O patrimônio arquitetônico modernista está desaparecendo em Goiânia. Um dos exemplos é o antigo prédio da Centrais Elétricas de Goiás (Celg), no Setor Oeste, que foi demolido na semana passada. O prefeito Sandro Mabel (UB) visitou o local nesta segunda-feira (24) ao lado do presidente da Câmara Municipal, Romário Policarpo (PRD). Eles destacaram que os proprietários têm autonomia para dar a destinação que consideram mais adequada aos seus imóveis e que “o que o poder público não pode aceitar é o abandono”.

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Os restos do imóvel começaram a ser demolidos no dia 17 de fevereiro, pouco mais de um mês depois que Mabel e Policarpo gravaram um vídeo em frente ao local falando sobre exemplos de imóveis abandonados na capital. O prédio, de propriedade de um pool de empresas que adquiriram o imóvel quando a Celg foi vendida, em 2016, estava sem ocupação oficial desde meados de 2019, quando a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) deixou o local. Uma parte da edificação, voltada para a Rua 7, ainda não foi demolida. Na tarde desta terça, o local estava ocupado por pessoas em situação de rua.

“Os donos já nos procuraram, logo que viram nossa postagem, e disseram que em 30 dias começariam a fazer a demolição”, contou Mabel durante a visita realizada na tarde desta segunda. Ele disse não saber o que será construído no local, mas afirmou que devido a área privilegiada, deverá ser “um projeto bem interessante”. O prefeito ainda reforçou que a capital possui cerca de 200 imóveis abandonados. “Se o dono não tomar conta, o projeto de lei vai permitir que a gente faça uma desapropriação e dê um destino para habitação popular, preferencialmente (...) Parar de servir de mocó, de dengue, de outras coisas mais”, detalhou.

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Obra da década de 50, prédio agora demolido teveGustav Ritter como arquiteto&nbsp;eOton Nascimento como engenheiro (Diomício Gomes / O Popular)

O Projeto de Lei (PL) em questão é o nº 299/2023, que está parado na Câmara. Conforme Policarpo, as discussões devem ser retomadas em março. O texto já foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e está pronto para ir para primeira votação em plenário. A ideia é que a administração municipal possa tomar imóveis que estão abandonados e em débito com os impostos municipais. “O importante é que os locais sejam aproveitados, independente da forma. O empresário tem autonomia para decidir aquilo que ele vai fazer do local. O que o poder público não pode aceitar é o abandono”, disse Policarpo.

Obra de Gustav Ritter

Construído na década de 1950, o antigo prédio da Celg teve projeto modernista assinado por profissionais renomados como o Engenheiro Oton Nascimento e o arquiteto e artista plástico Gustav Ritter. Em 2019, o imóvel teve um processo de tombamento analisado pela Secretaria de Estado de Cultura de Goiás, porém, o Conselho Estadual de Cultura (CEC) decidiu pelo não tombamento definitivo do prédio, devido ao estado de deterioração do imóvel.

O Conselho Municipal de Preservação de Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Goiânia é responsável por valorar imóveis da capital e arbitrar sobre o tombamento deles no âmbito municipal. Segundo o presidente do conselho, Welington Santos, a maioria dos casos que chegam até a entidade são de imóveis Art Decó, estilo pelo qual Goiânia é reconhecida como detentora de um grande acervo arquitetônico. “É preciso destacar que existem nove tipologias arquitetônicas na cidade”, frisa.

Professora de Antropologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Izabela Tamaso explica que os primeiros imóveis modernistas da capital são da década de 1950 e se caracterizam por estrutura e fachada “limpas”. “A ideia de uma racionalidade na arquitetura”,diz.

Segundo ela, existem estilos de arquitetura que são mais ou menos valorizados do que outros. “É algo histórico da política de patrimônio do Brasil”, pondera. De acordo com Izabela, em Goiânia foi feita uma escolha pelo Art Decó. “É preciso apontar essa lacuna e lutar pela preservação da arquitetura modernista. É uma arquitetura relevante para a identidade urbanística e social de Goiânia”, enfatiza.

