-Imagem (1.312774)-Imagem (1.2453444)Após a sequência de acidentes graves no fim de semana em Goiânia, o perito criminal e especialista em acidente de trânsito, Antenor Pinheiro, em entrevista ao programa Chega pra Cá, nesta terça-feira (10), disse que falta atitude do poder público para reduzir o alto índice de mortalidade no trânsito.“O que a gente percebe é uma absoluta inação governamental, nas três esferas de governo, em que as políticas não acontecem. Nós ainda não temos um programa consistente de redução de mortalidade no trânsito, tanto nos sistemas rodoviários, e principalmente nos sistemas urbanos”, afirmou. No fim da madrugada de sábado (6), o capotamento de uma caminhonete com seis pessoas, no Jardim América, arremessou dois jovens para fora do veículo. Uma adolescente de 15 anos morreu no local e um jovem, de 20, teve morte encefálica constatada nesta terça (10). Uma das jovens envolvidas disse à polícia que o grupo estava em uma boate ingerindo bebidas alcoólicas.Outro acidente, no mesmo horário, matou um servidor da prefeitura de Cristianópolis, no Setor Bela Vista, após ele avançar uma sinalização de parada obrigatória, no cruzamento entre as ruas S-4 e T-64, e ser atingido por um veículo em alta velocidade. A Polícia Civil identificou vestígios de bebidas alcoólicas no interior do veículo.Em relação à condução de veículos sob efeito de álcool, o perito criminal avalia que falta ação dos órgãos de fiscalização. “Os órgãos oficiais sabem perfeitamente que, entre às 18 horas de sexta-feira até 20 horas de domingo, nós temos um aumento de 60% do índice de acidentalidade grave e gravíssima nas vias urbanas”, afirma.Pinheiro cita as lojas de conveniência em postos de combustíveis que, segundo ele, na maioria dos casos funciona como extensão de boates e bares, representando um desvio de finalidade da atividade econômica, uma vez que o mesmo local que oferece serviços para motoristas (abastecimento de combustível), também oferece bebida alcoólica.“Nós também convivemos com vários pontos que estão ao alcance da fiscalização municipal, onde os motoristas estão inalcançáveis naquilo que ele comete no sentido de fragilizar a sua própria segurança [...] (Os jovens) saem dali, vão circular livremente, sem nenhuma ação que lhes exija uma conduta adequada e, portanto, elas vão fragilizar sua própria segurança”, explica.Números de GoiâniaSegundo Pinheiro, o Sistema de Informação sobre Mortalidade no Brasil do Ministério da Saúde aponta que o índice de mortes em acidentes de trânsito na Região Metropolitana de Goiânia, entre 2015 e 2018, foi de aproximadamente 30 vítimas para cada 100 mil habitantes. Os números de 2019 ainda não foram consolidados. A recomendação da Organização das Nações Unidades (ONU) é de 8 a 11 mortes para cada 100 mil pessoas. O perito criminal classifica os números da região metropolitana como “absurdo”. No município de Goiânia são 17 mortes para cada 100 mil habitantes. “Nós estamos vivendo em uma mancha metropolitana com extrema violência no trânsito.”Não falta lei, nem dinheiroPinheiro, que é aposentado no cargo de Perito Criminal de Classe Especial do Instituto de Criminalística do Estado de Goiás, considera que a legislação e a verba para cumprimento da lei existem. Ele lembra a Lei Nº 12.587, de 3 janeiro de 2012, que estabelece a Política Nacional de Mobilidade Urbana.“Os protocolos hoje previstos nas diretrizes que compõem a Lei Nacional de Mobilidade Urbana ainda estão muito aquém de serem contemplados. Não é por falta de financiamento, de dinheiro propriamente dito, porque o sistema arrecada muito, e bem, no sistema de trânsito no Brasil”, disse.Velocidade máximaAntenor Pinheiro criticou o novo Plano Diretor de Goiânia, aprovado recentemente na Câmara Municipal de Goiânia, que prevê o aumento da velocidade máxima permitida em algumas regiões da capital. Segundo ele, o aumento de 10 km/h na velocidade permitida representa um aumento de 60% na possibilidade de acidentes graves.“Então se você aumenta de 20, 30 km/h, uma determinada via situada em um bairro de Goiânia, para 40, 50 km/h, você está aumentando a capacidade de se cometer infrações de trânsito por excesso de velocidade que resultam em mortes”, disse.Para ele, a sinalização de trânsito na capital está desatualizada há mais de 15 anos. Pinheiro cita a Marginal Cascavel e a Marginal Botafogo como exemplo de vias que precisam ter a velocidade revisada.“É a mesma velocidade máxima permitida de 20 anos atrás, sendo que, há 20 anos ali passava determinado número de veículos e hoje passa o triplo. Você admite uma velocidade que hoje, operacionalmente, fragiliza a segurança viária.”Perimetral NorteOs pontos de alto índice de acidentalidade em Goiânia são mapeados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e pela Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM). O perito afirma que o poder público tem conhecimento desses pontos e não oferece o tratamento adequado. Um desses locais é a avenida Perimetral Norte.Segundo o Pinheiro, entre 2018 e 2021, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de Goiás e a SMM de Goiânia, contabilizaram 1.640 acidentes graves somente nos 10 quilômetros de extensão da via na capital. Entre os problemas que provocam esse cenário, ele cita, além da imprudência do condutores, problemas na pavimentação asfáltica, deficiência na sinalização, baixo número de fiscalização eletrônica e iluminação inadequada.” Esse conjunto de anomalias justificam a gravidade da letalidade nesse pequeno trecho”, explica.Leia também:- Radares estão desligados em Goiânia por falta de pagamentoEntregadores A pressão sobre os entregadores de delivery (comida, farmácia, supermercado etc) é outro fator que preocupa Pinheiro. “É preciso que se exija das empresas contratos estabelecidos de forma mais civilizada. Não se pode mais exigir de um entregador que ele faça essa entrega em determinado lapso de tempo, sendo que esse tempo vai induzir o cometimento de infrações”O perito aposentado diz que 80% dos acidentes que dão entrada no Hospital de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo) são de motociclista e, de 50 a 60% desses motociclistas são de entregadores.EducaçãoPara o Pinheiro, a educação no trânsito é outro problema grave que atinge a capital. Segundo ele, é necessário a implementação de uma política de educação homogênea, uma vez que União, estados e municípios adotam programas diferentes."Não há consistência nas políticas de educação, falta profissionalismo e cumprimento de legislação hoje ao alcance dos gestores", criticou.O perito lembrou que o grave acidente do último sábado na avenida T-9 foi provocado pela disputa de um racha e que dois passageiros foram arremessados para fora do veículo porque não utilizavam cinto de segurança. Ele também lembra que problemas mecânicos provocam acidentes graves com frequência e ressalta a necessidade de manter motor, freio, suspensão e pneus em bom funcionamento. "Muitos veículos estão circulando sem a menor capacidade de segurança", completa.