Levantamento feito pelo Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB) e apresentado nesta terça-feira (12) pelo governador Ronaldo Caiado (DEM) aponta que 31.777 pessoas em Goiás, integrantes de 8.001 famílias, estão em condição de alto risco de carência. As famílias foram avaliadas em uma escala de risco, que vai do zero ao cinco, e essas foram consideradas entre os riscos de níveis mais altos (quatro e cinco). O estudo fez o cruzamento de dados do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) do governo federal e avaliou a situação de cada uma das mais de 775,4 mil famílias goianas incluídas na iniciativa, segundo critérios de análise que se dividem em três áreas: educação, moradia e renda.Chamado de Índice Multidimensional de Carência das Famílias Goianas (IMCF), o levantamento foi o primeiro realizado no Brasil atendendo diretrizes e análises propostas em relatório final apresentado no ano passado pela Comissão de Estudos da Legislação Social Brasileira, na Câmara dos Deputados, em Brasília. Ao todo, mais de 2 milhões de pessoas em Goiás tiveram a realidade analisada, a partir dos dados cadastrados no CadÚnico. Este total não corresponde à totalidade da população, tampouco contempla pessoas em situação de rua, pois os dados que foram cruzados dizem respeito somente àqueles que possuem cadastro formalizado e recebem algum benefício do governo, como o Bolsa Família.Com as informações detalhadas de cada família, os técnicos do IMB puderam delimitar as localidades exatas de onde estão cada uma delas. Não à toa, o estudo vem sendo chamado informalmente de Mapa da Pobreza em Goiás. “É um GPS dizendo onde devemos atuar com precisão. Não é achismo”, declarou o governador durante a apresentação do trabalho, nesta terça-feira, no Palácio Pedro Ludovico Teixeira. O diretor do IMB, Cláudio André Nogueira, acrescentou ainda que os dados vão permitir uma ação concreta e personalizada para combater a carência vivenciada por cada uma dessas famílias e não mais a aplicação ou delimitação de políticas genéricas, pensando em uma realidade única. Ele falou ainda na adoção de cronogramas para estimar a mudança de níveis de pobreza em cada caso.Dentro de cada um dos tópicos (moradia, renda e educação), foram avaliadas questões inerentes a eles e aplicadas pontuações para permitir o cálculo do IMCF. Na parte de moradia, por exemplo, foram analisados critérios como: a espécie do domicílio, se é improvisado ou não, se é domicílio coletivo (coabitação), se possui água canalizada, existência de sanitário, energia elétrica, revestimento do piso e destinação do lixo. Na parte de educação, foram avaliadas a condição de analfabetismo na família e se existem pessoas entre sete e 17 anos que não frequentam a escola adequadamente (evasão escolar). Esta questão em específico foi a que significou maior peso no índice final, com valor atribuído de 2,0 na contagem.RendaA perspectiva de estudo multidimensional, com análise de outras áreas da condição familiar, que não somente a renda, para avaliar o nível de carência é uma estratégia proposta para se analisar melhor e obter um índice mais próximo da realidade. No decorrer da apresentação, foi pontuado que, nos últimos anos, a questão da pobreza no Brasil foi analisada muito sob a perspectiva da renda, somente, com a consequente implantação do programa Bolsa Família, por exemplo. Cláudio André Nogueira explicou que a concessão de um benefício financeiro não inibe, necessariamente, carências na estrutura da moradia, tampouco garantem um melhor acesso das pessoas da família à educação. Todas, consideradas áreas básicas para uma boa vivência familiar.Na parte de renda, foram analisados dois tópicos: se a renda da família é informal e se a família recebe o Bolsa Família. Do ponto de vista da renda, somente, a Síntese de Indicadores Sociais divulgado no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já apontou um cenário que gera preocupação, no Estado. O número de pessoas em situação de extrema pobreza, residentes em domicílios particulares, em Goiás, aumentou entre 2016 e 2017. O índice que era de 3,5% foi para 3,9%. O Banco Mundial delimita, atualmente, como pessoas em extrema pobreza aquelas que tem acesso diário a até US$ 1,90, somente. No Brasil, o porcentual de pessoas nessa condição subiu de 6,6% para 7,4%, no mesmo período. Mancha da pobreza atinge Nordeste e Entorno do DFAs cidades goianas cujas famílias apresentam as maiores médias de privações, analisadas pelo estudo Índice Multidimensional de Carência das Famílias Goianas (IMCF), realizado pelo Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB), estão principalmente no Nordeste goiano e no Entorno do Distrito Federal. O ranking das cidades que possuem famílias em situação de extrema de pobreza (risco 5) é liderado, por exemplo, pela cidade de Cavalcante, a 506 quilômetros de Goiânia. Na cidade, que fica na Chapada dos Veadeiros e possui comunidades instaladas em locais de difícil acesso e onde sequer possui energia elétrica ainda, 17 famílias foram classificadas como sendo de risco cinco, o que equivale a um total de 82 pessoas. Na segunda posição, está a cidade de Águas Lindas de Goiás, a 193 quilômetros da capital, e localizada no Entorno do DF. No município, foram identificadas 14 famílias em situação extrema de carência, o que corresponde a um total de 57 pessoas. O governador Ronaldo Caiado (DEM) anunciou algumas medidas que devem ser tomadas a partir de agora, com a finalização do estudo, incluindo comunicados às prefeituras e discussão conjunta de medidas a serem adotadas. Uma visita à Cavalcante também deve ocorrer.