Izabela ainda aponta que é preciso levar em consideração outros fatores como, por exemplo, a vontade política e a especulação imobiliária. Ela cita o caso da antiga sede da Celg que ficou quatro anos - de 2019 a 2023 - com o processo de tombamento em análise pelo governo estadual. No final, o Conselho Estadual de Cultura (CEC) decidiu pelo não tombamento definitivo do prédio devido ao estado de deterioração do imóvel. “Cabia ao proprietário cuidar do bem enquanto o processo corria”, frisa.

Profissionais da área apontam há tempos a necessidade de se preservar o acervo moderno de Goiás. Em meados da década de 2010, um inventário foi feito pelo Iphan em parceria com a UFG, a Universidade Estadual de Goiás (UEG) e a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Durante o processo de investigação histórica, encontrou-se informações relacionadas a 136 edificações públicas e privadas em Goiânia.

Além da catalogação, a arquiteta e urbanista Anamaria Diniz chama atenção para o fato de que para manter um patrimônio preservado é necessário que exista uma relação afetiva da população. “É muito difícil um patrimônio ser preservado se os próprios moradores não se identificam com aquela história”, esclarece. Ela aponta para a necessidade de uma mudança de paradigma em relação ao assunto. “Como vai avançar se as pessoas acham natural? Acham que derrubar um quarteirão é progresso ao invés de ficarem indignadas com a destruição de um prédio histórico?”

<h2>Casa na Rua 84 será transformada em Instituto Siron Franco</h2>

Na Rua 84, no Setor Sul, reside um exemplo de conservação do patrimônio arquitetônico modernista de Goiânia. O imóvel onde a Cerrado Galeria se instalou, em 2023, é assinado pelo arquiteto e artista gráfico David Libeskind, o mesmo do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo. A casa foi erguida em 1955. Entre 2019 e 2023, ficou sem uso. Anteriormente, foi sede do Iphan em Goiás.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3234698" attr-version="policy:1.3234698:1740446989" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3234698/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" />Galeria Cerrado comprou casa ao lado e fará revitalização do imóvel (Fábio Lima / O Popular)

A diretora da Cerrado Galeria em Goiânia, Júlia Mazzutti, conta que a obra para recuperar e adaptar o imóvel para a galeria durou nove meses. “E já pedimos o tombamento da fachada para o Iphan”, destaca. Recentemente, a galeria adquiriu o imóvel vizinho, que também foi assinado por Libeskind e construído na mesma época. A ideia é reformá-lo e transformá-lo no Instituto Siron Franco, unidade que será uma homenagem ao artista plástico goiano.

Conforme Júlia, os dois imóveis têm várias semelhanças de projeto, mas aquele que está fechado passou por um processo de descaracterização, como a construção de anexos e a troca de revestimento. “Estamos fazendo um trabalho para tentar recuperar o projeto original com adequações de uso.” O processo de limpeza do imóvel já foi iniciado e intervenções maiores devem começar no segundo semestre deste ano.

Imóveis modernistas ainda esperam ser valorizados em Goiânia

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Urbanismo

Cem anos depois da Semana de Arte que revolucionou o cenário cultural brasileiro, artistas e curadores discutem os reflexos e as ausências do movimento nos dias atuais em documentário original produzido pela Globo News. Além de narrar a história do evento que marcou o início do modernismo no País, o especial Os Novos Modernos, que será exibido pelo canal neste domingo (13), às 23 horas, joga luz nos processos artísticos que buscam pelo novo e pela inovação, sem deixar as heranças do passado de lado.E quem são os novos modernos? O documentário mostra seis artistas que se destacam por suas ideias e conceitos na cultura brasileira e possuem o mesmo espírito dos modernistas de 1922. São eles: Maxwell Alexandre, Panmela Castro, Jonathas de Andrade, Denilson Baniwa, Baco Exu do Blues e Sergio Vaz.“Os novos modernos são artistas contemporâneos, não necessariamente jovens, mas com o mesmo objetivo: criar algo revolucionário. Muitos saíram da periferia e têm se destacado dentro e fora do país.”, explica Ledu Garcia, coordenador de documentários da Globo News.A história da Semana de 22 é recontada pela ótica de familiares de artistas que marcaram época, como a sobrinha-neta da Tarsila do Amaral e o neto de Oswald de Andrade. A produção ouviu ainda especialistas e curadores de arte.

