A Polícia Civil pediu o arquivamento dos inquéritos que apuram o assassinato de quatro detentos no final de julho na Casa de Prisão Provisória (CPP) do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. O delegado Eduardo de Souza Rodovalho, titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) de Aparecida e responsável por estes casos, concluiu não ser possível identificar os autores dos crimes.Na época, as mortes aumentaram a tensão dentro do sistema prisional, chamando a atenção de instituições e entidades como o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) e da seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO). Uma comissão formada por representantes destes órgãos chegou a visitar as instalações da CPP.Leia também:- “Estamos revoltados”, diz primo de rapaz morto com tiro na cabeça em ação policial- PF identifica quase R$ 1 milhão em fraude de financiamento de veículos em Anápolis e Brasília- GCM inicia curso de agente de trânsito ainda sem convênioEm um dos relatórios, o delegado afirmou que os crimes cometidos dentro do complexo prisional são “de difícil resolução” e que “mostra-se quase impossível apurar as circunstâncias que envolvem agressões físicas que ocorrem no local”. Ainda segundo ele, vigora dentro das cadeias a “lei do silêncio” e quando alguém assume a autoria do crime não é quem realmente o cometeu, mas assim o fazem para livrar de punição os verdadeiros culpados. Estes que confessam teriam até um apelido interno: “canetas”.O delegado também sugere que o ideal para “amenizar o problema” seria a instalação de câmeras de segurança dentro de todo o complexo, para intimidar a ação dos detentos.Em 26 de julho, pela manhã, três detentos foram encontrados mortos: Paulo César Pereira dos Santos, de 23 anos, Hyago Alves da Silva, de 19, e Matheus Júnior Costa de Oliveira, de 20, os três enforcados. Paulo César, preso por roubo, estava em uma cela com mais 29 pessoas, e Hyago e Matheus, que respondiam por homicídio, em outra cela, com mais 28 detentos.No dia seguinte, no final da tarde, João Victor Nunes Araújo Guedes, de 27 anos, foi morto por espancamento em uma ala da CPP onde havia, no momento, outros 117 detentos. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu na ala médica do presídio. Chegou-se a cogitar que as mortes eram um recado de facções que operavam dentro do sistema prisional, seja para outros detentos seja para a direção do complexo prisional.No caso de João Victor, a Polícia Civil concluiu que a morte teria sido motivada por um furto que o mesmo cometeu dentro da própria CPP, irritando os outros colegas de cela. A vítima estava detida desde fevereiro pelo furto de duas furadeiras em um mercado.No inquérito que apurou a morte de João Victor, o delegado arrolou apenas o laudo cadavérico, informações sobre quem estaria no bloco onde ele foi morto e o depoimento de três agentes penitenciários que estavam em uma ala vizinha e apenas viram quando o detento estava sendo levado para socorro médico. Não consta se os agentes do bloco onde a agressão contra João Victor ocorreu foram ouvidos nem se foram ouvidos colegas de cela.No caso da morte de Paulo César, Hyago e Matheus, foi aberto um único inquérito. De diferente em relação ao processo de João Victor, houve o questionamento sobre o que permitiu que um dos mortos - Paulo César - estivesse em outra cela que não a que ele deveria estar. Um agente, em depoimento, disse que a checagem é oral após o banho de sol e que o preso pode ter dado informação errada, se passando por outro.Na investigação, não se apurou qual o preso que trocou de lugar com Paulo César, visto que para que ele estivesse em outra cela alguém se passou por ele também.Também foi dito que em um dos depoimentos - neste caso foram ouvidos quatro agentes penitenciários - um deles afirmou que ouviu de detentos que as mortes teriam sido motivadas por “desentendimentos internos”, mas sem mais detalhes.Hyago e Matheus Júnior foram enforcados juntos, e colocados em uma posição específica na cela, mas este fato não foi aprofundado no inquérito. No laudo cadavérico é apontado que eles, assim como Paulo César, foram mortos por estrangulamento e depois seus corpos foram colocados pendurados, como se tivessem sido enforcados.Também no caso de Hyago e Matheus Júnior não é citado o crime pelo qual eles eram acusados, se a morte deles poderia ter alguma ligação com esta acusação. Na época, um outro suspeito pelo mesmo crime, que se encontrava detido em uma delegacia, chegou a procurar a Justiça para que lhe fosse garantida segurança, uma vez que as mortes poderiam ter relação com o crime ocorrido fora do sistema. Um quarto suspeito de envolvimento com a dupla neste homicídio foi dada como morta, mas neste caso o assassinato teria ocorrido nas ruas e não dentro de uma cadeia.