*Atualizada às 9h40Cerca de 150 mil usuários de ônibus passam todos os dias nos veículos da Metrobus sobre o Eixo Anhanguera. Um projeto feito em 1975 em uma via que, na época, era a principal ligação entre o centro de Goiânia e Campinas. Foi então que o arquiteto e urbanista paranaense Jaime Lerner, morto nesta quinta-feira (27) aos 83 anos por complicações de uma doença renal crônica, vislumbrou na avenida uma solução para o transporte de massa. Era apenas o segundo corredor exclusivo para veículos coletivos no Brasil.O primeiro foi idealizado pelo próprio Lerner, em Curitiba, sua cidade natal, em 1974. O projeto, utilizado até hoje, é baseado em um sistema de transporte coletivo e de adensamento da cidade que também continua válido. O urbanista trouxe à capital o sistema tronco-alimentador, que consiste em um eixo viário (tronco) principal e outras vias paralelas e transversais (alimentadoras) que recebem os usuários dos bairros e levam até a esse eixo. No caso, este “tronco” deve ser a avenida de maior destino dos passageiros, tendo sido escolhida a Anhanguera.O hoje conhecido Eixão foi criado 1975 como “Eixo Regional de Serviços”, uma “via preponderante como grande estrutura de serviços, integrada ao uso do solo e ao transporte de massa”, de acordo com a lei municipal 5.019 de outubro daquele ano. A inauguração só ocorreu em novembro de 1976, com a presença do então presidente no regime militar, Ernesto Geisel. Lerner havia sido contratado como consultor do Instituto de Planejamento (Iplan). Na época, o governador Irapuan Costa Jr e o prefeito Francisco de Castro buscavam solução para o transporte de massa no Centro da capital.Goiânia já tinha mais de 500 mil habitantes e um novo zoneamento foi pensado. Isso porque, além de um sistema de transporte coletivo, a mudança gera também um novo adensamento urbano. Pelas regras, há permissão de construções maiores (edifícios) ao longo do eixo. O gabarito (tamanho vertical) dos prédios diminui quanto mais longe o local é da avenida principal. Ou seja, Lerner pensou a região central de Goiânia tendo maior desenvolvimento comercial e de serviços, além de moradias, ao longo da Avenida Anhanguera. Na época, o Eixo tinha cerca de 8,5 quilômetros, o que corresponde ao trecho entre os terminais Praça da Bíblia e Dergo, que eram apenas estações no projeto original, como a Praça A.Os terminais, de acordo com o estudo “Transporte coletivo em Goiânia - Uma história em sete momentos”, do engenheiro Milton Pires Batista, só vieram em 1978, para atender a demanda crescente de passageiros. Já em 1977 o Eixo carregou mais de 3 milhões de passageiros e no ano seguinte o número subiu para 3,7 milhões. Em todo o sistema da capital, eram 7,1 milhões de passagens em 1976 e chegou a mais de 12,7 milhões em 1978.No entanto, a criação dos terminais não foi a primeira modificação do projeto de Jaime Lerner. Ainda em 1975, o escritório do urbanista decidiu que o eixo utilizasse vagonetas, um tipo de ônibus elétrico sob trilhos, como veículo. Cada uma transportaria 250 passageiros a 50 quilômetros por hora e passaria a cada cinco minutos. As paradas de ônibus estariam a cada 500 metros. As vias do então chamado “pré-metrô” de Goiânia eram as centrais, enquanto os carros privados ficaram com as mais próximas das calçadas.Ainda em 1975, o prefeito Francisco de Castro já anunciava que os ônibus elétricos não seriam usados, já que teriam de ser importados e o governo federal impunha a utilização das fabricações nacionais. Até 1980 ainda se falava que os ônibus expressos eram temporários e o governo buscava meios para produzir as vagonetas. Depois disso, a expansão urbana ao longo do Eixo Anhanguera, idealizada por Lerner e criticada por muitos urbanistas na época e ainda hoje, ocorreu. Na década de 1980 o Eixão já chegava até a divisa com Trindade, sendo necessária a construção do Terminal Padre Pelágio. O mesmo ocorreu logo depois no sentido Senador Canedo, com a construção do Terminal Novo Mundo.Outra crítica recorrente foi pela diminuição das calçadas na via, de modo a contemplar mais espaços a veículos particulares. Já no fim dos anos 1990, o Eixo passou por uma total reformulação e ganhou as 19 estações elevadas, as vias centrais passaram a ser separadas das demais por barras de ferro e os ônibus ganharam maior capacidade.-Imagem (Image_1.2257707)-Imagem (1.2257741)