A taxa de resultados positivos nos testes feitos por meio do aplicativo Dados do Bem, uma iniciativa do governo estadual para fazer um mapeamento epidemiológico do coronavírus (Sars-CoV-2), chegou a 36% em Goiás desta segunda-feira (10). De acordo com a plataforma on-line da ferramenta digital, dos 464 testes realizados, 165 deram positivo. Fazem exames por meio do aplicativo as pessoas que preenchem um cadastro sobre histórico de sintomas e contato com contaminados. O material é processado na Fiocruz.No Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO), que recebe material de casos graves que procuram as unidades de saúde, os resultados positivos têm girado em torno de 50% nas últimas três semanas epidemiológicas.Na última semana, durante uma reunião do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para o Novo Coronavírus (COE), foram apresentados dados sobre o Dados do Bem que mostraram que até o dia 5 deste mês, das 290 amostras coletadas, 151 deram positivo (52%). Já no Lacen-GO, na 31ª semana epidemiológica, entre os dias 26 de julho e 1º de agosto, a taxa de resultados positivos processados na instituição ficou em 49%. Na 29ª semana, o índice chegou a 51%.A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, afirma que os números representam que o risco de contaminação no Estado ainda é alto. “Trabalhamos muito com tendências e vemos que está tendo um crescimento nestes números do Lacen-GO, por exemplo. Isso mostra que ainda temos uma alta taxa de transmissão do coronavírus em Goiás”, frisa. Segundo ela, o número também aponta a necessidade de se fazer mais testes. “Que precisamos testar mais é um fato indiscutível”, enfatiza Flúvia.A gerente esclarece ainda que os números não apontam necessariamente para uma alta taxa de subnotificação no Estado, mas que levantam possibilidades mais palpáveis sobre os casos suspeitos. De acordo com o boletim epidemiológico desta segunda-feira (10), divulgado pela SES-GO, o número de casos confirmados em Goiás era de 87.200 e 147.518 registros suspeitos. “Ainda é preciso fazer alguns cálculos precisos e estamos trabalhando nisso. Mas, baseado neste número que temos no Lacen-GO, podemos ver que o número de casos confirmados entre os suspeitos deve ser alto”, pontua.O epidemiologista, professor do Departamento de Saúde Coletiva da UFG e membro do COE, João Bosco Siqueira, explica que esta porcentagem de casos positivos também tem de ser vista por este espectro. “Em meio à uma pandemia é bem provável que se você tem os sintomas da doença, esteja com ela. Por isso, apesar de alto, este número tem de ser interpretado dentro da realidade dele. Esta porcentagem significaria outra coisa caso fosse apresentada em pessoas assintomáticas”, explica.GoiâniaJoão Bosco esclarece que a mesma lógica se aplica, por exemplo, aos resultado da primeira testagem em massa que ocorreu em Goiânia nos dias 5, 6 e 7 deste mês, na Escola Municipal Pedro Costa, no Jardim Guanabara. O público-alvo eram pessoas que tiveram contato com casos confirmados ou suspeitos da Covid-19.Os exames começaram na última quarta-feira (5), quando 1.277 pessoas foram testadas e 161 tiveram resultado positivo para a Covid-19 (12,61%). No dia seguinte, foram 1.358 testes, com 200 confirmações, 14,73% do total. Na sexta-feira (7), a procura foi ainda maior com 1.897 registros e 281 positivos (14,81%). Os três dias então somaram 4.532 pessoas, 642 confirmadas e uma prevalência de 14,17%.Entretanto, a testagem sofreu com alguns empecilhos como a procura de pessoas sintomáticas pelo serviço e também de moradores de outras regiões da capital e até de outras cidades como Anápolis e Aparecida de Goiânia. “Estes 14% seriam um número alto e que nos indicaria muita coisa sobre o quanto a doença está circulando se todas as pessoas testadas fossem realmente assintomáticas, moradoras da região e tivessem tido contato com casos confirmados. Entretanto, com esta mistura de perfis de