Ecos de 22: Globo News mostra em documentário quem são os novos modernos

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Um dos versos da canção Sampa, de Caetano Veloso, faz referência a um livro que por muito tempo ficou esquecido em sebos. É Panamérica, de José Agrippino de Paula, uma espécie de exemplar da contracultura nacional que serviu de inspiração à estética tropicalista. Mas ele não está sozinho nessa – e o próprio livro não deixa de colocar em prática uma das premissas do modernismo de 22: vamos fazer um caldo cultural aqui? Surgido no final dos anos 1960, o tropicalismo de Caetano, Gilberto Gil, Os Mutantes, Tom Zé, Rogério Duprat, Torquato Neto e tantos outros simboliza um pouco esses encontros.Esse movimento, amplificado pelos festivais de música da TV Record e por ser um forte contraponto ao arbítrio político da ditadura militar recém-instalada em 1964, se abastece em variadas fontes, entre as quais está o modernismo. Em ambos se percebe, ainda que por caminhos diferentes, o desejo de falar de uma identidade brasileira produzindo misturas, dando dinamismo a símbolos nacionais sem que isso significasse, exatamente, ufanismo. Uma visão crítica de comportamentos e ícones, que vão de Carmem Miranda a Brasília, das avenidas paulistas às tribos indígenas. Tudo com sonoridades inusitadas e até inéditas.Essa efervescência criativa foi se consolidando em diferentes momentos, com variados contornos. Alguns deles bastante curvilíneos; outros, nem tanto. Artistas plásticos como Hélio Oiticica, Lygia Pape e Lygia Clark exploraram as formas geométricas, dando-lhes novas dimensões, outras noções de profundidade e provocando sensações e debates. Ao mesmo tempo, o cinema novo investia em novos olhares para a cidade – como em Cinco Vezes Favela, de Cacá Diegues e Joaquim Pedro de Andrade, entre outros – e para o sertão – como em Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Havia muitos Brasis.Um deles voltou-se para o interior. Brasília é a obra emblemática dessa direção rumo aos nossos terrenos mais profundos. No Cerrado goiano, surgia a cidade-monumento, com uma arquitetura moderna – o nome aí não é acidental. As curvas, cúpulas, rampas, colunas que parecem flutuar, os espelhos d’água e o concreto sendo retorcido são marcas de nomes como Oscar Niemeyer, nossa maior expressão na área, que se formou muito em razão do contato que teve com o mestre franco-suíço Le Corbusier. Ele foi o responsável por trazer ao Brasil os traços de uma arquitetura moderna mais sólida, inspirando os brasileiros.Na beira da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, em frente à casa que foi de Juscelino Kubitschek, há quatro estátuas que registram o nascimento desse modernismo na arquitetura em comunhão com a arte. Elas são de JK, Niemeyer, do urbanista Lúcio Costa e do pintor Cândido Portinari – este vinculado à Semana de 22. Eles vislumbram o que fariam na capital mineira no início dos anos 1940, quase 20 anos antes da inauguração de Brasília. O resultado pode ser visto, por exemplo, na joia que é a pequena Igreja de São Francisco, com projeto de Niemeyer e Lúcio Costa e murais de Portinari.Não é forçar a barra dizer que a Semana de 22, para ser emulada ou contestada, é quase uma onipresença nas artes brasileiras dos últimos 100 anos. Mesmo que por um tempo não fosse lembrada enquanto evento específico, seus participantes transitaram, nas décadas seguintes, por amplos espaços, formando discípulos e fazendo com que suas ideias não morressem. Elas eram, isso sim, devoradas e digeridas. Assim, suas diretrizes foram seguidas. A regra era buscar o que parecesse vivo e inovador. Drummond, Geração de 30, concretismo, Brasília, tropicália. Os ecos de 22 estão em toda parte.<div attr-cid="policy:Image_1.2401670" attr-version="policy:Image_1.2401670" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:Image_1.2401670" data-onecms-type="image" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'Image_1.2401670', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:Image_1.2401670">Imagem (Image_1.2401670)</a></div>

