Desde meados de junho, em média, as funerárias em Goiânia começaram a fazer entre 5 e 8 sepultamentos diários de corpos dentro dos protocolos sanitários para casos suspeitos de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). De acordo com levantamento feito pelo POPULAR junto a funerárias, até o mês de maio, a média era de 1 ou 2 enterros nestas condições, com dias na semana em que sequer havia a ocorrência. Agora, o protocolo, no qual não ocorre velório e os agentes funerários devem usar roupas e equipamentos de segurança específicos, ocorre todos os dias e em número relevante. No entanto, não foi verificado, na prática dos cemitérios, um aumento geral no número de mortes em relação ao período pré-pandemia.Na tarde desta sexta-feira, a reportagem do POPULAR esteve por 35 minutos em um cemitério da capital e verificou dois enterros no protocolo para Covid.Representante de Goiás no Comitê Nacional de Crise do Segmento Funerário para o enfrentamento do Coronavírus, Wanderley Rodrigues, confirma que houve, de fato, um aumento nos sepultamentos de corpos suspeitos da doença. “Como é um processo com cuidados maiores, com maior participação de pessoas, de agentes funerários, a gente tem visto mesmo um aumento. Mas é curioso que não se percebe um aumento de mortes em geral”, diz. Ele também afirma que, a princípio, as medidas de isolamento social não justificariam a manutenção geral do número, já que, em tese, com menor circulação de pessoas poderia ocorrer redução de mortes de acidentes, por exemplo, e que estariam, estatisticamente, sendo substituídas pelas ocorrências da doença viral.Rodrigues conta que até maio havia percebido uma redução de casos relativos a doenças respiratórias, e mesmo pneumonia. “Agora que estamos no inverno, era de se esperar um aumento de óbitos com estas causas, mas ainda não analisamos o caso. A impressão, mas só impressão mesmo, é que pode estar ocorrendo isso, de ter trocado para Covid, por precaução mesmo”, afirma. Por outro lado, a data em que se inicia uma maior frequência de sepultamentos dentro do protocolo de Covid coincide com o aumento de óbitos confirmados da doença pelo Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO).Entre o dia 1º deste mês e o fim da tarde desta sexta-feira (10), a SES-GO registrou, de acordo com o site do órgão, 360 óbitos, o que totaliza 835 vítimas da doença no Estado desde o começo da pandemia. Para se ter uma ideia da velocidade dos novos óbitos, em todo o mês de junho se registrou 351 mortes pela doença. A escalada se deu especialmente com o falecimento de pacientes que começaram a ter sintomas da doença na primeira semana de junho, ainda segundo a SES-GO. Foram 60 mortes de pessoas que tiveram os casos notificados na última semana de maio e, na semana seguinte, o número chegou a 112 e desde então, sempre ficou acima dos 100 óbitos semanais.Biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Alexandre Felizola Diniz Filho, que participa do grupo da instituição que realiza as modelagens com projeções da Covid-19 no Estado, acredita, no entanto, que ainda entrarão nos boletins óbitos relativos a esta última semana de maio. “Normalmente demora uns dez dias para confirmarem. Hoje, entre os primeiros sintomas e o óbito, em média, são 15 dias, mas ainda temos os trâmites burocráticos, podemos dizer que chega a 20 dias desde os sintomas.”Os pesquisadores têm avaliado o tempo de dobra do número de óbitos e, em Goiás, temos uma média de 15 dias para que isso ocorra. Se mantiver neste ritmo, nos próximos dez dias, Goiás superará 1,2 mil óbitos. SES-GO afirma não ter subnotificação de óbitosA Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), em resposta ao POPULAR, discorda “que exista subnotificação do número de óbitos no Estado”. Segundo a pasta, em uma reunião com técnicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na última semana concluiu-se que os dados de mortes por Covid-19 em Goiás são fidedignos. Os pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), que trabalham na modelagem da progressão da doença do Estado, na última nota técnica publicada pelo grupo, declarou que existe uma demora entre a ocorrência do óbito, a confirmação nas secretarias municipais e até a inserção dos dados nos boletins da SES-GO.A prova disto seria justamente um maior número de óbitos informado nos boletins municipais do que aquele publicado no informe da SES-GO de um mesmo dia. Não há uma certeza, no entanto, quanto ao período que cada município leva até repassar os dados mais atuais para o Estado.Para o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho há de se esperar pelo menos mais 20% da quantidade de óbitos anunciada atualmente. “Ainda temos casos de óbitos inseridos no boletim de pacientes com os primeiros sintomas na semana 22 (a última de maio)”, diz.A SES-GO confirma a existência de subnotificação no número de casos da doença, “pois há pessoas infectadas e que ainda não foram diagnosticadas”. “Mas de óbitos não, visto que toda morte é registrada a partir de um atestado de óbito. Muitas vezes, esse documento atesta a morte suspeita por Covid-19, mas após investigação e com o exame diagnóstico, o resultado é negativo”, informa.A nota enviada pela secretaria, explica que, “em relação ao diagnóstico, exames de óbitos e casos graves são priorizados no Lacen-GO desde o início da pandemia”. Os casos inconclusivos são avaliados por “um comitê de óbitos para análise detalhada”. A SES-GO confirma que a atualização dos casos deve ser monitorada e realizada pelas secretarias municipais de Saúde. Crescimento avassaladorNúmero de mortes cresce em ritmo aceleradoÓbitos por mêsEm março - 1 morteEm abril - 28 mortesEm maio - 95 mortesEm junho - 351 mortesEm julho - 332 mortes* Tempo até o registro76 dias - 100 mortes18 dias - 200 mortes8 dias - 300 mortes5 dias - 400 mortes5 dias - 500 mortes2 dias - 600 mortes4 dias - 700 mortes3 dias - 800 mortes Tempo de dobrade 10 a 20 - 12 diasde 20 a 40 - 14 diasde 40 a 80 - 15 diasde 80 a 160 - 14 diasde 160 a 320 - 19 diasde 320 a 640 - 13 diasde 640 a 1.280 - ? (estimado a 20 de julho)** Dias com mais registros7 de julho - 613 de julho - 571 de julho - 469 de julho e 30 de junho - 3810 de julho - 36 *Até o dia 10** Estimado em uma média de 15 dias para a dobra dos registrosFonte: Boletim epidemiológico da SES-GO