Há cem dias Goiás sente a falta de chuvas. Na capital a última precipitação pluviométrica de 2020 ocorreu no dia 23 de maio. De lá para cá, em alguns municípios, como Jataí, no Sudoeste goiano, houve alguns episódios de chuvisqueiros, mas nada representativo, o que coloca todo o Estado numa situação efetiva de estiagem. E, as notícias não são nada boas. Pelo menos nos próximos 15 dias não deve cair uma gota sequer no coração do Brasil.Previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que em todo o Centro-Oeste o volume de chuvas no trimestre que está chegando será abaixo da média. André Amorim, da gerência do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) confirma que na primeira quinzena de setembro os goianos terão de conviver com dias ensolarados, temperaturas elevadas e reduzida umidade do ar. “Estamos vivendo efetivamente o período de tempo seco, com uma situação crítica de umidade do ar, que está variando de 12% (emergência) a 25% (atenção) entre 13 e 16 horas.” André Amorim explica que, neste momento, as indicações meteorológicas mostram que haverá chuvas esporádicas no fim do mês e em maior volume, a partir da segunda quinzena de outubro, mas esta é uma previsão que pode ter mudanças. “Estamos aguardando um pouco mais para analisar os efeitos do fenômeno La Nina, que pode ocorrer este ano.” O La Nina resfria a temperatura das águas do Oceano Pacífico e gera mudanças nos padrões de chuvas e de temperatura em todo o mundo. No Brasil, historicamente o La Nina tem provocado estiagem na Região Centro-Oeste.O que mais chamou a atenção do Cimehgo no mês de agosto foi a intensificação das queimadas, em especial na região Sudoeste. Na semana de 17 a 23 de agosto ocorreram 150 focos de incêndio na região onde estão localizados os municípios que concentram as mais importantes áreas agrícolas de Goiás, como Mineiros, Rio Verde e Jataí. Em 2019, no mesmo período foram registrados somente 19 focos, segundo André Amorim.A estatística de incêndio florestal e de cultura agrícola do Corpo de Bombeiros (CB) do Estado de Goiás mostra que em agosto de 2019 foram apagados 2.217 focos de incêndio. Até domingo (30) militares do CB foram acionados para interferir em 2.092 ocorrências de fogo. “Eu sempre digo que quem coloca fogo em área de vegetação não apenas agride o meio ambiente, mas também a saúde das pessoas e o desenvolvimento econômico”, ´diz o gerente do Cimehgo, lembrando de vários episódios onde as chamas causaram prejuízos financeiros.O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectou aumento no número de queimadas em Goiás em relação ao mesmo período de 2019. No ano passado, até 31 de agosto, foram registradas 698 ocorrências de fogo. Em 2020, até o dia 30 foram 902 focos registrados. Este incremento interfere diretamente na qualidade do ar e na condição respiratória dos cidadãos que, este ano, por causa da pandemia do coronavírus (Sars-CoV-2) depende da máscara facial para se movimentar. “O tempo seco já reduz o fôlego. Com as queimadas a situação se agrava”, enfatiza André Amorim.