Centenas de estudantes se reuniram na Praça Universitária, em Goiânia, neste domingo (26), para celebrar o resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025. Em Goiás, foram ofertadas 7,2 mil vagas em cursos de graduação de instituições públicas de ensino superior. Puderam concorrer aqueles que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 e que não obtiveram zero na prova de redação.

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As estudantes Ana Clara Coelho, de 18 anos, Yasmin Yanni, também de 18, Thaís Verônica Beltrão e Sophia de Oliveira Bastos, ambas de 17, estudam juntas desde o ensino fundamental. Neste domingo, se reuniram na praça para comemorar a aprovação de todas as quatro em diferentes cursos. “Unidas desde sempre”, comenta Ana Clara, que foi aprovada em Moda na Universidade Estadual de Goiás (UEG), sobre a amizade com as amigas que vão cursar Medicina Veterinária, Engenharia Química e Administração na Universidade Federal de Goiás (UFG).

O estudante Marco Antônio de Abreu, de 21 anos, teve de tentar mais de uma vez para conseguir a tão desejada aprovação em Fisioterapia na UFG. A primeira tentativa de entrar no curso ocorreu em 2024, sem êxito. Mesmo assim, ele não desistiu. Ao longo do ano passado, Marco Antônio se dividiu entre o trabalho e os estudos para conseguir fazer o Enem. Neste domingo, veio a boa notícia: a vaga conquistada. “Uma rotina difícil. Estudava de manhã e trabalhava das 13 às 22. Valeu a pena. Estou ansioso para as aulas começarem”, comemora.

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Veteranos também estavam na praça. Presidente da Associação Atlética Acadêmica Maria do Rosário Gondim Peixoto (AAAMRGP) – a atlética do curso de Nutrição da UFG, mais conhecida como Faminta –, Mateus Melo, de 24 anos, esclarece que o intuito da recepção dos calouros é acolher os colegas recém-chegados. “Entram no curso muito perdidos. A realidade da universidade é muito diferente da realidade da escola. Queremos que eles se sintam incluídos”, detalha.&nbsp;&nbsp;

Como de costume, o site do Sisu apresentou instabilidade no dia de divulgação do resultado. Além de ter virado motivo de meme nas redes sociais, a dificuldade de acessar a plataforma fez com que os estudantes chegassem aos poucos na Praça Universitária. A situação causou ansiedade na estudante Mariane Serafim, de 18 anos, que vai cursar Letras, com habilitação em tradução e interpretação de Libras, na UFG. “Estava travando e eu fiquei agoniada”, lembra. Questionado sobre a instabilidade no site do Sisu, o Ministério da Educação (MEC) não enviou resposta até o fechamento desta edição.

Prazos

Os classificados na chamada regular do Sisu poderão realizar a matrícula na instituição em que foram aprovados até 31 de janeiro. Aqueles que não foram selecionados poderão manifestar interesse em participar da lista de espera no período de 26 a 31 de janeiro. A convocação dos selecionados pela lista de espera depende de cada instituição, podendo acontecer entre 12 de fevereiro e 30 de setembro deste ano.

Ao todo, o Sisu ofertou 261,7 mil vagas para 6,8 mil cursos de graduação em 124 instituições públicas de ensino superior de todas as regiões do país.&nbsp; Os estudantes podiam escolher até duas opções de curso, mas era necessário dar prioridade a uma. O resultado depende da nota de corte calculada na própria ferramenta.

Estudantes vão às ruas de Goiânia para comemorar resultado no Sisu

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Matéria - Cidades

Ensino superior 

A taxa de desistência nos cursos presenciais das redes pública e privada de ensino superior chega a <a href="https://opopular.com.br/cidades/em-seis-anos-ueg-perdeu-48-cursos-e-5-campus-1.3238775" target="_blank">57% em Goiás</a>. O percentual é puxado especialmente pelas instituições privadas, mas a realidade nas universidades públicas se mantém: metade não concluiu o curso iniciado. Por outro lado, a taxa de <a href="https://opopular.com.br/cidades/goias-quadruplicou-indice-de-graduados-em-2-decadas-diz-ibge-1.3235503" target="_blank">permanência e conclusão</a> em ambas as redes de ensino tem se mantido em 18,6% e 24,3%, respectivamente. Os dados fazem parte do 15ª Mapa do Ensino Superior, divulgado nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Semesp.

