A Polícia Civil investiga golpistas que se passam por fazendeiros e aplicam golpes em empresas&nbsp;de Goiás. Segundo a Polícia Civil, os alvos são principalmente empresas do&nbsp;ramo de sementes e insumos agrícolas, mas os suspeitos aplicam golpes em qualquer empresa que vende mercadorias em atacado.&nbsp;O prejuízo causado é de mais de R$ 1,5 milhão.&nbsp;&nbsp;

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Caio Martines, os criminosos entraram em contato com comerciantes em Goiânia, Catalão, Rio Verde e Goiatuba, se passaram por clientes que tinham os dados cadastrados nessas lojas e fizeram encomendas de várias cargas. Em seguida, pagaram freteiros para retirar os produtos dos locais e levaram para Candeias, em Minas Gerais.&nbsp;

<cite>Os golpistas entravam em contato com as empresas e faziam elas emitirem nota em nome das pessoas que de fato são clientes. Depois, entravam em contato com freteiros particulares, sem que eles soubessem do crime, orientavam eles a irem até o local para retirar carga e após um freteiro tirar a carga da empresa, essa carga passava por vários outros freteiros até chegar ao destino”, explica o delegado.&nbsp;</cite>

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<a href="https://opopular.com.br/cidades/especialista-em-furtar-maquinas-agricolas-e-preso-suspeito-de-mais-de-20-crimes-em-goias-diz-policia-1.3102650" target="_blank">Especialista em furtar máquinas agrícolas é preso suspeito de mais de 20 crimes em Goiás, diz polícia</a></div>

Durante a investigação, a polícia conseguiu chegar até os golpistas e encontrou os locais onde as mercadorias eram armazenadas. Porém, os suspeitos conseguiram fugir, mas uma carga avaliada em R$ 50 mil foi apreendida.

Agora, a polícia trabalha para identificar e prender as pessoas envolvidas no crime. Os suspeitos podem responder por estelionato eletrônico e associação criminosa. A pena é de até 11 anos de prisão.&nbsp;

Golpe da gincana&nbsp;

O delegado explicou que o golpe ocorre após os criminosos terem acesso às informações das empresas através de vazamento de dados.

<cite>Eles possuem a relação de clientes, ligam para as empresas, se passam por esse clientes, fornecem o CNPJ, encomendam os produtos e solicitam nota fiscal. Como os clientes estão acostumados a negociar com as lojas, as empresas não desconfiam de um golpe", afirma Caio.&nbsp;</cite>

<h2>Cuidados</h2>

Pra não cair no golpe, o delegado ressalta que as empresas devem ficar atentas aos números de telefones usados pelos golpistas para contatar a empresa.

<cite>A empresa tem um banco de dados que consta o número de telefone daquele cliente. Então, se o criminoso estiver se passando pelo cliente com um número diferente, é importante que a empresa se atente e faça contato com o número que está cadastrado no sistema para averiguar se aquela compra é verídica", explica Caio.&nbsp;&nbsp;</cite>

<h3>Freteiros</h3>

Em relação aos freteiros, o delegado explica que eles não devem levar uma mercadoria para um endereço diferente do que está na nota porque mesmo sem a intenção, eles podem contribuir para que um criminoso consiga a mercadoria sem pagar por ela.

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Golpistas se passam por fazendeiros e dão golpes de mais de R$ 1,5 milhão em empresas de Goiás, diz polícia

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Matéria - Cidades

investigação

Webstories

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Avião apreendido pela polícia durante operação contra organização criminosa especializada em sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e estelionato (Divulgação/Polícia Civil)

Quase 500 veículos, dois aviões e sete imóveis foram apreendidos em uma megaoperação contra uma organização criminosa especializada em sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e estelionato em Rio Verde, no centro de Goiás. Segundo a polícia Civil, quatro pessoas foram presas e outros dois suspeitos estão foragidos nos Estados Unidos. Até o momento,13 vítimas registraram ocorrência e tiveram juntas um prejuízo de aproximadamente R$ 40 milhões. Foi solicitado o bloqueio de R$ 19 bilhões dos investigados.

<cite>Conseguimos apurar que essa organização criminosa teria movimentado, em pouco mais de três anos, aproximadamente R$ 19 bilhões. Ao que tudo indica, eles estão praticando esses crimes já há alguns anos e alguns deles já foram investigados anteriormente”, explicou o delegado&nbsp;Márcio Henrique Marques.</cite>

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Em nota, a defesa de dois, dos quatro presos, disse que "acredita plenamente na inocência dos investigados e aguarda com serenidade o trâmite regular do processo, confiando que após apuração minuciosa sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, a justiça será efetivamente realizada".