Ecos de 22: movimento inspirou formas e sons antropofágicos

Uma coisa leva a outra. Esse ditado popular já tão surrado cabe perfeitamente quando se quer traçar as genealogias de movimentos culturais brasileiros no século 20. Muitas dessas linhas históricas desembocam num foco recorrente: a Semana de 22. O modernismo ali engendrado não desapareceu com um movimento que já nasceu fragmentado e cheio de brigas internas. Ele se expandiu para diferentes leituras, novas estéticas, diálogos que se ampliaram e transformaram ideias, criando outras. Na verdade, é o cerne da antropofagia, defendida na época, numa retroalimentação constante, numa deglutição ininterrupta.Algumas dessas repercussões podem ser medidas pelas formas como obras icônicas do modernismo se eternizaram em constantes releituras em diversas linguagens. O romance Macunaíma, de Mário de Andrade, por exemplo, tem essa potência. Livro lançado em 1928, ele traça o itinerário incrível do “herói sem caráter”, que nasce na Amazônia e vai para São Paulo. Personagem encharcado de referências indígenas e negras que fica branco ao chegar à metrópole, essa criação, encarnada por Grande Otelo no filme de Joaquim Pedro de Andrade, de 1969, tornou-se um dos símbolos do cinema novo.Essa relação não é acidental. O cinema novo é, seguramente, o principal movimento da área que o Brasil produziu, com projeção mundial. Buscar uma das principais obras do modernismo era uma maneira de mostrar uma nação de forma mais profunda, ainda que alegórica e até satírica, demolindo as imagens idílicas de um indigenismo que subtraía a cultura original para submetê-la aos parâmetros europeus, como a observar uma hierarquia entre as diferentes referências. Mário de Andrade, um estudioso nato, foi meio antropólogo para criar em sua literatura um herói que se afasta de Peri e Iracema, brincando com eles.Essa marca distintiva, interessante e surpreendente foi uma fonte para o cinema novo, que também criava metáforas para abarcar uma terra em transe. Isso também aconteceu nos palcos, com a antológica montagem de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, realizada em 1967 pelo Teatro Oficina, de São Paulo. Na leitura quase anárquica do diretor José Celso Martinez Corrêa, o retrato alegórico de um País que acabava de mergulhar na ditadura, mas que buscava no modernismo de quase 50 anos antes a inspiração para gritar por liberdade, colocando em xeque as relações capitalistas a partir de um autor que virou comunista.Oswald de Andrade, que em breve deve ganhar uma biografia escrita pelo jornalista Lira Neto, foi esse camaleão, que antes se dava bem com as elites econômicas e depois virou um homem da esquerda sob influência da militante Patrícia Galvão, a Pagu, ela também um nome expressivo de um segundo momento do modernismo. Militante na imprensa, pioneira do feminismo, artista e escritora, ela conviveu com o casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, mas acabou se casando com ele pouco tempo depois, provocando controvérsia e sendo um dos motivos para o rompimento entre alguns dos membros da Semana de 22.O Rei da Vela foi escrita em 1933, momento em que o modernismo brasileiro já entrava em sua segunda geração. Ainda que esteticamente não houvesse uma continuidade propriamente dita, as produções desse período se amparavam em uma busca do elemento nacional genuíno. Isso mudou os olhares, por exemplo, sobre o que se poderia considerar regionalismo. Saíram as histórias que traziam estereótipos e até certo nível de exotismo, como Inocência, de Visconde de Taunay, ou O Cabeleira, de Franklin Távora, e entravam em cena retratos mais realistas e profundos sobre realidades nacionais ignoradas.A chamada Geração de 30, na qual se destacam os autores nordestinos, é a grande novidade nesse cenário. Jorge Amado, com o ciclo do cacau, José Lins do Rêgo, com o ciclo da cana-de-açúcar, os romances da seca de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos, depois do vanguardista A Bagaceira, de José Américo de Almeida (publicado em 1928), transformaram a literatura brasileira mais uma vez. Foi uma década de mudanças políticas – a revolução de 1930 colocou abaixo a República Velha – e fez o Brasil olhar ainda mais para seu interior, numa tendência que não mais nos abandonaria no restante do século.Na poesia, essa força modernista também se fez sentir para além de seus pioneiros. O nome que mais se destaca é o de Carlos Drummond de Andrade, que dedica seu primeiro livro, Alguma Poesia, ao modernista Mário de Andrade, de quem se tornou amigo e com quem trocou farta correspondência por duas décadas. O contato do poeta de Itabira com os principais representantes da Semana de 22 foi precoce, ainda em 1924, quando Drummond tinha apenas 22 anos de idade e se encontrou com Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, que visitavam Belo Horizonte na famosa “viagem pelo Brasil”.Drummond, porém, imprimiu sua marca a essa nova fase do modernismo, dialogando também com Manuel Bandeira, pertencente ao movimento original, e, alguns anos depois, sendo ele a inspiração para uma nova geração de poetas, entre os quais o pernambucano João Cabral de Melo Neto. Foi uma espécie de sucessão de gênios, que transformaram a poesia brasileira em vários sentidos. Desde os anos 1920, passando pela poesia concreta inaugurada nos anos 1950 – esta, também, em diálogo com as artes plásticas, a música e a arquitetura –, o Brasil viu sua produção criativa mudar e, vira e mexe, se referir a 1922.<div attr-cid="policy:1.2401773" attr-version="policy:1.2401773" class="p-smartmidiabox">-<a class="p-smartembed" data-onecms-id="policy:1.2401773" data-onecms-type="image" href="javascript:window.parent.actionEventData({$contentId:'1.2401773', $action:'view', $target:'work'})" polopoly:contentid="policy:1.2401773">Imagem (1.2401773)</a></div>

