O comerciante Kleber Nascimento de Melo, de 49 anos, matou a mulher, Jeanny Leonel Ribeiro da Silva, de 30 anos, em Formosa, no entorno do Distrito Federal, um mês antes de ir a júri popular pelo assassinato de outra companheira, ocorrido em Bonfinópolis. E, se por um lado ele já tinha um histórico como agressor, Jeanny já havia sido vítima de violência doméstica. Em 2019, ela denunciou o então marido, um rapaz de 27 anos, por ameaça e lesão corporal. Dono de uma sorveteria, Kleber matou Jeanny na madrugada de terça-feira (7) com golpes de barra de ferro na residência do casal, na zona rural de Formosa. No mesmo dia, a mulher havia mandado um áudio para uma amiga dizendo que sabia do histórico dele de violência e que não queria ser mais uma vítima dele. “Já sei de coisas que a pessoa já fez no passado, sei do que é capaz”, comentou, segundo mensagem compartilhada pela imprensa.Em fevereiro de 2020, Kleber teria dado quatro tiros em Poliana da Silva Laureano, com quem vivia uma relação extraconjugal havia três anos. Ela foi morta na casa em que morava, um dia após ter mandado uma mensagem para ele pedindo para conversar. Segundo familiares, ela queria terminar a relação. Kleber chegou a fugir, mas se apresentou dois dias após o crime e desde então estava em liberdade. Ele era então casado, tendo uma filha de 10 anos. Familiares de Poliana contaram, na época, que a jovem vivia quase em cárcere privado, sem poder sair de casa e tendo suas despesas pagas pelo comerciante. Na residência em que ela vivia sozinha, havia poucos móveis e comida e a vítima dizia passar por dificuldades. Parentes contam que tinham muita dificuldade de manter contato com ela, que Kleber trocava o celular dela constantemente e que ela era sempre monitorada. Em interrogatório à Justiça, o comerciante confessou o crime e argumentou que fez isso por uma crise de ciúmes da vítima, que durante a discussão passou a ofender a mulher dele e a filha e que, com isso, perdeu o controle e usou uma arma que sempre carregava por medo de assaltos. A fala dele foi rebatida por familiares da vítima, que o retratam como uma pessoa muito ciumenta e agressiva. A defesa chegou a pedir exame de insanidade mental, mas foi negado.A decisão de levar Kleber para o júri pela morte de Poliana foi definida em fevereiro de 2023, porém apenas 19 meses depois a Justiça agendou o julgamento, para 6 de novembro de 2025. Até março de 2024, a defesa do comerciante entrou com recursos para tentar garantir o exame de insanidade mental, sem sucesso. Ao fazer o agendamento, o Judiciário chegou a ressaltar a necessidade de acelerar os julgamentos em Goiás.VítimaJá Jeanny, em setembro de 2019, quando tinha 24 anos, procurou a polícia para denunciar o então companheiro, o churrasqueiro Iago Alexsandro de Oliveira Gomes, por agressão e ameaça. Segundo denúncia na época pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), o casal vivia junto havia um ano e, após uma discussão por causa de uma dívida, Iago a ameaçou com um canivete, lhe deu um tapa no rosto, a jogou no chão e a empurrou várias vezes para que não se levantasse. Jeanny contou na delegacia que a agressão foi motivada por causa de R$ 100 que o então companheiro havia emprestado a ela uma semana antes. Ele negou as acusações, dizendo que havia sido ela quem se jogara na frente do carro, que não a viu caindo no chão e que em nenhum momento a agrediu ou a ameaçou, mas admitiu que estava bastante nervoso no dia. O processo foi encerrado em 2022, porque Iago morreu em janeiro daquele ano. No processo não consta a circunstância da morte.A vítima afirmou em depoimento que chegou a ser ameaçada por uma parente de Iago quando lhe contou o que tinha ocorrido. A pessoa teria lhe dito que iria matá-la se o churrasqueiro fosse preso por causa da denúncia. A ameaça não se transformou em processo. O então marido foi preso no mesmo dia, enquanto trabalhava, mas pagou fiança de R$ 1 mil e aguardava o julgamento em liberdade.PrisãoKleber foi preso na tarde de quarta-feira em um posto de combustíveis no Jardim Guanabara, em Goiânia. Ele confessou o crime para os policiais militares que o detiveram, mas alegou que a matou após descobrir uma suposta traição e golpeá-la por trás diversas vezes na cabeça durante uma discussão. Na delegacia, ele disse que a traição havia sido 20 dias antes e que eles tinham decidido se separar, mas ainda residiam na mesma chácara, em um assentamento rural de Formosa.O comerciante disse que a intenção era vender a chácara, dividir o dinheiro e formalizar a separação. Entretanto, segundo Kleber, ela se recusava a assinar a venda e o ofendia constantemente. Assim como na primeira morte, ele voltou a sugerir transtornos de saúde mental ao dizer que a mulher administrava os remédios de uso controlado que tomava por causa de um acidente que lhe causou fraturas no crânio anos atrás. Ele tinha o apelido de “cabeça de lata” por isso.Sobre a morte de Jeanny, ele disse apenas que ficou “irritado” com as atitudes dela durante a discussão, por volta de meia-noite, pegou uma barra de ferro e acertou a cabeça dela três vezes. Depois, desesperado, entrou no carro e veio para Goiânia. Não disse o que pretendia fazer na capital – o local em que foi localizado fica a 270 quilômetros de Formosa. O crime foi descoberto porque o comerciante ligou para um vizinho contando o que fez. O corpo foi encontrado em uma cama.Na quarta-feira (8), a prisão em flagrante de Kleber foi convertida em preventiva. A Polícia Civil de Formosa ainda investiga o caso e não concluiu o inquérito. No processo que se encontra na Justiça, não há nenhum depoimento de parentes ou testemunhas.