A Justiça mandou a júri popular apenas um dos três acusados pela morte de João Vinícius Myller Mendes Garces, aos três anos de idade, durante uma briga que começou por causa de divergências entre torcedores de times rivais de futebol e acabou com um suposto traficante ligado a uma facção criminosa efetuando disparos de arma contra um veículo em que estavam a vítima e sua irmã de nove anos. O crime ocorreu na tarde de 13 de agosto de 2022, um sábado, no Jardim do Cerrado I. A briga envolveu pelo menos 24 pessoas, entre elas os pais, os tios e a avó da vítima.Preso desde o dia do crime, Thiago Magalhães Pilicie, de 29 anos, vai ser julgado por homicídio duplamente qualificado pela morte de João Vinícius, por tentativa de homicídio contra o tio da criança, que também foi ferido por um dos disparos, por porte ilegal de arma e por tráfico de drogas, pois no momento em que foi detido pelos policiais militares estaria com dois quilos de cocaína. As suspeitas contra Thiago na época levaram a polícia a suspeitar que a briga tivesse ligação com rixa entre facções.Já Matheus Douglas Soares, de 26 anos, que foi preso junto com Thiago, teve a absolvição sumária decretada pela Justiça e conseguiu o alvará de soltura, porém segue respondendo por tráfico. Guilherme Rodrigues da Silva, de 24 anos, também foi absolvido. Isso porque, segundo a Justiça, não foi encontrada nenhuma arma com eles e não há provas de que tenham sido responsáveis pelos disparos que atingiram a criança e o tio dela. Gustavo era o único que não respondia pelo tráfico e nem chegou a ficar preso.A briga começou sem que nenhum dos acusados estivesse inicialmente envolvido. Um torcedor do Vila Nova foi obrigado dias antes a entregar o uniforme a torcedores rivais e ao passar por uma distribuidora viu uma pessoa que confundiu como sendo um destes agressores, indo tomar satisfação. Esta pessoa estaria com a camisa do Goiás. Esta primeira confusão teve duração de 10 minutos e no local estava Guilherme, que é irmão de Thiago, e Erick.Ao ser informado que o primo teria sido agredido, Thiago foi com Matheus até o local da confusão armado atrás de Erick, por um motivo que não ficou claro na investigação. Foi neste momento que chegou a irmã de Erick, em um carro com o marido e os filhos (João Vinícius e Lycia Gabrielly, de 9 anos). Quando Erick entrava no carro da irmã, Thiago teria atirado.Em seu depoimento, Thiago admitiu ter atirado em direção a Erick, disse que este estava próximo ao carro e que não sabia que a criança estava no interior do veículo. Disse também que havia sido ferido com um golpe de faca (segundo a Polícia Civil, desferido por um parente de Erick que não foi indiciado por ter sido considerado legítima defesa) e que, por isso, no momento dos disparos, estava perdendo muito sangue e com a vista ficando embaçada.Thiago também assumiu ser o dono das duas armas usadas no crime, uma delas inicialmente atribuída a Guilherme. Em uma análise dos 14 interrogatórios feitos durante o processo, o juiz Antônio Fernandes de Oliveira, da 4ª Vara dos Crimes Dolosos Contra a Vida e Tribunal do Júri de Goiânia, apresentou uma sentença de 104 páginas em que conclui não haver nenhum indício de participação de Matheus e Guilherme na morte da criança e na tentativa de homicídio.“Além da assunção da autoria desses referidos crimes de homicídio e da posse das armas de fogo, objetivados na acusação, pelo corréu Thiago Magalhães Pilicie, não há, sequer, indício, com a razoável probabilidade, de que os demais, nesse momento, se encontrassem no local, como também afirma o destacado corréu, a exemplo dos demais”, escreveu o juiz.O argumento usado pela defesa de que o crime ocorreu em um contexto no qual havia uma briga generalizada envolvendo diversos familiares do acusado e que estes seriam vítimas nesta confusão foi citado pelo magistrado, que explicou que essa parte seria melhor analisada pelo júri durante esta nova fase do processo. Thiago alega que se descontrolou após ser ferido com a faca e que estava revoltado por ter visto a família sendo agredida.Ainda cabem recursos contra a decisão, tanto por parte da acusação como da defesa, e apenas posteriormente será marcado o julgamento.