O estado de Goiás teve uma área superior a 31 mil campos de futebol de vegetação nativa desmatada em 2021. Os dados do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil, do MapBiomas, divulgados nesta segunda-feira (18), mostram que a perda em território goiano aumentou 36% em comparação com 2020. A avaliação é de que o processo de degradação tem relação direta com deficiências da fiscalização frente a explorações irregulares dos recursos naturais.Apesar de a perda em 2021 ser maior quando comparada a 2020, ela seguiu inferior ao desmatamento observado em 2019. No referido ano foram 33,4 mil hectares (ha), contra 23,2 mil em 2020 e 31,4 mil em 2021, aproximadamente 31 mil campos de futebol. A aparente redução no período não é vista como um sinal de segurança por especialistas, já que o patamar segue distante do ideal. De toda a área perdida em três anos, 72% foram retirados sem autorização.O levantamento do MapBiomas se baseia em sistemas de alertas de desmatamentos do País que utilizam imagens de satélites como monitoramento. O estudo é considerado um dos mais precisos, já que refina dados de importantes fontes, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Imazon e do SOS Mata Atlântica.O relatório detalha a degradação por biomas e estados. A Amazônia, que representa 49,5% do território nacional, concentra 59% de todo o desmatamento observado em 2021. Na sequência está o Cerrado, principal bioma de Goiás e que representa 23,3% de todo o território nacional e respondeu por 30,2% de toda a área natural perdida em 2021 (veja quadro). Na comparação com o ano anterior, o aumento do desmatamento no Cerrado ficou em 20%.Em território nacional, o aumento da perda de áreas naturais ficou em 20%. Entre os estados, Goiás ficou com a 12ª posição entre os que mais desmataram. Os líderes são o Pará, com 402 mil ha, Amazonas, com 194 mil ha, Mato Grosso, com 190 mil ha e o Maranhão, com 166 mil ha desmatados. No ranking do porcentual de aumento entre 2020 e 2021, Goiás fica com a 11ª posição, com 36%.A professora Elaine Barbosa da Silva, coordenadora do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG), faz parte da equipe do MapBiomas. A professora explica que o desmatamento em território goiano está concentrado no norte do estado. “Lugar onde ainda há vegetação e onde se observa expansão da agropecuária nos últimos anos. Nas outras áreas, mais ao centro e sul do estado também se percebe um aumento, porém pequeno uma vez que praticamente não há vegetação remanescente”, destaca a pesquisadora, apontando riscos iminentes.Potencial de redução é destacadoPara o doutor em Ciências Ambientais e também pesquisador do Lapig/UFG, Manuel Eduardo Ferreira, o aumento do desmatamento no Cerrado e em Goiás já era esperado, uma vez que os dados do Inpe indicavam o avanço de áreas desmatadas. O pesquisador diz que apesar da redução observada em 2020 na comparação com 2019, os dados seguem sendo preocupantes. “Mesmo que tenha havido alguma queda, o patamar é elevado. É preciso lembrar que o Brasil assumiu compromissos internacionais de zerar o desmatamento ilegal até 2030”, aponta o pesquisador. A professora Elaine diz que o aumento em 2021 pode estar relacionado também com questões políticas no que diz respeito à demonstração de maior conivência do governo, principalmente federal, com práticas de desmatamento em geral no País, uma vez que o aumento ocorreu em Goiás, no bioma Cerrado como um todo e na Amazônia, Caatinga e Pampa, por exemplo. “Como esse ano pode ocorrer mudança de governo, percebe-se uma corrida para desmatamento com expectativa de ‘zero’ punição”, afirma. Para Manuel Ferreira, muitas situações de desmatamento ilegal poderiam ser evitadas com um melhor sistema de orientação. “Há casos em que o desmatamento é feito sem que o proprietário tenha conhecimento sobre a legislação e até mesmo se aquela ação vai de fato trazer o retorno financeiro esperado”, diz em referência a questões como fertilidade do solo caso o objetivo seja o plantio.Semad promete novas medidasA Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad) reconhece o aumento do desmatamento em 2021, mas destaca a queda que havia sido observada no ano anterior. A pasta diz que está investindo na estrutura para inibir as práticas ilegais. Um dos problemas atuais seria a falta de mão de obra suficiente para fiscalizar todo o território goiano. Sobre isso, a Semad diz que há previsão de concurso que deve aumentar o efetivo. “O Estado de Goiás está investindo na modernização da fiscalização com a aquisição de imagens de satélite com recorrência diária, a construção de uma plataforma de dados para a gestão do território e planejamento de ações, além do trabalho de inteligência das equipes, inclusive sendo criada uma gerência específica para cuidar deste assunto, visando a reduzir os índices de desmatamento irregular no Estado”, afirma a Semad em nota. O professor Manuel Ferreira, diz que apesar de perceber boa vontade por parte da Semad, há necessidade de analisar as políticas implementadas de forma aprofundada. “Goiás pode ser uma liderança, porque temos um bom mapeamento dos nossos recursos naturais”, destaca Ferreira.O mapeamento é um destaque que aparece de forma positiva no relatório do MapBiomas. Ao lado de Mato Grosso, Goiás é um dos poucos dois estados que dispõem de dados atualizados sobre infrações ambientais registradas. Segundo a Semad, no atual sistema é oferecida uma série de informações ambientais, dentre elas os números de embargos e autos de infrações ambientais emitidos pelo Estado. Após a implementação do sistema foi possível aumentar em mais de 1.500% o número de autuações em áreas com ocorrência de desmatamento irregular. “Com o conhecimento de que a Semad está observando, o proprietário terá a certeza que será autuado, caso proceda de maneira irregular”, afirma a pasta.Leia também:- Polícia investiga desmatamento e retirada de água irregular no Rio Araguaia- Ministério Público vai apurar contratos ambientais que somam R$ 41 milhões em Goiás- Lavouras avançam em áreas que eram somente de pastagens em Goiás-Imagem (1.2493215)