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O levantamento que tem como base os Censos da Educação Superior, produzidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que, apesar de existir um aumento no número de pessoas com mais de 25 anos com ensino superior, há um alto percentual de estudantes que desistem da etapa. E o número tem crescido nos últimos anos.

Na divulgação feita pelo Instituto Semesp em 2023, as taxas de desistência e conclusão permaneceram em 54,4% e 25,9%, respectivamente. Os percentuais se mantiveram semelhantes na edição do ano passado, com leve queda: 54% e 25,3%. Contudo, neste ano, houve tanto aumento no indicador referente à evasão no ensino superior, como queda em relação aos concluintes. Já a rede pública mantinha um índice de 46,4% e 47,4% nos últimos dois anos, crescendo três pontos percentuais no estudo de 2025.

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As taxas de desistência e conclusão acumuladas se referem aos percentuais de ingressantes que desistiram ou concluíram determinado curso até o ano de referência da realização do Censo da Educação Superior, do Inep. Dessa forma, considera os alunos que evadiram, seja por desistência, por transferência ou falecimento, ou aqueles que finalizaram o curso naquele mesmo ano. Já a taxa de permanência se refere aos estudantes que têm vínculo ativo.

Apesar de a evasão se manter em mais da metade dos ingressantes, o POPULAR mostrou no último dia que o total de concluintes no ensino superior com 25 anos ou mais quadruplicou em duas décadas em Goiás. Em 2000, o percentual era de 4,8%, passando para 18% em 2022, conforme dados dos censos demográficos dos respectivos anos. Ao mesmo tempo, reduziram-se as taxas da população na mesma faixa etária sem instrução, ou somente com ensino fundamental e médio.

Professor doutor da Faculdade de Educação da Universidade Federal em Goiás (FE/UFG), João Ferreira vê com preocupação o aumento contínuo dos índices de desistência, bem como a queda na taxa de conclusão. Conforme ele, os indicadores de trajetória não têm sido afetados apenas pelo papel das instituições de ensino, mas por um conjunto de fatores, como mudanças no mundo do mercado de trabalho, a flexibilização na criação de cursos e a mudança na forma como os jovens têm olhado para o ensino superior.

“São porcentuais altos, agora precisa entender o que aconteceu nos últimos anos. Teve uma flexibilização na criação de cursos e credenciamento de instituições. Hoje praticamente não tem visitas in loco, não tem fiscalização presencial, isso acabou praticamente. Como vai aferir qualidade com um sistema tão flexível? A baixa qualidade também é fator de desistência. Se percebem que o curso não agrega valor para a formação, dá diploma, mas não dá perspectiva de qualidade, o curso feito de qualquer jeito, isso tudo pesa para a pessoa desistir de algo ou não”, pondera.

Além disso, Ferreira cita que a falta de perspectiva em relação ao emprego também tem contribuído. “O cenário de mercado de trabalho, não é mais como era nos anos 70, onde se fazia curso e isso possibilitava emprego, estabilidade. Então a pessoa precisa entender que o curso escolhido vai agregar perspectiva de uma mobilidade social, de melhor salário”. E há, ainda, os efeitos da pandemia da Covid-19 na educação. “Durante esse período, por exemplo, havia falta de recursos para estudar e trabalhar, falta de emprego, complementa.