Também informou que o processo está sob sigilo, e que, "até o presente momento, não teve acesso à íntegra dos autos. Por essa razão, não emitirá comentários ou avaliações sobre o caso neste momento".

Por não terem os nomes divulgados, O POPULAR não conseguiu localizar as defesas dos outros dois suspeitos presos até a última atualização desta reportagem. &nbsp;

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/influencers-suspeitos-de-ensinar-como-importar-eletronicos-sem-pagar-impostos-s-o-alvo-de-operac-o-da-pf-em-camelodromo-1.3204370" target="_blank">Influencers suspeitos de ensinar como importar eletrônicos sem pagar impostos são alvo de operação da PF em camelódromo</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/empresarios-que-vendiam-ouro-se-tornam-reus-por-sonegac-o-de-r-790-milh-es-em-impostos-diz-mpf-1.3204364" target="_blank">Empresários que vendiam ouro se tornam réus por sonegação de R$ 790 milhões em impostos, diz MPF</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/carros-de-luxo-avaliados-em-r-1-5-milh-o-s-o-apreendidos-em-operac-o-que-investiga-emprestimos-fraudulentos-1.3204363" target="_blank">Carros de luxo avaliados em R$ 1,5 milhão são apreendidos em operação que investiga empréstimos fraudulentos</a></div>

O POPULAR não conseguiu contato com a defesa de Camila Rosa Melo e Vinicius Martini de 
Mello, que estão foragidos, pelo número disponível no Cadastro Nacional dos Advogados (CNA) até a última atualização desta reportagem. &nbsp;

<div attr-cid="policy:1.3206228" attr-version="policy:1.3206228:1733250085" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.3206228" data-onecms-type="article" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.3206228', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.3206228">Webstories (1.3206228)</a></div>

<h2>Investigação</h2>

A investigação teve início em junho deste ano após Vinicius, que é&nbsp;corretor de grãos, dar um golpe milionário em produtores rurais de Rio Verde e fugir para os Estados Unidos. Durante a operação, realizada nos dias 28 e 29 de novembro, foram cumpridas medidas judiciais nas cidades de Rio Verde, Morrinhos, Goiânia, Santo Antônio da Barra, Montividiu e nos Estados Unidos. No total 34 mandados de busca e apreensão e quatro, de um total de seis,&nbsp;mandados de prisão foram cumpridos. &nbsp;

“Nós apreendemos armas, joias, documentos, veículos importados, caminhonetes, caminhões bitrens, que a depender do modelo, vale mais de R$ 1 milhão, e casas de luxo. A quantia aproximada dos bens sequestrados é de R$ 200 milhões”, informou o delegado.&nbsp;

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Caminhão e moto sequestrados pela polícia durante operação contra organização criminosa especializada em sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e estelionato (Divulgação/Polícia Civil)

<h2>Como agiam&nbsp;</h2>

A PC explicou que&nbsp;a prática criminosa já vem da família. &nbsp;Vinicius comprava os grãos com o preço acima da tabela e os vendiam&nbsp;abaixo&nbsp;da tabela. “Quem ficava com essa conta era o Estado de Goiás porque eles não recolhiam o&nbsp;tributo.&nbsp;Eles também constituíam empresas exclusivamente para emissão de notas fiscais frias e contratavam laranjas para constituir essas empresas e promover a sonegação fiscal”, afirma o delegado.&nbsp;

A investigação apontou que, a partir da sonegação fiscal, eles praticaram diversos atos característicos de lavagem de capitais para que o dinheiro desviado do Estado retornasse para as contas como se fosse lícito. “Não satisfeito com os valores que obteram com a prática de sonegação fiscal, ou com a prática de diversos estelionatos, eles vitimaram&nbsp;os produtores rurais de Rio Verde. Ele comprou dos produtores, não pagou e vendeu para outros e não entregou, informou o delegado. &nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3205742" attr-version="policy:1.3205742:1733152823" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3205742/WhatsApp Image 2024-12-02 at 10.52.23.jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Aviões apreendidos durante operação contra organização criminosa especializada em sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e estelionato (Divulgação/Polícia Civil)

Colaborou Gabriela Macêdo

Polícia apreende quase 500 veículos, aviões e imóveis de suspeitos de golpes e sonegação fiscal

 Megaoperação

Luzanir e sua família têm 54 matrículas de propriedades rurais. Ao todo, são cerca de 2,6 mil hectares em que produzem grãos e carne para exportação, buscando conciliar seus ganhos com a preservação do que consideram o verdadeiro patrimônio: a terra e a água de onde vem sua prosperidade.

