O fim da tarifa única do sistema de transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia anunciado na última sexta-feira (25/02) e a criação de sete produtos tarifários não será o suficiente para gerar um aumento de demanda no serviço. A constatação é do geógrafo e mestre em Transportes, Miguel Angelo Pricinote, coordenador do Fórum de Mobilidade Mova-se, que entende, no entanto, ser um ponto positivo o uso do conceito da mobilidade urbana como um serviço (MaaS, da sigla em inglês para Mobility as a Service) e uma ampliação dos produtos tarifários.“As primeiras mudanças vão ter mais um caráter de manutenção da demanda atual. Se agregar alguém vai ser aquele usuário que recém abandonou o sistema, a pessoa que ainda não quitou o carro, o combustível está caro e vai deixar o veículo apenas para viajar. Mas em geral não vai atrair novos passageiros, quem tem transporte já consolidado não vai para o sistema”, afirma Pricinote. Segundo ele, o fato de ter mais opções de tarifas e serviços, como o Bilhete Único, que permite a realização de mais de um embarque do mesmo passageiro em outras linhas em um período de 2h30, é uma vantagem para manter quem já é usuário.O coordenador do Mova-Se acredita que essas medidas deliberadas na primeira reunião da Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos (CDTC) adotadas sem que outras mudanças estruturais sejam colocadas em prática há a possibilidade de manter a demanda atual por mais um ou dois anos. Válido lembrar que, em média, o sistema tem carregado cerca de 70% dos passageiros que eram usuários até 2019, ou seja, antes da pandemia de Covid-19. Pricinote ressalta que apenas as opções tarifárias não são suficientes para competir com os aplicativos de carona pagas, para onde se entende que os antigos usuários mais migraram nos cinco últimos anos.Para ele, o aumento na demanda do sistema só vai ocorrer com a chegada das mudanças estruturais, especialmente nos corredores Anhanguera e BRT Norte-Sul. “Esses são capazes de fazer a pessoa deixar o carro em casa quando se locomover por ali for mais rápido do que o transporte privado.” No entanto, há o entendimento que o Bilhete Único seja uma vantagem por permitir a integração entre as linhas fora dos terminais. O coordenador ressalta que é necessário também que a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) atualize o planejamento das linhas alimentadoras, criando pontos de conexão fora dos terminais. Ele cita como exemplo a Praça Universitária, que serviria como desafogo do Terminal Praça da Bíblia. “O usuário vai ter um ganho de viagem, porque vai eliminar o tempo de espera nos terminais e retira o que chamamos de viagens negativas”, diz e explica que são os trajetos em sentido oposto ao destino do passageiro, mas que é feito para se chegar ao terminal. Ele ainda lembra que em 2013, quando foi implantado o Ganha Tempo, que tinha política semelhante, havia passageiros que preferiam ir aos terminais por se sentirem mais seguros. “Tem de melhorar a infraestrutura dos pontos de ônibus e fazer uma boa propaganda do aplicativo do sistema, informando os trajetos das linhas, os pontos de parada. É muito importante ter as informações nas mãos dos usuários”, alega. Pricinote acredita que os usuários vão se adequar ao produto, que começa a valer no dia 2 de abril, e estima que deve demorar cerca de um mês até o entendimento do funcionamento e a relação com o trajeto a ser feito. Sobre os outros produtos, o coordenador do Mova-Se diz que o Cartão Assinatura, uma modalidade do Vale Transporte, é o mais interessante. “Ele acaba com o mercado paralelo, não vai ter como transformar em dinheiro e só vai pedir quem precisa mesmo. Vai ser uma boa para os empregadores.” Os bilhetes diários, semanal e Família, segundo Pricinote, devem ter uso esporádico e vai depender da confiabilidade no sistema e nas informações repassadas via aplicativo.