Goiânia possui 80 veículos a cada 100 habitantes, chegando a ser a terceira capital do País com maior taxa de motorização, abaixo apenas de Belo Horizonte (MG), com 91, e Curitiba (PR), com 83,6. O índice verifica a relação da quantidade de veículos motorizados e a população e demonstra a influência na mobilidade urbana. O número na capital goiana é crescente, e já chegou a figurar na primeira posição do ranking em 2016, quando a taxa foi calculada em 75 veículos por 100 habitantes, ou seja, a alta é de um veículo a mais a cada ano. Os dados são com base em veículos emplacados nas cidades e tabulados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).Professor do Instituto Federal de Goiás (IFG) e engenheiro de transportes, Marcos Rothen lembra ainda que as cidades de Belo Horizonte e Curitiba possuem uma frota maior de automóveis por terem grandes empresas de aluguel desses veículos, que rodam em diversas outras cidades, incluindo Goiânia, mesmo sendo emplacados lá. “É bem possível que Goiânia seja a que tem mais veículos ainda, que rodam mesmo na cidade”, acredita. Para ele, isso se dá porque a capital goiana se construiu baseada no uso do veículo. “Quem não tem carro aqui sofre. Goiânia ainda tem muitos bairros isolados, longes, com nada para fazer e as pessoas têm de se deslocar e ter o carro.”Rothen acredita que o índice é a demonstração do quanto a mobilidade em Goiânia é estressante. “É cada vez mais carros e o trânsito cada vez pior. E não tem opção, quem decide ir a pé anda por calçadas inclinadas, obstruídas e o transporte coletivo não tem conforto”, diz.Arquiteta e urbanista e doutora em transportes, Erika Kneib explica que o alto número de veículos se dá pela facilidade de uso na cidade, até mesmo de forma irregular, como no caso dos estacionamentos.Erika, que também é professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), reforça que a situação tende a piorar com a reabertura de atividades com a melhora sanitária em razão da pandemia da Covid-19. “Se hoje já temos isso, quando tudo voltar vai ficar pior. Eu entendo que já estamos em colapso, não podemos achar normal ficar duas horas no trânsito. Tempo é qualidade de vida”, alerta. Em Goiânia, em dados de julho de 2011, a capital registrava 68 veículos a cada 100 habitantes, ou seja, neste período verificou-se um aumento de 17,65% na taxa de motorização. Para se ter uma ideia, a média nacional, incluindo todas as cidades, hoje é de 51 veículos a cada 100 habitantes. Desincentivo é necessidadeA urbanista Erika Kneib explica que a melhoria na mobilidade urbana se dá com o trabalho em quatro eixos, sendo necessário incentivar o transporte cicloviário, o dos pedestres e o transporte público coletivo, ao mesmo tempo em que se faz o desincentivo ao transporte motorizado individual. “Fazer qualquer frente isolada não dá, tem de fazer isso junto. Mas vemos é incentivo ao transporte motorizado individual”, conta. Professor do Instituto Federal de Goiás (IFG), Marcos Rothen, afirma que é necessário melhorar as calçadas, dar conforto e confiabilidade ao transporte coletivo e ainda cobrar o estacionamento nas vias públicas de uma maneira moderna. “Isto tem de ser cobrado do poder público, cobrar por mais calçadas, por mais fiscalização”, diz. Ele lembra ainda que a solução não virá dos aplicativos de carona paga. “O trânsito só piorou, só tirou passageiro dos ônibus, não dá para contar com isso como melhoria, já que são motoristas que trabalham sem direito a nada, a tendência é diminuir ao longo do tempo.” Erika Kneib entende que os aplicativos são uma boa opção individual, mas não uma solução coletiva. “Um congestionamento de veículos particulares, de Uber, de Táxi ou de carros elétricos, para mobilidade, é a mesma coisa.” A partir deste sábado é realizada a Semana Nacional do Trânsito e na próxima terça-feira (21) se dá o Dia Mundial Sem Carro. As datas têm como foco o maior respeito a ciclistas e pedestres. Em Goiânia, a Secretaria Municipal de Mobilidade inaugura neste sábado (18) uma ciclorrota entre a Rua 75 e a Rua 4, no Centro de Goiânia.-Imagem (1.2322071)