Duas escolas particulares de Goiânia decidiram, por conta própria, suspender as aulas presenciais em razão do agravamento da pandemia de Covid-19. As unidades consideram que, apesar de o decreto que resguarda a possibilidade do ensino presencial, o momento é delicado e impacta na necessidade da ação. A questão, porém, é vista de diferentes maneiras entre outras escolas.O Colégio Fractal, um dos que adotaram a medida, anunciou a suspensão das atividades presenciais por uma semana na quarta-feira (10). Ao POPULAR, o diretor administrativo Sidney Batalhione explica que a decisão foi consensual na administração e se deu após acompanhamento da situação da pandemia. “Defendíamos a reabertura, só que a partir de janeiro fomos perdendo o controle. Temos novas variantes, o sistema de saúde colapsou”, diz. Segundo o gestor, os prejuízos financeiros são acentuados. “As escolas ficaram fechadas por um ano, sentimos e estamos sentindo. O risco não está só na escola, o aluno que vai para a aula presencial precisa de transporte, de se alimentar em algum lugar. Não precisa de um decreto para decidir resguardar vidas”, defende Sidney. O colégio segue com o ensino remoto e irá avaliar a manutenção da suspensão das aulas presenciais a cada sete dias. “Não foi, em momento algum, uma decisão fácil de ser tomada. Mas é uma decisão necessária dada a situação emergencial que todo o País vive”, escreveu a Escola Cordel Encantado no anúncio da suspensão das aulas presenciais por 15 dias. “Em relação ao contágio e efeitos da doença, o momento é de caos. Preservar vidas é o nosso objetivo”, diz outro trecho.Defesa do presencialOutras escolas, porém, defendem que a possibilidade do ensino presencial deve ser mantida. A diretora do Colégio Agostiniano, Adriana Freitas, diz que o colégio tem seguido as orientações sanitárias e por isso vê como possível a continuidade das aulas. “A presença no colégio não é obrigatória, para isto a instituição investiu na plataforma remota, que permite que a mesma aula que ocorre na sala seja transmitida ao vivo para os alunos que estão em suas casas”, detalha. Segundo a instituição, “caso haja outra recomendação, vinda por meio de decreto, ou determinação judicial, o colégio acatará todas as determinações”. Na Escola Degraus, os gestores também defendem que as aulas sejam mantidas presenciais aos pais que optem pela modalidade. “Temos feito um trabalho muito sério com relação aos protocolos. Os pais estão vendo como estamos agindo e sentem segurança”, afirma Cordilina Guimarães Masson, diretora da unidade. O Colégio Externato São José também destaca que as aulas presenciais seguem funcionando com adoção de medidas rígidas de segurança. “Nossos profissionais foram e continuam sendo devidamente treinados por uma equipe técnica que orienta a todos nós sobre as questões referentes ao cumprimento dos protocolos de biossegurança”, afirma Tatiana Santana, diretora pedagógica do colégio. SindicatoEm outras escolas, a própria direção está orientando aos pais que, caso tenham os meios necessários, mantenham os filhos estudando de casa. É o que afirma o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiânia (Sepe), Flávio Roberto Castro, que diz que a entidade está dialogando com os diretores para seguirem a recomendação. O Sepe observou que as turmas que optam por seguir no ensino presencial reduziram significativamente nas últimas semanas, afirma Flávio. Segundo o presidente da entidade, comparando com o início de janeiro, as turmas presenciais reduziram pela metade. Para o representante, porém, os alunos que precisam manter as aulas presenciais devem ter a opção resguardada. Flávio diz que os diretores devem observar mais de um aspecto. “A escola está preparada? O aluno não tem comorbidade? Se não, nada impede, estamos seguindo os protocolos e orientações sanitárias”, diz. Pediatria defende ensino híbrido Para a Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), a decisão entre o ensino remoto e presencial deve ser pesada por cada família. Já no ano passado, a entidade sinalizou ser favorável à retomada das aulas presenciais. “A suspensão das aulas foi uma das estratégias adotadas para conter a transmissão do novo vírus. E ela cumpriu o seu papel”, considera um texto da entidade divulgado no fim do ano passado.Com a retomada, a SGP mantém a posição. Para