Pessoas com diabetes que dependem da Prefeitura de Goiânia para o tratamento enfrentam dificuldade para obter insumos na rede pública. A presidente da Associação Metropolitana de Apoio ao Diabético (Amad), Luzia de Cássia Ribeiro, diz que os postos não têm as tiras de controle glicêmico há cinco meses. No caso da insulina, conforme a Amad, os 4 mil pacientes enfrentam escassez há cerca de três meses.O advogado da Amad, Daniel Braga, diz que a associação já se reuniu duas vezes com o secretário de saúde Durval Pedroso para questionar o problema. Todavia, não houve mudanças depois do encontro, segundo Braga. O argumento feito pelo órgão, quatro meses atrás, foi o conflito com a licitação dos recursos. Por outro lado, Braga salienta que a insulina de ação rápida no Estado ainda não tem faltado.Acostumada a pegar os insumos em uma unidade próxima ao Paço Municipal, há aproximadamente 15 anos, Lorena Geovana Rezende demonstra preocupação e diz não compreender como a capital deixa chegar ao nível de carência dos materiais. “É um gasto que a Prefeitura já sabe que terá, não tem justificativa para faltar, eles sabem (quem são) os pacientes da cidade, nosso endereço, e inclusive tem o informativo de glicemia por mês de cada um” afirma. Lorena acrescenta que a Prefeitura tem também uma perspectiva de idade de cada cidadão diabético para estimar o tempo de distribuição dos recursos.Indignados com o cenário de descuido, pacientes estão indo até as redes sociais do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) repudiar a falta de informação sobre os insumos. Em um dos comentários, uma internauta desabafa: “Alguma posição para fitas e insulinas? Diabéticos necessitam dos medicamentos. Essas fotos lindas como se a administração tivesse tudo ok”, publicou.Lorena diz que a sensação de contrariedade é recorrente e que o assunto deve ser levado mais a sério. “Não tem como ficar sem usar (insulina), ou você usa, ou você pode ser hospitalizada”, afirma.AlternativaUtilizada todos os dias para o controle de glicose em pessoas com diabetes, a insulina é considerada por todos um item de sobrevivência. Por isso, o cenário causa angústia nos diabéticos. Além disso, a falta do insumo não é comunicada com aviso prévio, o que causa deslocamento inútil da pessoa até a unidade de saúde. Ao chegar lá e receber a informação de que não há material, a alternativa é a compra, mas muitos não possuem condições financeiras.O advogado da Amad, Daniel Braga, ressalta que há dificuldade também para encontrar os insumos distribuídos. “No caso da fita, é complicado, porque eles entregam um aparelho da Iquego que sequer é comercializado. Então nem para comprar a gente consegue”, afirma.Braga diz que a instituição possui grupos online para contato entre os pacientes, meio que eles usam para apontar os locais sem insumos, a data em que chega o material, entre outros. Desse modo, a outra alternativa que encontram é a rede de doação.“Quando o resto das pessoas tem reservas, um doa para o outro, troca, para ver se ajuda”, afirma o advogado. No entanto, pelo tempo sem os insumos nas unidades de saúde, não é uma atitude garantida. “Ninguém mais tem reserva”, afirma Braga ao POPULAR.Já Lorena compartilha que altera a dosagem da insulina, nos dias que precisa de menor quantidade, para economizar o insumo em momentos de falta e tenta realizar a estocagem. “É uma dependência diária, uma sobrevivência”, diz a paciente.Questão políticaBraga também aponta a burocracia do sistema para consultas e inclusão do paciente no banco de dados municipal e relata que o mesmo aconteceu com ele que, até hoje, não conseguiu uma resposta para se consultar com um endocrinologista. O advogado procurou o Ministério Público (MP), mas, segundo ele, foi informado de que o órgão não trata do assunto. “O poder público leva a pessoa no cansaço”, afirma Braga.Algumas ações do município, segundo o advogado, são recebidas com o pé atrás, após resultados frustrantes no passado. Braga relembra, por exemplo, da oferta de sensores Libre, feitos para ficarem 14 dias no braço 24 horas por dia fornecendo insulina.“Antes do ex-prefeito (Iris Rezende) sair, ele fez uma compra muito grande de sensores para mais de 200 pacientes, mas, como estava perto de vencer (o material), a prefeitura liberou para mais pessoas, porque estavam sem distribuir as fitas. Só que não foi fornecido qualquer documento para quem participou do programa, que foi encerrado antes do tempo previsto”, afirma.O advogado ressalta também a construção do Centro Estadual de Atenção ao Diabetes (CEAD), unidade anexa ao Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG). “A estrutura é linda, maravilhosa, deputados e vereadores ajudaram, só que atende 200, 300 pessoas do estado todo, e eu sequer consigo a consulta com endócrino”, critica.Prefeitura afirma que fornecerá produtosEm nota, a Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), informa que as tiras reagentes de medida de glicemia foram entregues pelo fornecedor. “Até o início da próxima semana, os pacientes serão contatados e poderão buscar o insumo nas unidades de saúde, conforme cadastro já realizado”, diz o texto. Já quanto à insulina, a SMS afirma que a única que está em falta no estoque é a Glargina/Lantus e que o fornecedor foi intimado pelo órgão na terça-feira (15) e terá 20 dias para efetuar a entrega.Para os pacientes que pegam as fitas no Centro de Referência em Diagnóstico Terapêutico (CRDT), será cadastrado um novo endereço de coleta na unidade de saúde mais próxima da casa do paciente. “A medida visa facilitar a vida do paciente.”, alega a SMS. (Manoella Bittencourt é estagiária do GJC em convênio com a PUC Goiás).