Para o docente, nas instituições públicas, os programas de assistência estudantil contribuem para a permanência dos estudantes, como auxílios para moradia, alimentação e bolsas de pesquisa. “Várias universidades estão implantando programas. O Tribunal de Contas da União (TCU) tem acompanhado as taxas e cobrado maior eficiência. Então, é um fator preocupante que a gente tem acompanhado. Mas o problema não é só da instituição formadora. Todos os fatores apontam para a piora dos indicadores. Se não for enfrentado por ações do governo, professores, melhoria do mercado do trabalho, não vai resolver. Não é só um que resolve. Se os jovens estão mais animados, tem mais esforço, mais investimento na formação”, acrescenta.

Outro ponto mencionado por Ferreira é que há variações nas taxas de desistência conforme os cursos, além de particularidades próprias nas redes pública e privada. Os dados do Mapa do Ensino Superior mostrou que, em Goiás, entre os cursos mais procurados na rede pública, estão Medicina, Agronomia e Direito. Este último é também o mais buscado na rede privada, seguido por Psicologia e Enfermagem. Os da primeira lista representam 26,5% do total de matrículas na rede pública. Já na rede privada, os três dessa relação equivalem a 40,3% dos estudantes ativos.

<h2>Brasil</h2>

As variações nos indicadores por curso são ressaltadas pelo estudo. Em nível nacional, Medicina tem 19,2% de evasão, considerando ambas as redes. Já as Engenharias, Direito e Pedagogia alcançam 57,1%, 55% e 47,7%, respectivamente. Para o docente, isso ocorre porque o mercado não consegue absorver todos os formandos de cursos mais buscados. E a questão é ainda mais grave para cursos de educação a distância (EaD).

Enquanto no Brasil a taxa de desistência chega a 54,2% em cursos presenciais, em ambas as redes de ensino 63,7% dos estudantes da EaD abandonam a etapa antes da conclusão do curso. Por outro lado, também mantém uma taxa de conclusão maior do que no ensino presencial: 25,9% e 25,2%, respectivamente. Vale lembrar que a modalidade tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos. Para ter ideia, do total de matrículas em Goiás, 44,6% eram em EaD. No País, 49,3%.

Conforme o diretor executivo e assessor para Assuntos Econômicos do Semesp, Rodrigo Capelato, a evasão do ensino superior tem sido um problema mundial. “Se olhar para os Estados Unidos hoje, a taxa é próxima de 50%. Nos países da América Latina é alta, e mesmo nos países desenvolvidos.”

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Taxa de desistência no ensino superior chega a 57% em Goiás

Levantamento

A amostra sobre educação do Censo 2022, divulgada nesta quarta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem boas notícias para Goiás em relação ao ensino superior, mas indica que há distorções que precisam ser corrigidas. A proporção de moradores com ensino superior cresceu 3,7 vezes em 22 anos, um avanço superior à média nacional, que foi de 2,7 vezes. Goiás agora tem uma fatia da população formada por graduados (18%) bem próxima à brasileira (18,4%). Uma realidade bem diferente à verificada no Censo de 2000 (4,8% e 6,8%, respectivamente). O crescimento decorre da maior oferta de vagas públicas e privadas paralelamente à abertura de portas de acesso a elas. A política de cotas e programas como o Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) contribuíram para que parcelas antes excluídas pudessem ingressar nas universidades. Contudo, apesar dos avanços, o funil segue mais estreito para parcelas da população. Pretos e pardos, por exemplos, são sub-representados nos espaços acadêmicos. Em Medicina, isso é ainda mais evidente.O passo adiante deve ser superar essas barreiras.

Avanço no ensino superior

Editorial

Matéria - Opinião - Editorial

Pouca gente sabe que atrás do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás, na Praça Universitária, ao lado de laboratórios de farmácia e musicoterapia da instituição, há um espaço de 225 metros quadrados que leva o nome de um dos principais nomes da história do teatro em Goiás. A Sala Cici Pinheiro foi criada para ser um local de ensino dos cursos da Escola de Música e Artes Cênicas (Emac), abrigando aulas e projetos das graduações de Teatro e Direção de Arte, por exemplo. Sua estrutura foi construída como se designa no meio teatral de “caixa preta”, um ambiente com paredes negras onde é possível inserir toda sorte de cenários para espetáculos e ensaios, tornando-se versátil. O lugar, porém, não ganha reformas há quase 20 anos e não está sendo utilizado como deveria.

