Goiás conseguiu zerar o número de gestantes mortas pela Covid-19 no primeiro semestre de 2022. Mesmo com uma alta de 121% no número de casos registrados entre abril e junho deste ano, nenhuma grávida morreu por conta da doença. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) e especialistas consultados pelo POPULAR atribuem o resultado positivo à vacinação do grupo, que chegou a enfrentar uma letalidade de 7,79% em abril de 2021, antes do início da imunização.“É claro que os aprendizados médicos em relação à melhor conduta para tratar os pacientes contam, mas a vacina foi um divisor de águas, Vemos isso claramente em junho, quando tivemos um aumento de casos, mas mesmo assim nenhuma morte”, diz Flúvia Amorim, superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO.A ginecologista e obstetra Ana Tamiris Perini, que atua no Hospital e Maternidade Célia Câmara (HMCC), em Goiânia, conta que há muitos meses não atende nenhuma gestante com sintomas graves da doença. “O que vemos são algumas apresentando sintomas gripais ou até mesmo assintomáticas que, por algum motivo, fazem o teste e dá positivo.”Leia também:- Chikungunya: saiba quais são os sintomas e como tratar- Pesquisa da UFG vê eficácia da BCG contra a Covid-19 Ana Tamiris relata que desde que a vacinação do grupo começou, a maioria das grávidas que ela acompanhou e que precisou de internação por conta da Covid-19 estava com o esquema incompleto.“Assim como com outras vacinas, aqui nós sempre as incentivamos a tomarem todas as doses do imunizante contra a Covid-19 e manter o cartão em dia”, afirma.Grupo de riscoNo início da pandemia, as grávidas não eram parte do grupo de risco da Covid-19. Entretanto, a partir do início de 2021, o cenário mudou e elas começaram a apresentar quadros que evoluíam com gravidade de forma muito rápida. Estudos indicam que a circulação de variantes mais virulentas como, por exemplo, a delta, podem ter influenciado na mudança de dinâmica das gestantes.O infectologista Marcelo Daher explica que no início da pandemia não se tinha tanto conhecimento sobre os grupos de risco da doença e que, por isso, as gestantes não foram incluídas inicialmente. “Não víamos casos entre elas e chegamos a essa conclusão”, lembra.Entretanto, no decorrer da pandemia, fatores de risco começaram a se evidenciar. “Por exemplo, pacientes obesas e com hipertensão. Além disso, percebemos que a Covid-19 no final da gestação adiantava o parto e que essas mulheres, depois de terem os bebês, evoluíam com complicações. Posto isso, constatamos que elas faziam, sim, parte do grupo de risco”, esclarece Daher.Ana Tamiris relembra ainda que a gestação, por si só, faz com que as mulheres tenham a imunidade diminuída, além de sofrerem alterações na respiração. “Sabemos que a Covid-19 é uma doença que causa sobrecarga principalmente no sistema imunológico e no sistema respiratório. Levando em consideração esse contexto, a vacinação surgiu como o melhor risco-benefício para essas mulheres”, explica a ginecologista e obstetra.Recomendações continuamA vacinação das gestantes, puérperas e lactantes contra a Covid-19 representou um alívio para os profissionais de saúde que atuam diretamente com esse público. “Estou na linha de frente desde o início da pandemia e posso dizer que agora vivemos um dos momentos mais tranquilos. Respiramos aliviados desde a chegada da vacina”, diz a ginecologista e obstetra Ana Tamiris Perini, que atua no Hospital e Maternidade Célia Câmara (HMCC), em Goiânia.O final do primeiro semestre de 2021 foi um período complicado para os profissionais que atuam nessa área. Os meses de março, abril, maio e junho tiveram letalidade acima de 2,7% e registraram juntos 50 óbitos de grávidas, o que representa 61% das mortes que ocorreram desde o início da pandemia. “Foram meses terríveis. Trabalhávamos no limite. Recebíamos muitas pacientes com falta de ar e necessidade de intubação ou então do uso de cateter de alto fluxo. Várias precisavam de uma Unidade Terapia Intensiva (UTI) ou pelo menos de permanecerem internadas depois do parto”, relembra a médica.Apesar do cenário positivo, Ana Tamiris alerta que as grávidas não deixaram de fazer parte do grupo de risco da doença. “Outros cuidados além da vacina ainda são necessário como, por exemplo, o uso de máscara e a atenção redobrada com a higienização das mãos. Além disso, a recomendação para evitar