A Polícia Técnico-Científica de Goiás se prepara para iniciar, em fevereiro do próximo ano, um trabalho conjunto com outros quatro Estados junto ao Sistema Nacional de Análise Balística (Sinab). Com uso de inteligência artificial, o programa consegue cruzar imagens de munições usadas em crimes para identificar delitos com possíveis autores em comum em todo o território nacional.Conforme explica o perito criminal Sebastião de Lima, um dos representantes de Goiás no comitê de gerenciamento do Sinab, os scanners de alta resolução serão acionados para fotografar fragmentos de balas no curso de investigações sobre tentativa ou homicídio consumado. Futuramente com o sistema abastecido, os investigadores poderão fazer comparações automatizadas entre munições utilizadas em diferentes crimes.O Sistema lançado por iniciativa do Governo Federal deve abranger todos os Estados nos próximos anos. Como projeto piloto, Goiás será o representante do Centro-Oeste ao lado dos Estados do Paraná, Espírito Santo, Pernambuco e Pará. Os Estados são os mesmos participantes do “Em Frente, Brasil”, lançado em 2019 que buscava reduzir os números de crimes violentos.Em Goiás, os equipamentos já estão instalados na Seção de Balística Forense (Sebal) da Polícia Técnico-Científica, em Goiânia. Além dos scanners, as equipes irão contar com computadores de última geração. Somados os investimentos em todos os Estados, o valor previsto chega a R$ 100 milhões. O comitê de gestão inclui representantes das Polícias Técnico-Científicas, do Ministério da Justiça e da Polícia Federal (PF).FuncionamentoQuando estiver em funcionamento, o perito poderá, de forma rápida, conseguir cruzar informações de até centenas de homicídios para acelerar investigações. “Quando as informações forem jogadas o sistema vai rodar com o que já estava lá anteriormente e aí pode indicar se a arma foi usada no crime X ou Y. Neste caso a gente pode guiar a investigação a partir do outro crime que já pode ter sido solucionado”, explica Lima.No lançamento, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, destacou a força tecnológica envolvida no Sinab. “Estamos entregando para as forças de segurança uma tecnologia de última geração, que vai permitir a formação de uma rede nacional para que crimes cometidos com armas de fogo sejam solucionados com a maior brevidade possível”, afirma Torres.O sistema é eficaz na identificação de ranhuras nos projéteis feitas em armas de “alma raiada”, termo que indica que o interior do cano tem ranhuras que provocam movimento rotacional na bala para aumentar velocidade e precisão (confira o passo a passo no quadro). “É semelhante a uma digital”, explica Lima. O perito indica, porém, que o modelo tem limitações, já que as ranhuras podem ter pequenas diferenças mesmo se feitas por uma mesma arma.Outra possibilidade citada pelo perito criminal é o caso de armas de fogo apreendidas com suspeitos passarem por perícia para identificar possíveis crimes ligados ao mesmo. Para esses casos, os investigadores utilizam tanques de água e atiram para coletar as ranhuras deixadas na bala.Segundo o perito, suas experiências indicam que há recorrência de crimes cometidos por uma mesma arma de fogo, observados por tecnologia já utilizada em Goiás. “Em 2016 nós investigamos um homicídio que deu positivo com outro de 2017 e depois mais um neste ano, todos pela mesma arma. Fazendo a inserção de elementos de todas essas vítimas podemos saber de ainda mais vítimas”, acrescenta o potencial do projeto.Experiências amparam expectativas Apesar de representar inovação pelo caráter nacional, o Sinab é similar a um sistema já utilizado em Goiás. É o que explica o perito Sebastião de Lima. Desde 2009 a Polícia Civil utiliza sistema de comparação automatizada entre fotografias de projéteis que levantam suspeitas dos investigadores sobre a possibilidade de terem a mesma origem. “Os dois sistemas serão usados de forma concomitante. O que já utilizamos é voltado para casos em que já se tem um universo definido. A intenção do Sinab é criar esse banco de dados e comparar com todas as amostras, sem necessidade de direcionamento”, detalha Lima.O delegado Rilmo Braga, gerente de Planejamento Operacional da Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO), diz que a expectativa é de avanço. Ele cita que o Banco de DNA utilizado em casos de estupro pode antecipar os bons frutos a serem colhidos pelo Sinab. “Esse banco foi uma das maiores revoluções do País para crimes desta natureza”, diz o delegado, que cita que a estimativa é de que a plataforma tenha aumentado em 20% a elucidação dos crimes de estupro. “Então, com esse banco nacional (Sinab) eu acredito que nós podemos ter um aumento de 20% a 30% na elucidação de crimes cometidos por organizações criminosas, homicídios, latrocínios, roubos e quaisquer outros crimes que sejam cometidos com o uso de arma de fogo”, acrescenta Braga.