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Essa realidade pode mudar. Bem localizado, próximo a muitos outros equipamentos culturais e encravado no coração das duas principais universidades do Estado – UFG e PUC Goiás –, o espaço agora conta com um projeto que busca revitalizá-lo. O Conselho da UFG aprovou recentemente a mudança do nome da unidade para Teatro Cici Pinheiro, prevendo uma ampla reforma que inclui não só a adaptação da área, mas a qualificação da construção com sistemas de som, iluminação, acústica e refrigeração necessários para sua nova fase. Na terça-feira (11), em uma audiência na Reitoria da UFG, acompanhada pela reportagem do POPULAR, houve o compromisso firmado com os familiares da homenageada de que a abertura do Teatro Cici Pinheiro será uma prioridade.

“Quando Cici Pinheiro morreu, houve esse vácuo no meio teatral em Goiás. Muito do que ela simbolizou morreu junto. A abertura desse espaço é também um resgate da memória de nossa cultura”, afirmou Antenor Pinheiro, sobrinho e filho de criação da dramaturga, atriz, diretora e empresária do teatro, que foi pioneira em tantas áreas. Ao lado dele estavam seus irmãos, Onofre Pinheiro e Maria José Pinheiro, que levaram álbuns de fotografias e recortes de jornais, de Goiás e de São Paulo, para referendar a importância e o prestígio que Cici teve na cena teatral brasileira. “É um resgate da história e essa gestão tem procurado qualificar esses espaços importantes que a UFG tem”, disse a reitora da instituição, Angelita Lima, que afirmou haver “empenho e prioridade” quanto ao projeto.

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Reitora Angelita Lima com familiares de Cici e professores da UFG: projeto em discussão (Divulgação)

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O entrave maior, como quase sempre acontece, está relacionado aos custos da obra. “Já temos o projeto, mas ainda não orçamos o quanto as obras vão custar. Esse é o próximo passo. Mas sempre digo que projeto puxa dinheiro e não o contrário. Agora vamos dar prosseguimento a essa questão”, prometeu a reitora. Ela mencionou que no Câmpus Colemar Natal e Silva – que abrange as unidades localizadas na Praça Universitária – já foram requalificados alguns espaços, como o Salão Nobre da Faculdade de Direito, curso que foi uma das sementes da universidade. “Agora conseguimos recursos para obras nos auditórios das Faculdades de Educação e Direito, os dois maiores que temos ali e que estão fechados há seis anos. Portanto, vamos procurar meios para criar o Teatro Cici Pinheiro.”

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O vice-reitor da UFG, Jesiel Freitas, também presente na audiência com a família de Cici Pinheiro, anunciou que há a previsão de uma série de obras emergenciais em toda a UFG para manutenção dos prédios da instituição. Segundo ele, haveria uma opção entre fazer as intervenções mais imediatas na Sala Cici Pinheiro, para que ela voltasse a ter uso, ou apostar na obra maior, que custaria mais caro e para a qual ainda não há recursos empenhados. Alexandre Silva Nunes, professor de Direção de Arte e Teatro da UFG, que também participou da reunião, defendeu que a melhor opção seria a intervenção mais extensa. “Em 2006, houve uma pintura artesanal das paredes para transformar o espaço numa caixa preta, mas não houve manutenção. É melhor fazer um teatro mesmo.”

Pelo projeto já aprovado, o local teria versatilidade para abrigar diferentes formatos de espetáculos. “Podemos montar peças à italiana, fazer teatro de arena. Não se trata de uma planta rígida. A depender da montagem, poderia abrigar um público entre 100 e 200 pessoas”, explica o professor Alexandre. “Precisaríamos fazer um nivelamento no piso, pois há um degrau que foi criado como um pequeno palco. A estrutura física, o prédio em si, é muito bom e comporta todas essas intervenções tranquilamente.” O docente prefere, no entanto, não estimar um preço para essa requalificação. O POPULAR teve acesso ao projeto, que prevê obras em todo o prédio, incluindo o Laboratório de Musicoterapia. “De qualquer forma, nos interessa muito requalificar aquele espaço”, garante Angelita Lima.