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Jerônimo tem o cuidado de deixar as milhares de matrizes do rebanho e suas crias sempre longe das margens do rio de sua fazenda e perto de alguma sombra, para não sofrerem tanto com o calor. O zelo pelas matas e pelos bichos ele aprendeu com o pai, de quem herdou também o traquejo de pecuarista.

Ambos cumprem a legislação ambiental e vão além do que se pede nela. Ambos são exemplos de gente do campo em Goiás que já se deu conta da nova conjuntura. É que, vivendo já o status da emergência climática, mais do que desejável, tornou-se fundamental buscar o êxito no agronegócio respeitando o tempo e os limites do meio ambiente. Luzanir Luíza de Moura Peixoto e Jerônimo Volpato fazem parte de um grupo ainda pequeno, mas que necessariamente terá de se multiplicar entre os grandes produtores rurais brasileiros: aqueles que entendem que não basta mais apenas obedecer às frações legais de reserva e áreas de preservação permanente (APPs) – é preciso implementar rapidamente medidas de sustentabilidade muito mais arrojadas.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/agronegocio-se-destaca-entre-os-r-35-5-milh-es-ja-doados-por-pessoas-fisicas-1.3182442" target="_blank">Agronegócio se destaca entre os R$ 35,5 milhões já doados por pessoas físicas</a> 
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A mudança de paradigma é compulsória e se revela a partir de um pressuposto lógico: se há controvérsias sobre ser o maior fator poluidor, não há dúvidas de que o agro polui muito, um efeito colateral de ser o motor do produto interno bruto (PIB) nacional. Mantendo a mesma metáfora mecânica, o agronegócio, para a economia de Goiás, é como um V12 turbo de uma Ferrari.&nbsp;

Justamente por sua hegemonia, é essa atividade econômica, sob algumas análises, a que gera mais emissões de carbono para a atmosfera no Estado e no País. Segundo relatório do Observatório do Clima, em 2021 cerca de 24% das emissões de gases estufa no Brasil vieram da agricultura e da pecuária. Só houve mais emissões pelo uso de terra e florestas (49%). Entretanto, projeta-se esse dado também na mesma conta, já que são lançamentos tidos como diretamente ligados ao setor primário.

Em português bem claro: os impactos do caos climático se mostram cada vez mais presentes e não serão minimizados sem a adesão maciça do agronegócio à pauta ambiental (veja quadro ao fim desta reportagem), de modo bem mais avançado do que o previsto pelo Código Florestal e leis afins. Mas, com uma expressão já em desuso na era digital, a urgência de ações de reversão é uma ficha que ainda não caiu. “A solicitação para desmatamento continua intensa nas secretarias de meio ambiente e demais órgãos ambientais, visando abertura de áreas para pastos e agricultura. O produtor em geral ainda não se conscientizou que é hora de frear esse processo”, diz o engenheiro agrônomo Marcelo Bueno, que também atua na área de paisagismo e vem de uma família do mesmo setor.

<h2>Informações contrárias</h2>

Por causa de seu ofício como pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Mellissa Soler está sempre em contato direto com produtores, em palestras e outros eventos. Ela percebe que a temática das mudanças climáticas desperta interesse entre eles, mas também que há certa confusão e choque causados por conta de acesso a informações já ultrapassadas. “Eles se mostram atentos para entender o que acontece e como lidar com o que estamos vivendo. Por outro lado, são submetidos também a narrativas convictas de pesquisadores mais velhos e que infelizmente usam conceitos já superados pela ciência, aos quais continuam arraigados.”

Sem esconder que se espanta com profissionais de renome na área ainda difundirem tais discursos para leigos propensos a acreditar neles, Mellissa, que também é doutora em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), lamenta a situação. “Muitos acabam por achar mesmo que as mudanças climáticas são algo sobre o que o homem não tem responsabilidade, que aconteceriam de qualquer forma.” Por outro lado, ela percebe que o processo começa a avançar. “A sociedade parece entender mais que essa conjuntura não é responsabilidade de um governo ou de algum setor em particular, mas das decisões que todos tomamos.”

