente. O documento ainda relata, no escopo do programa, a modernização da gestão, promovendo “uma gestão pública moderna, competente e inteligente, conectada com o cidadão” e a implantação de 30% do parque tecnológico da capital e a criação de centros de inovação e tecnologia.Os projetos continuam sem ações práticas, assim como a instalação de semáforos inteligentes. Por outro lado, na semana passada, o prefeito Rogério Cruz anunciou a adoção do Sistema Eletrônico de Informações (SEI), iniciado como testes em novembro do ano passado. Com o SEI, todos os projetos físicos da prefeitura passam a ser digitalizados. Cruz citou o SEI dentro do hall de propostas da administração para a modernização da gestão pública, junto à tecnologia de reconhecimento facial implantada na Secretaria Municipal de Educação (SME) e para o registro do Bilhete Único, serviço do sistema de transporte coletivo metropolitano que concede o uso de até quatro viagens em um período de 2h30 no custo de uma tarifa.Goiânia é a 18ª cidade mais conectadaApesar de não ter implementado os programas prometidos dentro do Cidade Inteligente, a prefeitura tem comemorado o avanço de Goiânia no Ranking Connected Smart Cities, publicado desde 2014 pela consultoria Urban Systems, em parceria com a empresa Necta. Em 2019, a cidade estava em 40º lugar entre as Cidades Inteligentes no Brasil e passou para a posição de número 36 em 2020. Já em 2021, no último ranking divulgado, Goiânia foi apontada como a 18ª cidade mais conectada do País, e a terceira da região Centro-Oeste, com uma nota geral de 34,735.O ranking coloca a cidade de São Paulo (SP) como a mais conectada do País, com nota geral de 37,584, seguida de Florianópolis (SC), com 37,385, e Curitiba (PR), com 37,375. Levando em consideração apenas as capitais do Brasil, Goiânia passa a ser a 9ª cidade no levantamento, e se torna a 11ª se o corte for feito com base nos municípios com mais de 500 mil habitantes. Em Goiás, o ranking também analisou os municípios de Anápolis (com nota geral de 31,552) e Itumbiara (30,373).Válido ressaltar que o ranking citado, o mais conhecido da área no País, considera o conceito de “conectividade” para o estabelecimento da pontuação. Neste caso, a medição se dá ao analisar “que o desenvolvimento só é atingido quando os agentes de desenvolvimento da cidade compreendem o poder de conectividade entre todos os setores”, ou seja, verifica-se se as políticas públicas pensadas para o município estão apoiadas em outras já existentes. Por exemplo, se o desenvolvimento de uma obra de drenagem em certo bairro está relacionada com o meio ambiente local.Neste sentido, o Ranking Connected Smart Cities, que é citado normalmente pela prefeitura, inclusive no Plano Plurianual 2022-2025, não está apoiado no uso de tecnologias para a solução dos problemas da cidade, que é o conceito utilizado de Cidade Inteligente no programa de governo da administração municipal elaborado para a campanha de 2020 e que também consta no Plano Plurianual 2022-2025 publicado no ano passado. Em 2021, assim que a atual gestão iniciou os trabalhos, o resumo do Cidade Inteligente em Goiânia era como utilizar a tecnologia para melhorar os serviços prestados ao cidadão e o exemplo era o uso do aplicativo Prefeitura24 Horas.Leia também- Prefeitura de Goiânia vai gastar R$ 2 bilhões em 4 anos com cidade inteligente- Trecho da Avenida 24 de outubro vai ser a primeira 'rua inteligente' de Goiânia-Imagem (Image_1.2439813)