A gestora, entretanto, previne que o cobertor é curto em relação a recursos. “A UFG tem 370 mil metros quadrados de área construída somando todas as suas unidades. Se fôssemos reformar toda essa estrutura, precisaríamos de R$ 200 milhões”, calcula. “Mas acho que o projeto do Teatro Cici Pinheiro tem capacidade de captação de recursos, tem potencial de adesão para parcerias. Sua criação fortalece o campo das artes, a produção de conhecimento nessa área, que é algo tão importante. Temos de ver as artes como um campo específico de conhecimento e não diluí-la em uma ideia geral de cultura”, acrescenta. “Cici não gostava de homenagens, mas nesse caso é diferente porque a obra dela pertence a toda a população de Goiás”, pondera Antenor Pinheiro.

Pesquisadora de História do Teatro e que tem trabalhos que investigam sobre o legado de Cici Pinheiro, a professora dos cursos de Teatro e Direção de Arte da UFG Walquíria Pereira Batista, que também foi à audiência na Reitoria, salientou que a construção do teatro tem benefícios práticos e simbólicos. “Ele fica em um local onde há muitos outros espaços ligados à cultura, como o Basileu França, o Centro Cultural da UFG, a Biblioteca Marieta Telles Machado, o Museu Antropológico, além de unidades da PUC Goiás com o mesmo perfil. Ele também ajudaria nas atividades de extensão”, aponta. “No passado, aquela sala já foi ocupada por apresentações de grupos teatrais, por ateliês. Eu me lembro de ter aula de linguagem teatral ali. O teatro também será uma memória do curso.”

Outro ponto destacado pela pesquisadora é o resgate do papel da mulher na história do teatro em Goiás. “Quando falamos dos grandes expoentes, geralmente vêm à mente nomes de homens. As mulheres não são lembradas. Por isso é tão importante sublinhar o papel de Cici Pinheiro no teatro feito em Goiás. Ela foi de uma grande ousadia ainda nos anos 1950 e esse protagonismo feminino será melhor lembrado com o teatro que leva seu nome”, defende. “Não há um lugar mais seguro e apropriado do que o espaço institucional de ensino para resguardar essa memória porque ele não está vulnerável à mudança dos humores políticos”, concorda Antenor Pinheiro. “Nossa família está muito feliz com a decisão da UFG em abrigar o Teatro Cici Pinheiro”, completa.

<h2>História de ousadia e prestígio</h2>

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&nbsp;(Divulgação)

Uma mulher à frente de seu tempo pode parecer clichê, mas é complicado encontrar uma definição mais certeira para a carreira de Cici Pinheiro. Ela foi uma desbravadora em muitos sentidos, derrubando o machismo num tempo em que mulher não mandava, arriscando-se em projetos que pareciam impossíveis de realizar, mantendo o sonho de um teatro que alcançasse todos e não apenas as elites e até combatendo preconceitos contra portadores do vírus HIV numa época na qual quem tinha a doença era escorraçado. Tudo isso jogando em várias posições, porque Cici era a pessoa que corria atrás de recursos para montar textos que, muitas vezes, ela própria redigia, cuidando ainda da direção, sem deixar que seu talento cênico, em cima do palco como atriz, fosse esquecido. Múltipla e versátil.