Nascente ressuscitada e solo trabalhando o ano inteiro

Filhos de famílias que já tinham o mundo rural como meio de subsistência, Luzanir e Donizete Peixoto – conhecido como Donizete Cabrito – se casaram em 1987. Psicóloga, artista visual, professora aposentada e mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), ela sempre acompanhou de perto a lida do marido no campo. “O começo foi muito difícil, não tínhamos propriedade, então a gente arrendava. Tirava leite depois de se levantar de madrugada, essas coisas. Depois, ele herdou um pedacinho de terra do pai.”

Ao primeiro “pedacinho”, hoje se somam mais 53 matrículas de propriedade. O diferencial do trabalho é a preocupação com a preservação ambiental, que sempre permeou o crescimento do casal como produtores rurais. O círculo de amigos, com muitos técnicos e pesquisadores que lhes apresentavam diversas formas de trabalhar, fez com que tivessem desde o início uma relação diferente com a terra. “A gente viu que era possível não só extrair, mas também cuidar bem do pasto, da lavoura, tudo sem deixar de ter lucro”, ressalta Luzanir.

No fim dos anos 90, a família começou o processo de integração entre lavoura e pecuária. “Um sistema quase perfeito, não era perfeito porque perfeito somente Deus, como dizia meu marido”, conta a produtora. “Na integração, não importa se for pequeno ou grande produtor, é possível sobreviver e cuidar bem da terra – porque ela vai estar forrada o ano todo –, tratar bem o gado e também zelar pelo meio ambiente”, afirma.

O ponto-base de todo o empreendimento sempre foi e continua sendo a Fazenda São José, em Bela Vista de Goiás, de 670 hectares e totalmente certificada. “Quando a adquirimos, havia uma nascente em que só havia três buritis e areia. Estava toda devastada. Resolvemos reflorestar o lugar, com apoio da Embrapa, especialmente de João K”, lembra a produtora, referindo-se ao engenheiro agrônomo João Kluthcouski, nome referencial na técnica de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), uma ferramenta preciosa para a sustentabilidade.

<h3>'Cuidar de um bebê'</h3>

Reconstruir a nascente não foi um trabalho fácil, Luzanir admite. “Muita gente responsabiliza o produtor, mas é um processo trabalhoso. É preciso muita persistência contra pragas, formigas, perdendo mudas e tendo de fazer a reposição. Um processo complexo de pelo menos cinco anos, cuidando ali como se cuida de um bebê”, compara.&nbsp;“A orientação técnica foi essencial para saber as espécies de plantio, porque isso depende do terreno, se é área de brejo ou se é mais cerradinho. Depois desse período, a manutenção é mais simples.” E a APP ganhou até nome: Nascente João K.

Em outra fazenda da família, houve apenas o cercamento da área de preservação que estava degradada. “Apenas jogamos algumas sementes. Depois de 15 anos, a nascente está toda recuperada, com plantas nativas, praticamente só pela ação da natureza”, relata Luzanir.&nbsp;

Donizete Cabrito morreu em outubro do ano passado, mas deixou outro tipo de semente já germinada. Tanto Luzanir como as filhas Luiza e Luana dão sequência ao trabalho com a empresa rural que formaram, aprimorando os manejos. Mantêm um confinamento sustentável em que os dejetos são aproveitados como fertilizantes.

Com a adoção do plantio direto, o solo está sempre ocupado, trabalhando de forma sustentável, seja por meio dos subprodutos da pecuária, pela lavoura na safra ou pela safrinha. “Nunca deixamos o solo nu, desprotegido”, receita a fazendeira. A lição para isso tinha vindo já no primeiro ano da prática, quando o esterco ficou ao ar livre e o material foi para uma represa, com grande degradação. “Se continuasse assim por anos e anos, acabaria tudo.” O processo, também sob orientação da Embrapa, complementa a proteção da nascente em relação ao ciclo hidrológico. “Tem gente que acha que tem de explorar ao máximo a natureza, mas é exatamente o contrário”, conclui.

