Kawê Guilhermy, de 22 anos, morou em Araçu, a 70 km de Goiânia, até os 15 anos. Agora, com 22, se formou enfermeiro na capital, na última segunda-feira (18), e usou seu ensaio de formatura para homenagear sua maior inspiração: sua mãe.Andréa dos Santos, de 43 anos, é gari há 16. Kawê conta que vivia com os avós no interior e veio para Goiânia na adolescência, quando passou a morar com a mãe, para estudar.“Comecei a morar com ela em 2015. Minha mãe sempre foi a principal fonte de renda da casa. Ela sempre me incentivou a ter um trabalho para conquistar meu dinheiro e ter minhas coisas", afirmou Kawê.Ele se formou na Faculdade Unida de Campinas (FacUniCamps) com bolsa integral do Programa Universidade Para Todos (ProUni). "Sempre gostei muito de estudar e falava que queria ser médico. Quando fiz vestibular, minha nota não deu e optei por enfermagem. Minha família é muito humilde e não entendeu muito bem quando eu contei que eu tinha conseguido a bolsa integral", relata.Kawê conta que durante o curso se sentia cada vez mais apaixonado pela profissão. "Cada mais mais me identificava. Vi que era o que realmente queria, cuidar das pessoas no momento em que elas mais precisam", diz o enfermeiro, que foi recentemente efetivado no hospital em que estagiava.Leia também:- Servidores da Comurg participam de aniversário de criança com encefalopatia, em Goiânia- Estudante de Catalão descobre asteroide durante programa em parceria com a Nasa- Servidor trans da Comurg ressalta importância de apoio da famíliaRelação de amizadeEle ainda explica que ele e a mãe são grandes amigos. "Minha mãe é bem nova e isso facilita nossa parceria. Ela sempre me incentivou. Nunca tivemos problemas de convivência. Nos damos super bem. Ela é minha maior parceira, minha melhor amiga", afirma.O jovem é tão conectado à mãe, que às vezes a acompanhava no trabalho. Lá, presenciava situações constrangedoras em que sua mãe era submetida. "Falavam coisas que me machucavam e faziam atos que me deixavam chateado. Atos que vão contra o que acredito, como jogar papel no chão e dizer que ‘há pessoas para limpar’", lembra."Quando ela entrava em lugares com o uniforme, tratavam ela diferente. Quando ela pedia água, as pessoas davam o copo para ela, pois não queriam de volta. Não deixavam ela ir nos banheiros de lugares públicos. Todas as profissões são importantes. Todos estamos fazendo nosso trabalho em prol de algum bem. Ninguém deve ser menosprezado", pontua.Para demonstrar orgulho da mãe, Kawê decidiu vestir-se com o uniforme dela, e dar a ela o estetoscópio durante as fotos de formatura. Segundo ele, o objetivo foi "tornar o trabalho da minha mãe visível e desmitificar o perfil do gari, de pobre, sujo e que não estudou. Uma tentativa de reconhecer o trabalho dela e homenageá-la".-Imagem (1.2494641)