“Ela saiu de Orizona, nos anos 1950, junto com sua irmã Mimi, para ser atriz. Aquilo era impensável na época. Era um tempo em que atriz era considerada puta, infelizmente. Havia um preconceito terrível”, enfatiza seu sobrinho-filho Antenor Pinheiro, como ele mesmo gosta de se definir, uma vez que a tia ajudou a criá-lo. “Logo depois, ela foi para São Paulo, para poder continuar se desenvolvendo na sua profissão. Chegando lá, seu talento foi reconhecido. Cici passou em primeiro lugar em uma audição para o Teatro Brasileiro de Comédia, o lendário TBC, tendo na banca ninguém menos que Cacilda Becker, Zbigniew Ziembinski e Flávio Rangel, nomes históricos de nosso teatro.” E a carreira deslanchou, com Cici participando de grandes momentos da dramaturgia e teledramaturgia brasileiras.

Em 1952, ela chegou a participar do elenco do Teleteatro TV Tupi, quando grandes textos eram encenados ao vivo na nascente televisão brasileira. Por aquelas montagens passaram nomes como Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Sérgio Brito, entre tantos, criando a gênese da telenovela brasileira, juntamente com o rádio. Cici, ainda em São Paulo, dividiu o palco com gigantes como Walmor Chagas e foi dirigida por Augusto Boal, participando ainda da primeira montagem de O Auto da Compadecida, fazendo o papel da mulher do padeiro. Pela performance, recebeu uma visita no camarim e um elogio efusivo do autor da peça, Ariano Suassuna. Essas participações criaram vínculos de amizade com a nata do teatro brasileiro, que jamais deixou de visitá-la quando ela retornou para Goiânia.

“Eles queriam criar um circuito teatral de alto nível fora do eixo Rio-São Paulo e contavam com Cici para estabelecer essa ponte em Goiás. Mas, chegando aqui, ela não recebeu apoio. Isso a decepcionou. Ela chegou a dizer, em uma frase famosa, que as culturas que prosperavam no Estado eram a do boi e da soja”, recorda Antenor. “Mas ainda assim ela fez muita coisa importante aqui.” A primeira telenovela ao vivo, produzida e exibida em Goiás, tinha a assinatura de Cici. Em 1965, ia ao ar pela TV Anhanguera a produção Família Brodie. “Aquilo parava a cidade. Na Rua 8, eles fizeram uma cena de chuva com o Corpo de Bombeiros jogando a água. Tudo ao vivo. Era muita ousadia”, espanta-se Antenor. Aquela verdadeira aventura durou três meses, mas até hoje, 60 anos depois, é lembrada.

Outro projeto pioneiro foi no campo do cinema. Foi ela quem buscou produzir o filme O Ermitão de Muquém, mas daquela vez a iniciativa não vingou. “A obra ficou inacabada”, lamenta Antenor, que também lembra que sua tia-mãe atuou como autora e produtora de radionovelas, que podiam ser ouvidas pela Rádio Brasil Central. O teatro, porém, nunca deixou de ser sua grande paixão. “Ela foi diferenciada porque era uma empresária do teatro, algo totalmente incomum”, pontua a pesquisadora do teatro em Goiás Walquíria Pereira Batista, professora da área na UFG. “Ela comandava todo o processo, porque também escrevia e dirigia e sabemos que era uma atriz muito potente.”

Essa forma ampla de trabalhar acarretou ônus para Cici. O derradeiro espetáculo que produziu foi Gimba, o Presidente dos Valentes, um texto de Gianfrancesco Guarnieri – um dos amigos fraternos que fez nos palcos –, que ficou em cartaz apenas nove dias no Teatro Goiânia. O ano era 1989 e, depois daquela experiência, ela não esteve mais à frente de nenhum projeto. Cici morreu em 2002, mas sua figura sempre é lembrada, ao lado de nomes como João Bênio e Otavinho Arantes, entre outros, como fundamental para contar a história da dramaturgia no Estado. Infelizmente, essa posição não lhe confere um conhecimento mais amplo de sua trajetória. Só há um livro que trata da carreira dela com mais profundidade: o primeiro volume de Memória do Teatro Goiano, de Hugo Zorzetti.