<h2>Conforto para o gado e proteção para as reservas</h2>

“Em um calor como está agora, o gado sofre demais. O estresse térmico é sempre uma preocupação de quem cria. É preciso ter algumas proteções para o rebanho, mas hoje o pessoal acaba arrancando todas as árvores da propriedade, para a agricultura. Mas, se você reparar, nas fazendas que têm árvores os bichos ficam todos embaixo delas.” A observação é de Jerônimo Volpato e mostra uma preocupação que passou de pai para filho: na Fazenda Bom Retiro, no município de Bonópolis, região norte de Goiás e a 415 quilômetros da capital, ele segue o legado de Waldir Volpato, que faleceu há dez anos e do qual ele se tornou, entre os três irmãos curitibanos, o sucessor na lida com a atividade agropecuária.

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Jerônimo Volpato, pecuarista: respeito às matas e aos animais (Divulgação)

Em 5,6 mil hectares, ele trabalha há 25 anos com cria de bezerro da raça Angus de alta qualidade em sua primeira fase, com seis meses. Lá, Jerônimo tem 5 mil matrizes, a partir das quais são produzidos 4 mil bezerros por ano, sempre por inseminação e já com venda garantida para exportação a “grifes de carne”, por conta da qualidade com que os animais são tratados, a começar de um quesito essencial: a água. “Nosso gado não bebe em represa, nem em cacimba (buraco escavado até o lençol freático), nem desce para margem de rio”, diz. A água é encanada, com captação de uma represa e vai direto aos bebedouros. “Ela chega limpa e próxima para o gado, já que nossos pastos são divididos em quadrantes, cada um com 20 hectares.” Em cada quadrante ficam 22 vacas e seus bezerros.

A taxa de ocupação fica em torno de 1,2 unidade animal (ua) por hectare (ha). Cada ua corresponde a 450 quilos, que é o peso base de uma vaca média. Isso significa que o terreno é pouco pressionado. “Não posso ter a fazenda muito lotada para tratar do animal com a maior qualidade possível, pois o melhor bezerro é o nascido na época da seca, em agosto”, conta Jerônimo.

“O diferencial de nossa fazenda, que é uma herança da dedicação de meu pai, é ter muita árvore, muita vegetação”, diz. A propriedade tem 13 quilômetros de divisa com o Rio Crixás, onde o gado não chega. “Está tudo cercado, preservado de 100 a 200 metros da margem”, relata. Uma fazenda avaliada como modelo em sustentabilidade por técnicos de órgãos ambientais que fiscalizam ou simplesmente visitam a propriedade.

<h2>Crédito diferenciado pode ser incentivo à sustentabilidade</h2>

Se existem aqueles produtores que buscam fazer além do que devem, mesmo sem nenhum incentivo a mais e executando um arcabouço técnico que é por si só trabalhoso, por outro lado a falta de uma diferenciação positiva no quesito financeiro parece atrasar a adesão de mais empresários rurais a uma conduta mais sustentável. “Seria muito bom sensibilizar tanto o agro quanto o governo a entrarem em um tipo de contribuição mútua”, diz a pesquisadora Mellissa Soter, da Embrapa.&nbsp;

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Mellissa Soter, da Embrapa: “É possível lucrar sem desmatar” (Divulgação)

Nesse sentido, ela avalia, linhas de crédito mais vantajosas para quem apresentar projetos de sustentabilidade para redução de emissão de gases, com orientação técnica, poderiam estabelecer um novo paradigma. “É um tipo de política pública onde todos podem ganhar, são formas de incentivo muito efetivas. Hoje, muita gente tem boa intenção, mas ou não tem condições efetivas de adotar ou estabelece outras prioridades.”

Diante de todos os sinais dados pelos cientistas por décadas e as consequências já expostas pelo comportamento do clima nos últimos tempos – e no Brasil mais assustadoramente desde o ano passado, com secas e inundações jamais vistas –, a esperança é de que o setor adira de forma maciça ao que estabelecem estratégias como o Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+), para frear a emissão de gases de efeito estufa (GEEs). O Plano ABC+ é formado por diretrizes nacionais, mas reforçado localmente. Embora em tese ele já esteja em vigor desde 2020, em Goiás o plano deve ser apresentado neste mês, com a adoção de oito metas.

O agrônomo Marcelo Bueno acentua a necessidade de o meio rural entender a necessidade de agir, independentemente de existir um plano governamental ou não. “Eu defendo botar um outro ‘mais’ nesse plano: a adoção do aumento de produtividade e também da redução de áreas agrícolas”, diz. “Há 20 anos eu reitero que não se pode mais desmatar. Não precisa. O que deve existir é recuperação de áreas degradadas. E quem pode fazer isso é o produtor rural. Eles são os donos das áreas e das florestas.”

