Em meio à expectativa de renovação da frota, a Metrobus, empresa que detém a concessão para operar as linhas do Eixo Anhanguera, perdeu 28% dos ônibus adquiridos entre 2011 e 2014. A baixa da frota se dá por conta principalmente de problemas mecânicos dos veículos. Mesmo entre os 86 que rodam regularmente, as deficiências são visíveis para motoristas e passageiros, que relatam desde assentos quebrados a até incêndios causados por curto-circuito.A avaliação de um especialista e motoristas ouvidos pela reportagem é de que os veículos não são considerados antigos e os problemas vistos atualmente foram causados por má gestão das manutenções. Na última renovação da frota, 132 veículos novos foram adquiridos pela Metrobus. Em 2011 foram 86, sendo 57 articulados e 29 bi-articulados. O primeiro modelo custava, na época, R$ 840 mil e o segundo R$ 1,2 milhão. Outros 43 articulados foram comprados em 2014, a custo unitário de R$ 968 mil. Em 2015 somaram-se mais três (confira o quadro).A Metrobus diz que o estado de degradação da frota avançou nos últimos anos por conta das condições da via onde transita o Eixo Anhanguera. Como evidência sobre o apontamento, a empresa afirma que a maioria dos problemas técnicos é de suspensão, pneus e cubos de roda. A solução estaria na troca completa dos veículos e na revitalização dos 14 quilômetros de extensão do eixo. A renovação dos ônibus deve ser finalizada em 2024. Já a recuperação do asfalto não tem data estimada.Apenas nos três primeiros meses deste ano, ao menos três veículos foram filmados com partes em chamas. O motorista Roberto Carlos Camargo, que dirige os ônibus da Metrobus há 32 anos, diz que a frota atual está “arrebentada”. O servidor público avalia que os problemas foram acumulados e hoje são irreversíveis.“Dinheiro tem, a questão é que o número de veículos não permite que uma parte fique parada para receber manutenção”, aponta Camargo. Enfrentar os problemas técnicos dos ônibus, segundo o motorista, já faz parte da rotina. “Ônibus que eu dirijo nunca pegou fogo porque eu paro antes, quando o monitor mostra que está havendo superaquecimento”, conta.Em 2019, a Metrobus recebeu 1.405 autuações da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC). Na época, problemas encontrados eram, em sua maioria, relativos a danos na estrutura física. Do total de notificações, pelo menos 790 se referem a questões físicas. O número de 2021 está sendo levantado pela CMTC.PassageirosO estudante Kalleby França, de 18 anos, mora em Goianira e usa o serviço popularmente chamado “eixão” todos os dias para ir à faculdade. “A limpeza é decadente. Já vi ônibus que as barras usadas pelos passageiros que viajam de pé estão soltas”, diz. França conta já ter enfrentado duas viagens encerradas no meio do trajeto por conta de problemas mecânicos do coletivo. “Também demoram para enviar outro ônibus”, detalha o estudante.A estudante Laís Baptista, de 20 anos, mora em Bonfinópolis e também precisa utilizar o Eixo diariamente. Ela diz que consegue perceber mais itens estragados nos ônibus que outros em bom funcionamento. “Durante o período de chuva molha muito dentro dos ônibus. Algumas vezes, durante uma chuva, é impossível ir sentada”, conta.Entre as experiências negativas nas viagens com os ônibus articulados, Laís lembra de quando precisou deixar o coletivo porque as portas não estavam fechando. “Todos tiveram de descer e esperar o próximo coletivo”, relata.O motorista Camargo diz que a demanda dos passageiros está subindo nas últimas semanas. “Com o Bilhete Único, as pessoas que vendiam (vale-transporte) para comprar gasolina para ir ao trabalho de carro ou de moto tiveram de voltar todas para os ônibus. Para o passageiro é terrível. Estamos trabalhando no sufoco”, considera.Apesar de o diagnóstico da própria Metrobus indicar a renovação da frota, a média de idade dos ônibus não alcança a idade útil esperada para os veículos. É o que explica o professor do Instituto Federal de Goiás (IFG) e engenheiro de trânsito Marcos Rothen, que tem experiência de 20 anos com transporte.O especialista afirma que ônibus com as características dos do Eixo Anhanguera podem ter vida útil de até 15 anos. “Desde que seja feita a manutenção preventiva dos veículos. Se você não fizer manutenção em um veículo, principalmente nesses ônibus que rodam muito, em um ano ele já não roda com segurança”, avalia Rothen.Para o engenheiro, está longe de ser normal a recorrência de ônibus que pegam fogo. “É raríssimo. Isso é fio com mau-contato, por falta de manutenção. Não é normal você ter esta quantidade de ônibus com problemas como a gente vê no noticiário”, considera o especialista. Companhia diz que solução é trocar veículosA Metrobus afirma que a solução já está em curso, destacando que lançou edital para contratação de 114 ônibus elétricos via locação. Por mês, a empresa está prevendo pagar R$ 69.594,84 por ônibus, o que vai gerar um custo global do contrato, ao longo de 16 anos, de R$ 1.460.726.096,76.As propostas serão abertas no próximo 4 de maio e a estimativa é que as primeiras unidades comecem a rodar em setembro deste ano, chegando a um total de 15 veículos até o fim deste ano. De acordo com o edital de licitação, a frota de 114 ônibus estará completa em 2024. Serão os primeiros veículos que não utilizam o diesel como combustível a operar no sistema metropolitano.A Metrobus e os motoristas apontam que a condição do asfalto ao longo dos 14 km de extensão tem relação direta com o agravamento dos problemas dos ônibus. A questão foi alvo de disputa sobre responsabilidade, mas diante de um acordo, a revitalização será feita pela Prefeitura de Goiânia, em data ainda não informada.O Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Goiânia e Região Metropolitana (Sindicoletivo) avalia que a demanda pela reforma do asfalto é emergencial. Para os motoristas, há o risco inclusive de que as deficiências estruturais afetem a nova frota.A Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) diz que nesta semana, em reunião com a CMTC e a Metrobus, foram acertados os detalhes sobre como deve ser a manutenção do asfalto do Eixo Anhanguera de agora em diante. Estão a cargo da Seinfra os cuidados constantes com as pistas do Eixo, a correção de bases do pavimento em pontos críticos e o recapeamento em áreas específicas.“Está em estudo um projeto de reestruturação completa de ambas as pistas, adotando-se as correções pontuais de bases, bem como o recapeamento completo, inclusive para a instalação do novo sistema de transporte que será indicado pelo governo do Estado”, afirma a Seinfra em nota.