locais com aglomerações continua”, destaca a ginecologista e obstetra.Grávidas dizem que vacina é sinônimo de segurançaDepois de permanecer em isolamento quase uma semana, na última sexta-feira (8), a psicanalista Mayara Orlandi, de 32 anos, recebeu o resultado negativo para o exame da Covid-19. Ela está grávida de 36 semanas, mas não teve nenhum sintoma da doença. Essa é a terceira vez que Mayara se contamina com o vírus. A primeira foi em janeiro de 2021, quando ainda não havia nenhuma vacina para a doença disponível. “Tive muitos sintomas. Perda de olfato, perda de paladar, muita sonolência, febre e mal-estar”, relata a moradora de Goiânia. Ao longo do ano passado, ela tomou a primeira e a segunda doses da vacina contra a Covid-19. No dia 19 de janeiro deste ano ela tomou a dose de reforço. No dia 22 do mesmo mês, testou positivo para a doença. Mayara estava grávida de 13 semanas. “Foi tranquilo. Mantive a calma e os leves sintomas foram embora do mesmo jeito que vieram. Entretanto, meu filho, de 5 anos, que não estava vacinado, teve cinco dias de febre”, conta.Nos primeiros dias de julho, ela testou positivo novamente para a doença. “Fiquei apenas com o nariz entupido durante a noite. Estive praticamente assintomática”, relata. A psicanalista diz que decidiu tomar a dose de reforço porque com ela se sente mais segura contra a doença. “Julgo ser de extrema responsabilidade não só comigo, mas com a minha filha que estou esperando”, destaca Mayara.A segurança também foi o motivo que levou a técnica em enfermagem Weslane Rodrigues, de 31 anos, a se vacinar. Ela, que também é mãe de uma garota de 5 anos, está grávida de 31 semanas, de um menino. “Quando engravidei, já tinha tomado duas doses. Quando descobri a gravidez me afastei do trabalho, pois atuava em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Mesmo assim, decidi tomar a dose de reforço logo no início da minha gestação.”Apesar do marido e da filha já terem contraído a doença, Weslane nunca se infectou. A moradora de Aparecida de Goiânia afirma que faz de tudo para se proteger e evitar se contaminar com a Covid-19. “Sou da área da saúde. Já vi o que essa doença pode fazer. Evito ficar em ambientes lotados e tomo todos os outros cuidados básicos”, diz. Dupla proteçãoA ginecologista e obstetra Ana Tamiris Perini, que atua no Hospital e Maternidade Célia Câmara (HMCC), em Goiânia, explica que a vacinação contra a Covid-19 não protege somente as mulheres que estão grávidas, mas também os bebês. De acordo com ela, já existem estudos que indicam que a proteção da vacina pode passar para o feto pela placenta. “Ela (placenta) é o órgão nutridor do bebê. Sabemos que vários anticorpos conseguem passar pela barreira que ela tem. A vacina dTpa, por exemplo, tem um componente anticoqueluche neonatal. Nós aplicamos esse imunizante na mãe, mais para proteger o bebê. Acreditamos que a vacina da Covid-19 possa funcionar mais ou menos com a mesma lógica. Ainda estão sendo feitos estudos, mas já foram detectados anticorpos específicos para a doença em bebês que nasceram de mães vacinadas.”Busca pelo reforço está baixa, o que pode comprometer resultadosDas 30 mil gestantes goianas que tomaram a primeira dose da vacina, 27,1 mil (90%) voltaram para tomar a segunda dose. Entretanto, apenas 11,4 (38%) mil tomaram o reforço. A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim, diz que o número é preocupante pois assim como para o restante da população, a dose de reforço é essencial para que as grávidas mantenham uma alta proteção contra a Covid-19. “Elas também precisam desse reforço. Ele é recomendado pelo Ministério da Saúde e é tão seguro quanto a primeira e a segunda doses. É inadmissível que com as informações que temos hoje e com a vacina a nossa disposição, voltemos a ter mortes de grávidas por conta dessa doença”, afirma Flúvia. A superintendente aponta que apesar de a adesão das gestantes ao reforço estar abaixo do esperado pela Saúde, ela tem seguido o mesmo padrão do restante da população. Em Goiás, de acordo com o Painel da Covid-19, da SES-GO, existem 2,5 milhões de pessoas com a dose de reforço em atraso e outras 713,6 mil pessoas que não voltaram para tomar a segunda dose.“É um número que nos preocupa, já que já estamos administrando até o segundo reforço. Com a doença podendo vir em ondas, não podemos ter a população desprotegida”, afirma Flúvia.