Sobre o argumento, comum entre representantes do agronegócio, de que o setor é quem faz a verdadeira preservação, por meio das reservas legais que existem nas propriedades, Bueno responde. “Mas quem iria preservar, então? O Elder, jornalista, que mora na cidade? Você vai preservar a árvore da porta da sua casa, do quintal. Nada mais natural que sejam eles, que detêm a propriedade rural, os maiores responsáveis pela preservação”, ressalta.

Mellissa Soler concorda. “Não há nenhuma necessidade de abrir novas áreas para culturas ou pecuária. O sistema de pastagem degradada, por exemplo, poderia retornar a excelentes índices de produtividade se fosse adotado o sistema integrado de produção. Infelizmente, o produtor, especialmente o pecuarista, ainda tem receio de colocar árvores na propriedade.

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Luta contra o caos climático passa pela adesão do agro

Meio ambiente

Maiores doadores

A campanha eleitoral deste ano em Goiás já conta com R$ 35,5 milhões de doações de pessoas físicas até esta quarta-feira (2). São quase 9,3 mil financiadores, com transferências que variam de centavos a R$ 580 mil, segundo dados das prestações de contas dos candidatos e partidos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Entre os 18 doadores que contribuíram com mais de R$ 100 mil (veja quadro), 16 são empresários do setor de agronegócios ou produtores rurais, que financiaram campanhas em 15 cidades.

Ao total, a campanha nos municípios goianos já teve arrecadação de R$ 240,8 milhões, sendo R$ 182 milhões de recursos públicos (fundos eleitoral e partidário) e R$ 58,6 milhões de recursos privados, que incluem, além das doações de pessoas físicas, a aplicação de recursos próprios dos candidatos.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/apos-queixas-sobre-abandono-caiado-vai-a-anapolis-nesta-quinta-1.3182450" target="_blank">Após queixas sobre abandono, Caiado vai a Anápolis nesta quinta</a> 
<a href="https://opopular.com.br/politica/na-reta-final-deputados-e-vereadores-deixam-sess-es-para-depois-1.3182448" target="_blank">Na reta final, deputados e vereadores deixam sessões para depois</a></div>

Em 2020, na prestação de contas total das campanhas, as receitas somaram R$ 239 milhões (R$ 303,4 milhões atualizados com a inflação do período), com recursos de pessoas físicas em valores maiores - R$ 65,8 milhões (R$ 83 milhões corrigidos). Os recursos públicos somaram R$ 131 milhões (R$ 167 milhões) e privados, R$ 107 milhões (R$ 136 milhões). Os candidatos este ano têm prazo até 6 de novembro para prestar contas finais da campanha de primeiro turno.

Em balanço parcial divulgado no dia 16 de setembro, o Giro já havia mostrado a grande presença do agro nas maiores doações em Goiás. De lá para cá, o porcentual de doações de pessoas físicas subiu 62%, com entrada de novos doadores no ranking.

A maior transferência privada até agora é do empresário Fabio Cardoso de Oliveira, sócio de sete empresas do agro e uma do setor imobiliário em Ribeirão Preto (SP). Ele repassou R$ 580 mil para a campanha do ex-prefeito de Goiatuba Marcelo Coelho (MDB), que tenta voltar ao cargo.

Produtor rural, o emedebista destaca em seu perfil nas redes sociais que “o agro move o país”. Marcelo Coelho também recebeu R$ 130 mil de um outro nome da lista dos maiores doadores: Adevaldes Pereira Junior, ex-presidente do Sindicato Rural do município e proprietário de empresa que atua em inseminação artificial em animais.

A doação dos dois representa 90% do que o candidato declarou de receita até agora (R$ 841 mil). Coelho recebeu R$ 81,4 mil de recursos públicos: R$ 32,5 mil da direção nacional do MDB e R$ 48,9 mil do União Brasil.

No segundo lugar do ranking, está Isabela Leão Assad, proprietária de empresa de Rio Verde que tem cultivo de soja e milho e criação de gado entre suas atividades. Ela doou R$ 270 mil para o vereador do município Ronaldinho Cruvinel (PP), candidato à reeleição.

