Quando a Saneamento de Goiás S/A (Saneago) iniciou a fase de pré-operação do Sistema Produtor Mauro Borges, os setores Jardim Guanabara, o Aldeia do Vale, o Negrão de Lima e adjacências foram anunciados como os primeiros a receber a água captada diretamente na Barragem do João Leite. Mas uma nova paralisação na obra adiou, mais uma vez, o funcionamento de fato da Estação de Tratamento de Água (ETA). Operação prevista para junho só deve começar em agosto.O presidente da Saneago, Jalles Fontoura de Siqueira, diz que o Sistema Mauro Borges, assim como outros 155 projetos da Saneago, está parado em consequência da Operação Decantação. Apesar de não ter sido alvo de denúncia, o complexo erguido para utilizar o Reservatório João Leite, na região metropolitana da capital, teve a finalização prejudicada porque a Emsa, responsável pela obra, está entre as empreiteiras afetadas.Mas um acordo, previsto para ser fechado até o dia 30 deste mês, deve por fim ao impasse. “A empresa Emsa vai voltar agora neste mês de abril para poder concluir a Estação de Tratamento de Água (Mauro Borges)”, explicou Siqueira.Realizada pela Polícia Federal em setembro do ano passado, a Operação Decantação denunciou 35 pessoas por suposto esquema de corrupção em obras da Saneago. A investigação teve como um dos alvos a construção do Sistema Produtor Corumbá 4, no Entorno do Distrito Federal, que tem como integrante do consórcio construtor e a Emsa.De acordo com o presidente da Saneago, por conta das investigações, a empreiteira ficou impedida de finalizar a ETA Mauro Borges. O mesmo ocorreu com a companhia como um todo. “A Saneago ficou em estado de engessamento por conta da Operação Decantação. Todo o processo decisório da empresa foi prejudicado”, afirma. Quando foi deflagrada, a ação da PF prendeu o ex-presidente da companhia José Taveira e parte da diretoria.Com a denúncia, a Saneago teve o rating (classificação de risco ou nota de crédito) rebaixado, o que, segundo Siqueira, está prejudicando empréstimos para as 156 obras de abastecimento e saneamento. “O financiamento do linhão que vai ligar a água do Mauro Borges a Aparecida, um processo de R$ 178 milhões, via instituição estrangeira, estava sendo assinado. Quando a operação foi desencadeada, o banco cancelou a operação. A empresa entrou num processo de auditorias e isso segurou demais nossas obras.”AcordoMas a crise hídrica do Entorno do DF mudou os rumos da companhia. De acordo com Siqueira, um acordo mediado pelo Ministério das Cidades e acompanhado de perto pelo Ministério Público Federal (MPF) deve por fim ao impasse. A expectativa do presidente é que os termos da liberação sejam definidos até o dia 30 deste mês, com a retomada da obra logo em seguida.“A nossa sorte, entre aspas, foi a falta de água em Brasília. Gerou uma pressão enorme para desencadear esse processo de superação. Todas as instituições que participaram da Decantação foram cobradas para se fazer o acordo no lugar de uma nova licitação, o que iria demorar mais de ano.” Siqueira cita que a origem da operação foi uma identificação, por parte de Controladoria Geral da União (CGU) de sobrepreço na construção de Corumbá 4. Ele adianta que, pelo acordo, o Ministério das Cidades libera o dinheiro, que estava bloqueado; a Saneago reinicia a gestão dos contratos; as empresas concordariam ainda em fazer uma redução de preço de R$ 34 milhões para R$ 15 milhões. Se o acordo for aprovado pelo MPF, as empresas voltam a trabalhar.A reportagem tentou contato com a Emsa, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. O engenheiro da emprenteira responsável pela ETA Mauro Borges informou que não pode conceder entrevistas, por orientação da Saneago. A operação de fato do sistema seria iniciada seis meses após o período de testes (pré-operação), ou seja, em julho deste ano. A partir de então, de forma gradual, a água captada diretamente no Reservatório João Leite e tratada na ETA Mauro Borges, abasteceria todos os bairros de Goiânia e parte de Aparecida. A nova previsão, levando em consideração um cenário extremamente positivo, ficou para o mês de agosto.Apesar das chuvas abaixo do esperado no acumulado do período chuvoso, Goiânia não corre risco de ficar sem água para abastecimento, segundo a Saneago. Para enfrentar a estiagem, Siqueira destaca que a capital conta com o Reservatório do João Leite, que pode ser usado para regularizar a vazão do Ribeirão João Leite acima do ponto de captação da ETA que hoje atende quase metade da cidade.