Mais de 3 mil goianos com sintomas de síndrome gripal que se encaixam no perfil de uma Covid-19 não foram e nem serão testados para verificar se realmente houve infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Estas pessoas estão sendo monitoradas pelas secretarias municipais de saúde das respectivas cidades, entretanto só terão amostras coletadas para testes se o quadro clínico delas se agravar, se procurarem um laboratório particular ou se a cidade, como O POPULAR verificou, adquirir kits de testes rápidos.O número de monitorados revela também um pouco do tamanho da subnotificação da Covid-19 no Estado. Até domingo, foram aplicados 2.799 testes do modelo padrão, o rt-PCR, e encaminhados para análise no Laboratório Estadual de Saúde Pública de Goiás, dos quais 573 deram positivo para Covid-19. Goiás é um dos Estados que menos testa, levando em conta o tamanho da população e os números oficiais divulgados pelas respectivas secretarias estaduais.Em Goiânia, são mais de 2 mil casos considerados suspeitos que não foram testados, mas que são monitorados pelo serviço de telemedicina desenvolvido em parceria entre Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG). Ao todo, passaram 2.709 pessoas pelo serviço até a última sexta-feira (24), mas considerando os casos comprovados (que naquele dia eram 273) e também os testes ainda em análise. Atualmente, a capital já tem 333 moradores que contraíram a doença. Em Aparecida, até o dia 22, 552 estavam sendo monitoradas pela secretaria de saúde local. Em Anápolis, até este domingo (26), eram 433. E em Luziânia, até sábado (25), mais 104. Caso estas pessoas mantenham os sintomas leves não serão testadas e oficialmente os casos que forem realmente de Covid-19 não vão entrar nas estatísticas oficiais. Isso porque os sintomas da doença são similares ao de muitas outras infecções e a confirmação só é possível por testagem. Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) garante que todos os casos considerados graves de pessoas que apresentam os sintomas de Covid-19 (febre, tosse e dificuldade de respirar) são testados, assim como todas as internações por síndrome respiratória aguda grave (Srag). A informação é confirmada pelas secretarias municipais de saúde das sete cidades com mais casos confirmados da doença.Além disso, são enviados toda semana pela SES às 18 regionais 150 kits de coleta para síndromes gripais não-graves e mais 50 para os municípios considerados “unidades sentinelas”, como Anápolis, que recebe uma cota de dez kits semanais. A regional onde fica Catalão e mais 17 municípios e a que abrange Pirenópolis e outras 8 cidades, por outro lado, recebem, cada uma, apenas cinco por semana. Até o último dia 24, os testes eram aplicados a todos que se enquadravam como suspeitos de Covid-19 na época – pessoas sintomáticas que viajaram a locais considerados epidêmicos ou com sintomas que tiveram contato com viajantes, além de, em alguns casos, pessoas com os sintomas da Covid-19. Entretanto, após uma mudança na orientação do Ministério da Saúde, passaram a ser testados apenas os casos graves.Responsável pelo apoio técnico do serviço de Telemedicina da SMS de Goiânia, Marta Maria Alves da Silva, que atua tanto no Hospital das Clínicas (HC) da UFG como na Vigilância Epidemiológica da secretaria, explica que diariamente todas as pessoas monitoradas recebem uma ligação de uma equipe multiprofissional para acompanhar a evolução dos sintomas. Enquanto o quadro fica leve, a pessoa segue em isolamento em casa.Caso os profissionais notem algum agravamento, são adotadas outras medidas, como o encaminhamento a um médico ou até a uma unidade de saúde. “Se a pessoa tiver alguma piora, ela segue orientação dada previamente para procurar um serviço de emergência”, explicou Marta.Entram no radar de monitoramento do telemedicina todos que apresentam os quatro sintomas considerados principais da Covid-19 (febre, tosse, dor de garganta e dificuldade de respirar). Marta conta que há casos que seriam considerados suspeitos de infecção pelo novo coronavírus, mas como não apresentam os quatro