Ecos de 22: Como efeito dominó, modernismo se expandiu para diferentes leituras e estéticas

A Superintendência de Patrimônio Histórico, Cultural e Artístico da Secretaria de Cultura do Estado de Goiás (Secult) deve concluir em março próximo o dossiê técnico sobre o tombamento do antigo prédio da Centrais Elétricas de Goiás (Celg), localizado na Avenida Anhanguera, Setor Oeste, em Goiânia. O processo se arrasta desde 2019 e tem mobilizado arquitetos e artistas plásticos. A representação da Docomomo no Brasil, a mais importante organização de preservação arquitetônica modernista do mundo, com sede em 77 países, reforçou junto ao Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) o pedido feito anteriormente para a preservação do imóvel.A edificação de meados dos anos de 1950, segundo o parecer do arquiteto Lucas Jordano, docente da Universidade Federal de Goiás (UFG), guarda traços da vanguarda estética do movimento modernista arquitetônico da época. Em análise para a Secult, o arquiteto foi favorável ao tombamento. A indicação provisória neste sentido foi referendada pelo Conselho Estadual de Cultura em 2019, o que pressupõe a preservação do prédio até a conclusão do processo. Mas não é o que vem ocorrendo. O lugar já perdeu muito de suas características originais em razão do abandono e da depredação sistemática.No ofício encaminhado na última semana ao MP-GO, a coordenadora da Docomomo Brasil, Alcilia Afonso de Albuquerque e Melo, docente da Universidade Federal de Campina Grande (PB), lembra que o edifício foi projetado e executado por pioneiros na construção de Goiânia, como o engenheiro Oton Nascimento e o arquiteto e artista plástico Gustav Ritter. Para a organização, a antiga sede da Celg é “um exemplar autêntico do modo de entender e fazer arquitetura de uma época”, além de possuir uma localização emblemática.O edifício de linhas retas está próximo ao Lago das Rosas, da antiga estação rodoviária - hoje uma unidade do Corpo de Bombeiros - e do Teatro Inacabado. “Desse modo, a edificação integra o acervo da arquitetura moderna brasileira, e constitui a paisagem do Núcleo Pioneiro de Goiânia, fazendo parte da memória afetiva e da identidade do goianiense”, enfatiza o ofício da Docomomo Brasil. A organização lembra no documento que em março de 2020 encaminhou ao MP-GO um alerta sobre a degradação do edifício.No início de 2020 o POPULAR mostrou o estado de abandono do prédio que abriga um afresco do Frei Nazareno Confaloni, de nove metros de largura por três de altura. O trabalho do artista plástico italiano, um dos fundadores da Escola de Belas Artes de Goiás, foi totalmente vandalizado com tinta preta. “Depois, vieram as infiltrações e mais recentemente até chove sobre o painel, pois tiraram o telhado do imóvel”, afirma PX da Silveira, estudioso da obra de Confaloni. PX lamenta o “cenário de terra arrasada” que tomou conta do prédio e informa que, tecnicamente, o painel de Confaloni está perdido. “Pode-se fazer repintura dele, mas não a restauração”, explica. Frei Confaloni morreu em 1977.O antigo prédio da Celg pertencia ao Governo de Goiás que o vendeu num leilão. Depois, o próprio governo o alugou para abrigar a Secretaria de Educação, o que ocorreu até meados de 2019. Após a saída da pasta do imóvel, começou o processo de degradação. As empresas proprietárias do prédio, as incorporadoras Santa