O empresário Alberto Borges de Souza, da Caramuru Alimentos, transferiu R$ 265 mil para o prefeito de Itumbiara, Dione Araújo (UB), que tenta mais um mandato. O empresário Marcos Helou, do Grupo Piracanjuba, distribuiu R$ 242 mil entre três candidatos a prefeito: Leandro Vilela (MDB), em Aparecida de Goiânia; Sandro Mabel (UB), na capital e Dione do Cará (PP), em Bela Vista de Goiás.

O produtor rural Antônio Simão Abdul Nour, que atua em cultivo de cana de açucar e criação de bovinos, além de ser dono de empresa do setor imobiliário no interior de São Paulo, doou R$ 232 mil para o ex-prefeito de Catalão Velomar Rios (MDB), que tenta voltar ao cargo. Ele contribuiu também com a campanha de Jorge Feres, candidato a prefeito de Borborema (SP), com R$ 50 mil.

Proprietário de empresas de agronegócio, Geraldo Bosco Figueiredo doou R$ 200 mil para a campanha do candidato a prefeito de Cristalina Dr. Luis Otávio (PL). O nome do PL também contou com R$ 156 mil do empresário e produtor rural do município Dario Luiz Turra, dono de empresas do agro e de construtora.

Já o empresário João Carlos Carneiro, que tem madeireira e construtora em Ipameri, contribuiu com R$ 197 mil para a campanha do prefeito Jânio Pacheco (UB) à reeleição. O prefeito também contou com R$ 120 mil da empresária Maria José Teixeira Gontijo, cuja família é dona da Agropecuária Lago Azul com fazendas em Ipameri e Cristalina.

O empresário Valterdan Fernandes Madalena, do Grupo Cristal Alimentos, doou R$ 150 mil para a campanha de Silvio Vaz (MDB) a vereador de Goiânia e R$ 15 mil para Jeronymo Siqueira (PL) à Prefeitura de São Miguel do Araguaia.

Produtor rural de Goiatuba, Gilberto Elias Zure fez doações para 51 candidatos a vereador da cidade, transferindo R$ 3 mil para cada um. A cidade tem ao total 127 postulantes a cadeiras na Câmara Municipal e são 13 vagas.

Entre os dois do ranking que não são do agro, está o empresário Raul Alencar de Sena, fundador do canal Investidor Sardinha e dono de empresas de educação financeira e outros ramos. Ele transferiu R$ 150 mil para a campanha de Mabel em Goiânia.

O outro nome é Daniel Ferreira Rodrigues, que atua no ramo imobiliário em Nova Veneza (GO). Ele doou R$ 114,3 mil para Elisa da Saúde (PP), candidata a prefeita de Nerópolis.

Completam a relação dos 18 maiores doadores os produtores rurais Júlio Raimundo do Prado Neto, dono da Fazendas JP em Jataí; Welson Gomes da Silveira; e Frederico Lemos Cardoso Cunha. Júlio repassou R$ 120 mil a três partidos de Jataí: União Brasil, MDB e Podemos, com R$ 40 mil para cada.

Welson doou R$ 100 mil para ajudar o ex-prefeito de Inhumas José Essado (UB), que tenta voltar ao cargo, e R$ 9 mil para o prefeito de Araçu, Milton de Paula (UB), candidato à reeleição.

Já Frederico repassou R$ 105 mil ao prefeito de Quirinópolis, Anderson de Paula (PDT), que também disputa a reeleição.

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Agronegócio se destaca entre os R$ 35,5 milhões já doados por pessoas físicas

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Eleições 2024

O pecuarista Wagner Miranda garante que os produtores já estão acostumados com o período de entressafra, quando há uma diminuição natural da qualidade das pastagens, e já preveem a necessidade de suplemento de alimentação para o gado. Mas, quando o clima surpreende pela intensidade da variação climática, com temperaturas muito elevadas, baixíssima umidade do ar e estiagem muito prolongada, o período de entressafra fica mais intenso.

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“Tradicionalmente, nos preparamos da melhor forma, mas a intensidade destas variações castigam muito os animais, levando a um sofrimento intenso, os cursos perenes de água chegam a secar”, lembra. A disponibilidade de água para o rebanho fica muito menor pois os cursos dos rios diminuem, a água fica com menos quantidade e qualidade, tem mais impurezas. Outro problema é quando os poços que abastecem os bebedouros diminuem a vazão e não há água suficiente para levar para o gado.