“A cena teatral de fora nunca se esqueceu de Cici”, observa Antenor Pinheiro, que chegou a estar nos palcos interpretando Pluft, o Fantasminha, em uma montagem realizada por sua tia-mãe. “Quando esses grandes artistas vinham a Goiânia, faziam questão de visitá-la. Lá em casa estiveram Dina Sfat, Paulo José, Armando Bógus, Rolando Boldrin, Chico Anysio. Ela também ajudou a lançar artistas descobertos aqui e que depois fizeram muito sucesso, como Stepan Nercessian, Françoise Forton, Thelma Reston”, rememora. Apenas uma vez um teatro de bolso ganhou o nome de Cici Pinheiro em Goiânia, na gestão do ex-prefeito Pedro Wilson. Agora os familiares têm a expectativa de que a UFG consiga viabilizar a instalação do espaço em homenagem a alguém que tanto fez pelo teatro.

<h3>Projeto de documentário</h3>

A família de Cici Pinheiro também começa a colocar no papel um outro projeto envolvendo a história da dramaturga, diretora e atriz: um documentário abordando sua trajetória de vida e seu legado artístico. “Nós temos muito material e queremos fazer algo mais moderno, que alcance as novas gerações, que dialogue um pouco com essa linguagem da internet. Nossa intenção é que a vida e a obra de Cici Pinheiro chegue até os mais jovens, que infelizmente desconhecem, em sua maioria, seu legado”, afirma Antenor Pinheiro. No momento, essa ideia ainda é incipiente, mas a intenção é submeter o projeto no edital da Lei Goyazes, do governo estadual, para levantar recursos.

O acervo da família é bastante amplo, com muitas imagens antigas de Cici Pinheiro em cena ou de suas entrevistas a respeito de seus trabalhos. Há fotos, por exemplo, da participação dela em uma montagem de Quarto de Desejo, baseada no livro de Carolina Maria de Jesus, e também no palco com nomes como Ruth de Souza e Célia Biar, por exemplo. São lembranças que poucas pessoas, por enquanto, conhecem, mas que contam uma parte importante não só de uma personalidade da cultura de Goiás, mas de uma artista que foi pioneira. “Nossa pretensão é lançar o documentário exatamente na inauguração do Teatro Cici Pinheiro. Quem sabe conseguimos realizar este sonho”, anima-se Antenor.

Com total apoio da família, UFG aprova a instalação do Teatro Cici Pinheiro na Praça Universitária

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Um palco para Cici Pinheiro

Dentre os dez cursos de graduação mais concorridos da Universidade Federal de Goiás (UFG) no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) em 2025, sete pertencem à área da saúde. O curso de Psicologia lidera a lista pelo segundo ano consecutivo, com 191 candidatos por vaga, seguido por Fisioterapia e Medicina, que, apesar de ter o maior número de inscrições na universidade, registra uma disputa de 137 candidatos por vaga, já que oferta mais do que o triplo em comparação com os dois primeiros colocados.

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Além dos três primeiros cursos, que pertencem à área da saúde, a lista dos dez cursos com a maior relação de candidatos por vaga inclui também os cursos de Biomedicina (118 por vaga), Enfermagem (88), Odontologia (84) e Nutrição (70). No meio da lista, contudo, há ainda o tradicional curso de Direito – com duas posições, divididas para a oferta nos períodos matutino e noturno, sendo 107 e 98 candidatos por vaga disponibilizada, respectivamente –, além de Engenharia de Software (81).

Nos últimos dois anos, o quadro de graduações que aparecem dentre as mais disputadas não sofreu grandes alterações. A única mudança foi a saída de Medicina Veterinária, presente em 2023 e 2024, com sua substituição por Nutrição em 2025. Entretanto, houve reposicionamentos: Biomedicina, antes na 5ª colocação, ultrapassou Direito e assumiu a 4ª posição. Medicina, que já foi o curso mais concorrido, cedeu o topo para Psicologia, e Fisioterapia que estava em terceira subiu para a segunda colocação (veja mais no quadro ao lado).