Tereza, Merzian, Oliveira Melo e a Linknet Tecnologia, têm contestado o pré-tombamento junto à Secult. Em parecer, a pedido do pool de empresas, o professor de Patrimônio Histórico da UFG, Wolney Unes entendeu que não há motivos para a preservação do prédio, com exceção do painel de Frei Confaloni.Legalidade Após os danos ao painel, PX da Silveira, que representa a família do artista plástico, apresentou à Secult pedido para retirá-lo e levá-lo para a cidade de Goiás, onde seria instalado na Igreja do Rosário. Em resposta, a pasta informou a todos os envolvidos na questão, entre eles as empresas, que o painel é um bem integrado ao prédio, que está tombado em caráter provisório, por isso não poderia ser removido. No ofício, assinado pelo secretário César Moura e pela analista Solange Maria de Santa e Silva, a Secult solicita que sejam promovidas “as ações de recuperação do imóvel”, sob pena de ações judiciais cabíveis, como prevê a Lei 9.605/98, que tipifica como crime a deterioração de bem protegido.“Se o tombamento for determinado, os proprietários terão de entregar o prédio da forma como estava quando o processo começou. Não discuto o mérito, mas sim a parte legal. Se o tombamento for aprovado, as construtoras terão de restaurar. É assustador que não estejam preservando, porque o prejuízo será muito grande”, disse César Moura ao POPULAR. Para a Docomomo Brasil é necessária “uma discussão urgente sobre a solução do bem imóvel compatibilizada a novos usos.” Há quase dois anos o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO) encaminhou uma nota de repúdio ao MP-GO sobre o estado de conservação do edifício.Segundo o MP-GO, o procedimento que acompanha a questão está na 81ª Promotoria de Justiça, com atribuição da defesa do Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Histórico. O responsável, promotor de Justiça Marcelo Fernandes, determinou diligências que não foram concluídas, por isso ainda não há um posicionamento sobre as medidas a serem tomadas.Processo está “dentro do prazo” afirma SecultSuperintendente de Patrimônio Histórico da Secult, Tânia Mendonça informou que o processo de tombamento, iniciado em janeiro de 2019, está dentro do prazo regulamentar. O Conselho Estadual de Cultura (CEC) manifestou parecer favorável pelo tombamento provisório em setembro daquele ano. Em outubro de 2020, o pool de empresas apresentou erroneamente ao CEC, recurso contestando o pré-tombamento, o que deveria ter sido feito diretamente à Superintendência de Patrimônio.&nbsp;O dossiê, em elaboração pela Secult, que deve ser encaminhado em março para a análise final do CEC, leva em consideração vários fatores, como a história da eletrificação em Goiás, a relação do painel de Confaloni com o imóvel e a cidade, a tipologia e aspectos urbanísticos e as propostas de conservação. Conforme Tânia Mendonça, os proprietários solicitaram a demolição das construções adjacentes ao prédio principal, “que não são objetos de tombamento”. Relatório sobre a vistoria técnica a respeito está em fase de elaboração.&nbsp;Tânia Mendonça explica que o dossiê final tem a função de apresentar ao CEC “propostas/alternativas de preservação” do imóvel. Caberá ao CEC a palavra definitiva. Para Aguinaldo Coelho, da Câmara de Patrimônio do CEC, um imóvel histórico precisa ser preservado, mas por outro lado a sua destinação deve ser benéfica para a sociedade.