Uma casa localizada numa movimentada rua do setor Marista, bairro nobre de Goiânia, chama atenção de quem passa. Apesar de grande e pomposa, o imóvel deixa explícito o caráter de abandono, com janelas quebradas e mato crescendo dentro da propriedade. No entanto, o fato mais curioso é que o indivíduo que deveria residir no local está cadastrado num sistema de famílias em situação de vulnerabilidade, recebendo pagamentos do Bolsa Família de outras pessoas desde 2016.A situação foi descoberta depois que um dos beneficiários reais do Bolsa Família (programa que passou a se chamar Auxílio Brasil recentemente) pediu ajuda a um conselheiro tutelar, que confirmou o desvio do pagamento junto a uma unidade do Centro de Referência em Assistência Social (Cras) após consulta ao Cadastro Único.A família vítima da fraude, composta por seis pessoas, vive no Residencial Itaipú, em Goiânia, e enfrenta sérias dificuldades financeiras. Recentemente, Yasmin Monteiro, 25, uma das integrantes da família e beneficiária do Bolsa Família, procurou o conselheiro para pedir ajuda, uma vez que ela e seus familiares estavam passando necessidade inclusive de alimentos.O membro do Conselho Tutelar questionou Yasmin, que está desempregada, se a família recebia o benefício do governo federal, ao que a jovem respondeu que eles tinham o benefício, mas que haviam sido informados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs) que outra pessoa estava recebendo por eles.Suposta moradora do setor Marista recebe benefício de 11 pessoasConforme o relatório do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, ao qual O POPULAR teve acesso, uma mulher com residência cadastrada no setor Marista consta como “responsável familiar” e recebe os pagamentos do Bolsa Família de Yasmin e mais cinco pessoas de sua família. Além deles, outras cinco pessoas constam no cadastro de “parente”, totalizando 11.“Nunca ouvi falar nessa pessoa. A gente nunca nem morou no rumo que ela mora”, afirmou Yasmin.A reportagem do POPULAR foi ao endereço cadastrado no sistema do Cadastro Único, mas encontrou a casa abandonada. Questionados, os vizinhos informaram não conhecer a pessoa que deveria residir no local e que está abandonado há anos. Família espera resolução de problemaApós descobrirem que uma outra pessoa estava recebendo os pagamentos do benefício, Yasmin e sua mãe, Dalva Monteiro, de 51, que é diarista, mas também está desempregada, procuraram a Polícia Civil. No entanto, após contato com a Polícia Federal, elas foram informados que deveriam ir à agência da Caixa Econômica da titular do benefício.Na agência bancária, Yasmin e sua mãe foram orientadas a procurar, novamente, a Sedhs para tratar do assunto. Ao POPULAR, a mulher disse que ouviu do funcionário que uma sindicância seria aberta para apurar a situação. À reportagem, Yasmin, que tem uma filha de 3 meses, revela indignação com o desvio do pagamento de seu benefício. “Faz falta, porque ajudaria muito. Ajudaria com fralda, com leite, com os problemas cardíacos que ela [a filha] tem. Eu espero que seja resolvido e que eu consiga arrumar meu CadÚnico. Espero que eu consiga meus benefícios, meus direitos todos e da minha filha”, concluiu.A reportagem do POPULAR entrou em contato com a Sedhs sobre o caso e aguarda um retorno. O espaço permanece aberto.