Quando o vendedor Marcos Rufino Guimarães, de 30 anos, se mudou para Goiânia, em 2005, a quantidade de conterrâneos do Maranhão em território goiano ainda era pequena. Bastaram alguns anos, no entanto, para o movimento migratório se intensificar e fazer do Estado um dos principais destinos do Brasil não só de maranhenses, mas também de pessoas de outros locais que buscam, basicamente, por melhores condições de trabalho. A projeção dos números da população, divulgada nesta quarta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirma isso. Ela aponta que Goiás tem sido o segundo estado que mais recebe migrantes, atrás somente de São Paulo. E essa tendência deve persistir nas próximas décadas.Marcos e a família vivem no Parque Tremendão, região Noroeste de Goiânia, onde, segundo ele, também tornou-se perceptiva a chegada constante de pessoas de outros estados, principalmente do Nordeste brasileiro. “Hoje o fluxo maior é para Goiânia, Senador Canedo, Palmeiras de Goiás e Aparecida de Goiânia”, diz ele, que há três anos é responsável pela organização d a famosa Festa dos Maranhenses, realizada uma vez por ano na capital. A última edição foi em abril deste ano e, segundo Marcos, a média de público tem aumentado, chegando a ser de 2 mil pessoas.Os números do IBGE projetam que, só este ano, Goiás vai receber 39,8 mil novos habitantes, vindos de outros locais do País, ou seja, uma média de 109 pessoas por dia (veja quadro). A atração migratória é, por exemplo, a principal causa que faz do Estado um dos oito do Brasil que têm previsão de aumento da população para além de 2060, contrariando inclusive uma tendência nacional. O Brasil começará a diminuir a população a partir de 2047, quando deve atingir os 233,2 milhões de pessoas. A redução se dará, conforme a projeção do Instituto, até atingir os 228,3 milhões em 2060.O tecnologista em Informações Geográficas e Estatísticas do IBGE em Goiás, Alessandro de Siqueira Arantes, atribui o saldo positivo aos avanços da economia, principalmente na área agroindustrial, que atrai moradores não só para Goiânia, mas também para cidades de porte médio do interior goiano, como Catalão, Jataí, Itumbiara, Rio Verde, Caldas Novas e outras. “E temos ainda um caso diferente, mas que não deixa de ser um atrativo, que é o Entorno do Distrito Federal. O crescimento daquelas cidades é muito grande. As pessoas podem trabalhar em Brasília, mas moram nas cidades do Entorno. O número de pessoas que entram em Goiás é muito superior ao número dos que vão buscar oportunidades fora”, afirma.Em geral, Goiás recebe migrantes, além do Maranhão, do Tocantins, Minas Gerais, Pará e Bahia. Este último, por exemplo, é o que mais vem perdendo população no Brasil.“Goiânia é uma referência regional”O geógrafo e atuante na área de planejamento urbano, professor João Batista de Deus, lembra que estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já demonstraram no passado que a área de influência de Goiânia extrapola os limites regionais, chegando a ser um referencial para moradores até do Sul do Pará, Maranhão, Leste matogrossense e outros locais. “Muitas pessoas do Pará, Maranhão e até do Acre que querem fazer tratamentos de saúde, por exemplo, buscam por serviços aqui na capital”, cita ele um dos serviços que contribui para fomentar esse contexto. Não à toa, diante do cenário de oportunidades somado à localização privilegiada, no centro do País e que coloca Goiânia não muito longe das grandes capitais, a atratividade de novos moradores acaba sendo uma consequência natural. O que João frisa, no entanto, é a capacidade de absorção e como o movimento migratório pode influenciar socialmente a realidade do Estado ou das pessoas que optam por Goiás. “Temos um país crescendo menos e isso tende a aumentar a pobreza, a violência, os problemas sociais. Na verdade, é continuar os investimentos em infraestrutura, mas estamos vivendo uma realidade de redução desses investimento. Isso, para Goiânia, é o caos”, diz. A situação econômica do País é algo que reflete diretamente nas tendências migratórias, explica o geógrafo. Quando se aumenta a pobreza ou se acentua as más condições em locais de contexto social delicado, o aumento da migração é imediato, e Goiás, nesse sentido, acaba se tornando um destino próximo, bem localizado e cativo. “Caldas Novas recebeu uma quantidade imensa de imigrantes. Fiz uma pesquisa certa vez em um bairro da cidade e, em todas as casas que eu fui, só tinha maranhense”, cita João Batista. Ele destaca, por outro lado, que a tendência de ocupação das chamadas cidades médias de Goiás pode sugerir problemas futuros, até então, não enfrentados por elas. A limitação de crescimento e o contexto de crise econômica podem acirrar o surgimento de situações restritas, até então, à cidade grande. -Imagem (1.1581184)