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Pró-reitor de Graduação da UFG, Israel Trindade explica que não é sempre que o curso mais disputado terá a maior nota de corte. Isso ocorre porque a concorrência é calculada pela divisão entre o total de inscrições no curso, incluindo ampla concorrência e disputa pela lei de cotas, e o número de vagas ofertadas. Já a nota de corte é a pontuação do último candidato que entrou por meio de ampla concorrência, ou seja, a nota mínima para o ingresso. No entanto, ele cita que quando os cursos têm grande competição, as notas também não devem ficar tão baixas. Neste ano, dos dez cursos com as maiores notas de corte, cinco estão entre aqueles que possuem as maiores relações de candidatos por vaga ofertada: Engenharia de Software, Medicina, Direito (matutino e noturno) e Psicologia.

“Inteligência Artificial (IA) teve o ponto de <a href="https://opopular.com.br/cidades/graduac-o-em-ia-supera-medicina-pela-1-vez-na-ufg-1.3224999" target="_blank">corte mais alto</a> neste ano, então as pessoas acabam achando que teve mais concorrência. Mas, quando se joga o número de inscrições por vaga ofertada, não é o mais disputado: ficou em 31ª posição”, explica. Enquanto a maioria dos cursos mais concorridos é da área da saúde, as maiores notas de corte estão justamente nas graduações voltadas à tecnologia da informação. No fim de janeiro, o POPULAR já havia mostrado que o curso de IA superou pela primeira vez a pontuação mínima para ingressar no curso de Medicina. Este, por sua vez, ficou na 3ª posição, logo após Engenharia de Software (2ª) e seguido por Ciência da Computação (4ª).

“Embora surjam cursos novos, os tradicionais, em especial da saúde, seguem sendo os mais buscados”, reflete Israel. Conforme ele, isso ocorre porque tanto como cursos na universidade quanto como profissões são “mais consolidados”, além de haver mais oportunidades de emprego. “De certa forma, é um atrativo. O estudante quando vai escolher o curso é influenciado por uma série de fatores. Pode ser por uma influência familiar, mas também pela paixão dele mesmo, assim como pelo mercado de trabalho. Então ele quer saber se tem um bom salário, boas condições de trabalho, de empregabilidade. E o mercado de Medicina e Fisioterapia, por exemplo, sobretudo depois da pandemia de Covid-19, se firmou bastante”, acrescenta.

<h2>Surpresa</h2>

Para ele, contudo, é uma “surpresa” Medicina ter ido para o terceiro curso mais concorrido, mesmo tendo 15.081 inscrições registradas no Sisu, mais do que o dobro do segundo colocado – Biomedicina, com 7.091. “Sempre está entre os mais procurados. E, como tem uma demanda consolidada, sempre se espera que ocupe o topo da maior nota de corte e da relação de candidatos por vaga. É uma surpresa neste ano, mas isso não tira em nada o mérito do curso, que é um dos pioneiros da UFG”, complementa. Para ter ideia, em nível nacional o curso de Biomedicina também foi o mais concorrido neste ano. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi registrada uma relação de 261,33 candidatos por vaga. Contudo, foram apenas seis vagas abertas ao todo, para 1.568 estudantes. Por outro lado, logo em seguida aparece o curso de Medicina.

Israel Trindade explica ainda que há diferenças entre a quantidade de inscrições e inscritos, já que um único estudante (inscrito) pode se inscrever em mais de uma opção. Por isso, o total é maior do que o registrado nos anos anteriores, a exemplo de Medicina, que em 2024 teve pouco mais de 6 mil candidatos. E, como nos dois anos anteriores o quantitativo era de inscritos e não de inscrições, a reportagem elencou apenas a lista dos dez mais concorridos, sem demonstrar qual a relação de cada curso. O quantitativo de vagas, por outro lado, segue uma tendência. Mas mesmo com uma metodologia diferente, vale lembrar que os cursos se apresentam em uma dinâmica semelhante. “É bem parecido. O topo fica oscilando entre Medicina, Fisioterapia e Psicologia”, define.

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