a médica pediatra Mirna de Sousa, após um ano de pandemia, algumas informações já são robustas, apesar de reconhecer que as novas variantes impactam em modificações de entendimento sobre a doença. “Em todo este tempo, os dados mostram que crianças adoecem menos e morrem menos. O que não significa que não adoecem e não morrem, mas em menor número”, diz. Neste cenário, a especialista diz que outras questões devem ser observadas. “Qual a previsão de controlar a pandemia e de vacinar todas as crianças? Quais os riscos dessas crianças ficarem afastadas das escolas?”, elenca Mirna. Para a pediatra, com adultos circulando normalmente, a escola pode até mesmo ser um ambiente mais seguro, caso os espaços de ensino consigam se adequar às medidas sanitárias. Sobre a necessidade de suspender as aulas presenciais no momento em que a pandemia se acentua, a médica responde: “Para cada família a balança vai pesar para um lado. A escola está conseguindo cumprir os protocolos sanitários? Em que lugar a criança vai ficar se não estiver na escola? Se for em uma casa de babá com várias outras crianças, o risco pode ser até maior”, defende. Por fim, a pediatra afirma que o momento atual da pandemia no Estado é de preocupação e também de restrições, devendo os cuidados se estenderem no dia a dia da família. “Evitar reuniões familiares. Os riscos existem, mas não estão apenas na escola”, pontua. AcompanhamentoA Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) confirmou, até o mês de fevereiro, 45 casos de Covid-19 em alunos, professores, coordenadores e trabalhadores de escolas particulares da capital. O assunto foi tema de reportagem do POPULAR. Os números começaram a ser monitorados em dezembro do ano de 2020 e indicam, até o balanço, que não havia transmissão escolar nas 600 unidades de Goiânia que retornaram às aulas presenciais.Ao POPULAR, o superintendente de Vigilância em Saúde da SMS de Goiânia, Yves Mauro Ternes falou sobre o acompanhamento. Ele detalhou à época do balanço que entre os casos não houve registro de óbitos nem de internações. Disse também que, diferente do que se imaginava no início da pandemia, as escolas não se mostraram como um ponto de alto risco de transmissão, mas que o trabalho conjunto com as famílias é fundamental. Em entrevista para a TV Anhanguera nesta quinta-feira (11), a superintendente de Vigilância em Saúde de Goiás, Flúvia Amorim, afirmou que a manutenção das aulas presenciais pode voltar a ser pautada pelo Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE). Números entre jovens e criançasNa atualização dos dados da pandemia em Goiás na noite desta quinta-feira (11), com 427.751 infecções registradas em um ano, 41.015 são crianças e adolescentes entre zero e 19 anos de idade. São 12.265 entre zero e 10 anos; 8.824 entre 10 e 14 anos e 19.926 entre 15 e 19 anos. Somados os dados das faixas etárias, o número representa cerca de 10% do total de infectados pelo vírus no Estado. Entre os óbitos, os números confirmam a indicação de que a doença é menos letal entre os mais novos. Das 9.400 mortes registradas nos municípios goianos, 28 ocorreram em pessoas com idades entre zero e 19 anos, sendo 11 casos com crianças menores de 10 anos, seis mortes entre 10 e 14 anos de idade e outras 11 entre adolescentes com idades entre 15 e 19 anos. Para a médica pediatra Mirna de Sousa, mesmo diante das novas cepas, como a identificada em Manaus, chamada de P1, os números entre crianças não se alteraram em descompasso com as outras faixas etárias. A cepa, que pode ser três vezes mais infecciosa, como indicam estudos preliminares, seria mais infecciosa em todas as idades, explica a médica. “Tem gente que se questiona o porquê de agora terem mais crianças com a doença. O que acontece é que também tem mais adultos infectados”, considera e destaca que o entendimento pode mudar com o passar do tempo e com novos números. As novas variantes do vírus causam receio na comunidade médica, não só pela possibilidade de ser mais transmissível, como por poderem apresentar resistência às vacinas já produzidas. Dados preliminares divulgados nesta semana mostraram que as duas vacinas já aplicadas no Brasil são eficazes contra as variantes identificadas em território nacional. Tanto o Butantan, como a Fiocruz divulgaram relatórios indicando os resultados nesta semana.