sintomas citados, não são cadastrados, como pessoas com perda de olfato e paladar.No geral, as outras secretarias ouvidas pelo POPULAR dizem fazer o mesmo tipo de acompanhamento. Dependendo dos sintomas, isso pode durar 7 ou 14 dias e a liberação acontece após o período apenas quando se também estiverem assintomáticos. “Às vezes, no acompanhamento, a pessoa vai evoluindo para sintomas diferentes que pelo critério clínico a gente já descarta o Covid-19, mesmo sem teste”, explica Mirlene Garcia, gerente de vigilância epidemiológica da SMS de Anápolis.Mirlene conta que na cidade – a segunda com mais casos confirmados (39) - há pessoas monitoradas que acabam buscando testes em laboratórios particulares e, por conta própria, confirmam ou não se estão com a infecção. Entretanto, ela diz que os kits enviados pela SES-GO por Anápolis ser uma unidade sentinela são aplicados conforme avaliação das unidades municipais de referência de enfrentamento à Covid-19 no Estado. “Não existe uma preferência, cada unidade faz sua avaliação. Só não temos autorização para testas assintomáticos”, comentou.Em Goianésia, onde o titular da SMS, Hisham Hamida, diz não haver casos graves de internação, todos que se enquadram nos sintomas apontados pelo ministério são testados, usando os kits enviados para a regional de lá. A cidade atualmente conta com 14 pessoas monitoradas que não se enquadram neste perfil, mas são considerados casos suspeitos. O secretário afirma que, assim como nos outros municípios, estas pessoas são orientadas a ficarem isoladas em casa enquanto sintomáticas e pelo período mínimo de 7 dias, dependendo dos sintomas. Em Catalão, a SMS local resolveu aplicar os kits de teste rápido doados por uma mineradora nas 13 pessoas monitoradas que não haviam sido testadas pelo método padrão por não entrarem no que protocoliza o ministério. De acordo com o titular da pasta, Velomar Reis, dois casos foram confirmados como Covid-19. “Não tivemos até agora ninguém em estado grave e já havíamos testado 34 pessoas pelo método padrão (rt-PCR).”Comparação revela defasagemLevantamento feito pelo POPULAR junto a todas as secretarias estaduais de saúde, seja por meio de contato via assessoria ou consulta ao boletim epidemiológico local, mostra que Goiás foi até o dia 23 de abril um dos Estados que, proporcionalmente, menos aplicaram testes para detecção de Covid-19. Considerando o número de habitantes, o Estado fica na frente apenas do Pará e de Minas Gerais.No site da Controladoria Geral do Estado de Goiás (CGE) no dia 23, a informação é que o Estado havia aplicado 2.566 testes, o que dava uma média de 2.735 habitantes por teste. A assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Goiás (SES-GO) apresentou um número maior, 2.720 testes, o que mesmo assim mantém a posição do Estado em relação às outras unidades da federação, o terceiro pior, com uma média 2.580 habitantes por teste aplicado.Alguns destes Estados fazem testes além do que o protocolizado pelo Ministério da Saúde, inclusive o Distrito Federal, que informou fazer testagem em todos os casos suspeitos. Amapá, que lidera a lista, afirmou colher amostras também de idosos, grupos de risco e profissionais de saúde. Este fato foi destacado pela superintendente de vigilância em saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, ao explicar a diferença em relação aos outros Estados. Flúvia destaca como importante o fato de que todos os casos graves são testados e nenhum paciente internado fica sem o diagnóstico de Covid-19, se o tiver. Ela ressalta também a necessidade de que todas as internações por síndrome respiratória aguda grave (Srag) sejam notificadas junto à SES-GO. A superintendente informa que o governo estadual prepara um inquérito epidemiológico para rastrear o avanço do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiás e que este trabalho é mais preciso para este monitoramento do que apenas aumentar o número de pessoas testadas. Para isso, estão sendo avaliados os testes rápidos existentes no mercado - muitos são criticados pela falta de confiabilidade.-Imagem (1.2042685)