pessoas testadas não dá para tirar nenhuma resolução que contribua ativamente para entender como a Covid-19 está avançando entre os assintomáticos”, aponta.O epidemiologista acredita que uma resposta mais clara virá no próxima testagem, que começa nesta terça-feira (11). “A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) adotou novas estratégias. Se elas forem seguidas à risca, conseguiremos ter dados concretos para analisar verdadeiramente a situação da capital. Por isso, é importante que a população entenda e contribua para que o esforço do poder público dê certo”, finaliza Siqueira. Esquema de exames passa por mudançaA segundo etapa da testagem em massa realizada pela Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), ocorrerá de maneira diferente da primeira, na região Norte da capital. Entre as mudanças, está o aumento de um local de coleta e o incremento do tempo de testagem.As alterações ocorreram depois que a Prefeitura enfrentou alguns empecilhos durante a primeira testagem. Todas as pessoas passaram por atendimento médico no local da testagem e agora serão acompanhadas pelo Telemedicina que é uma parceria da Prefeitura de Goiânia com a Universidade Federal de Goiás (UFG).Apesar de a SMS considerar a ação um sucesso, durante a testagem foram constadas filas lotadas, moradores de bairros distantes buscando o serviço, pessoas com sintomas gripais - que não eram alvo do serviço - e desrespeito ao distanciamento durante a espera. Estes foram alguns dos motivos que levaram às alterações realizadas pela SMS para a continuidade da investigação epidemiológica. Desta vez, a testagem irá ocorrer na Região Noroeste, formada por 74 bairros com mais 183.737 mil habitantes. O serviço começa a funcionar hoje (11), às 8h, e segue até a sexta-feira (14). Os testes ocorrerão em duas unidades de educação: Escola Municipal Professora Leonísia Naves de Almeida, no Setor Morada do Sol, nas modalidades drive thru e pedestres; e na Escola Municipal Stephania Alves Bispo, no Jardim Liberdade, que atenderá pedestres.De acordo com a SMS, nos dois locais os mesmo protocolos de segurança praticados no Jardim Guanabara serão adotados. Haverá equipes na triagem, coleta, realização do teste e equipe médica para atender os casos positivos. Assim como na primeira etapa da testagem, serão testados moradores com mais de 12 anos e que não apresentem sintomas da doença e tiveram contato com casos suspeitos ou confirmados do coronavírus (Sars-CoV-2) nos últimos dias. O epidemiologista, professor do Departamento de Saúde Coletiva da UFG e membro do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para o Novo Coronavírus (COE), João Bosco Siqueira, diz que é muito importante que o perfil de pessoas a ser testadas seja respeitado pela população. “Quem está com sintomas da Covid-19 tem de procurar um posto de saúde. O intuito da testagem em massa é localizar as pessoas que estão assintomáticas e possivelmente disseminando o vírus. Assim, conseguimos colocar elas de quarentena e barrar a propagação (da Covid-19)”, explica.Siqueira diz que a ação será muito importante para a Região Noroeste. Ela foi escolhida com base em estudos epidemiológicos que apontaram grande circulação do novo coronavírus. “Ali é um foco. Se o trabalho for bem feito, conseguiremos quebrar a cadeia de transmissão e conter o avanço da doença no local. Além disso, também conseguiremos obter dados mais palpáveis sobre como está a circulação do vírus nestes bairros que compõem a região.”TestesAo todo, a SMS adquiriu 185 mil testes rápidos de antígeno que conseguem identificar o vírus no momento da infecção. Apesar de serem testes rápidos, eles são feitos com amostras rinofaríngeas, assim como o teste RT-PCR, considerado um dos mais precisos para a detecção da Covid-19. A eficácia do resultado é de 98%, mas de acordo com o superintendente de Vigilância Sanitária da SMS, Yves Mauro Ternes, eles ainda passarão por uma validação.