Com menor disponibilidade de alimentos, os animais de corte vão para os frigoríficos com menos peso, produzindo menos carne, e há uma redução na produção de leite das raças leiteiras. O problema também pode levar à redução da fertilidade e até a interrupção da gestação de alguns animais. “As perdas ocorrem por causa do sofrimento intenso deles, que têm sua qualidade de vida reduzida”, conta.

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Em casos mais extremos, período de secas mais severas também podem aumentar a mortalidade. O resultado final é prejuízo financeiro. Para tentar reduzir as perdas, a saída é gastar mais com ração e suplementos alimentares, além de confinamento, que têm alto custo.

Outro complicador é quando as condições climáticas tão desfavoráveis se juntam aos incêndios, de causa natural ou criminosos. “Hoje, a situação é dramática. Temos vários depoimentos de vários pontos do Vale do Araguaia hoje, com capim muito seco e pouca vegetação, que estão sendo varridos pelo fogo. São prejuízos financeiros e ambientais imensuráveis. Tenho animais em pastagens de Anápolis, Iporá, Arenópolis, Inhumas e Caturaí, e todas estão na mesma situação”, conta.&nbsp;

O fogo queima as pastagens e destrói cercas e outros equipamentos, ameaçando até as moradias. “Estamos fazendo turnos de vigília à noite para coibir o fogo logo no início, mas tudo que fazemos parece pouco quando o fogo chega”, diz.

Para o pós-doutor em Engenharia Ambiental, Antônio Pasqualeto, professor do IFG e da PUC Goiás, daqui para frente sempre teremos recordes sucessivos de enchentes e secas, porque sempre haverá uma maior que a outra, extremos muito ruins para o planeta. Ele lembra que temperaturas mais altas e umidade mais baixa alteram o ciclo hidrológico e a produção vegetal, o que impacta até as perspectivas de investimentos, além do custo e a disponibilidade de seguros. “As seguradoras não estão querendo mais fazer seguros no Rio Grande do Sul”, destaca. Segundo ele, estes problemas podem gerar processos migratórios.&nbsp;

Nas regiões Centro-Oeste e Norte há falta de água para abastecer o crescimento populacional e econômico. “Somos o maior celeiro de produção no Centro-Oeste, mas as mudanças climáticas levam a alterações para agricultura, que já é uma atividade de risco e, agora, não está mais oferecendo segurança ao produtor rural, mesmo com altos investimentos”, diz o professor.&nbsp;

O resultado de tudo é quebras das cadeias produtivas, o que gera processos inflacionários. Pasqualeto prevê que os custos ambientais terão peso gigante na economia de agora em diante. Por isso, é preciso valorar os serviços ambientais, aprimorando pagamentos sobre o uso de recursos naturais, que devem entram no custo de produção. “O pagamento por serviços ambientais é a melhor estratégia, premiar aqueles que conservam os recursos ambientais.”&nbsp;

Seria uma espécie de recompensa para, por exemplo, quem cuida da água, conserva florestas e o solo ou até cria abelhas. “Isso estimularia as pessoas a cuidarem dos recursos naturais. Os problemas demandam recursos para prevenção e recuperação e os governos terão de pensar num fundo de meio ambiente, o que também mexe com a economia”, completa.

<h2>Produção industrial</h2>

As indústrias que captam água do Rio Meia Ponte começam a ser impactadas pela queda na vazão do rio. Flávio Rassi, vice-presidente da Fieg (Federação das Indústrias do Estados de Goiás) e presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da entidade, informa que indústrias e produtores já estão seguindo a deliberação do Comitê do Meia Ponte de reduzir em 50% a captação.

Segundo ele, dependendo do nível da escassez de água, a indústria pode ter impactos, como redução ou até interrupção da produção. “Setores como agroindústria, mineração e construção civil podem sofrer porque precisam muito de água, desde a cadeia de insumos até a produção e limpeza na indústria. Isso aumenta os custos operacionais, o que pode causar perda de competitividade, impactando toda cadeia produtiva.”

Outro ponto é o alto custo da energia elétrica, pois a geração fica mais cara pela escassez hídrica. Indústrias que dependem de insumos da agricultura e pecuária podem ser muito afetadas, aumentando os preços de vários produtos. “A indústria já faz uso muito racional da água, sem desperdícios em seus processos produtivos. Muitas fazem captação direta e devolvem esta água em até em melhores condições.”

Em nota, a Semad (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) admitiu que indústrias são prejudicadas pela redução na disponibilidade de água. Mas lembrou que todos têm que colaborar para que continue a haver água para os múltiplos usos.