A demolição de uma casa localizada na Rua 20 nº 159, no Setor Central, pertencente a Academia Goiana de Letras (AGL), nesta quarta-feira (8), reaqueceu o debate sobre a preservação de imóveis antigos na capital. O espaço, que foi comprado pela instituição com apoio da Prefeitura de Goiânia, foi ao chão com alvará da própria administração municipal.A coordenadora da Comissão de Política Urbana e Ambiental do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás, Maria Ester de Souza, disse que, embora não fosse tombado, o imóvel tinha seu papel social. “As verificações construídas pelo homem ao longo do tempo fazem referência à história independente de ser tombado, ou não. O tombamento é o meio de resguardar a história”, destaca. No entanto, esta questão deve ser pauta da educação, segundo a coordenadora.Maria Ester defende que existam mecanismos de apoio à preservação dos imóveis com valor histórico. “Enquanto não houver uma política de estímulo para os donos de patrimônios antigos, vários prédios serão destruídos”, acredita.Para o produtor cultural, Rodrigo Ungarelli, de 28 anos, que reside na mesma rua do imóvel que foi demolido, a casa foi construída no estilo modernista. “A informação que chegou pra mim é que ela estava condenada”, acredita.Segundo a presidente da AGL, Lêda Selma de Alencar, o imóvel pertencia à instituição havia dez anos, quando foi adquirido com apoio da Prefeitura. Ela enfatizou que a casa não era tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “O lote foi comprado com o intuito de destruir a casa para a construção da nova sede”, diz.A presidente afirma que a casa estava em ruínas e foi derrubada após seguirem todos os trâmites burocráticos. “Não destruímos algo que era irregular. Pegamos o alvará, onde foi verificado que o prédio não era tombado”, pontua.Com o alvará, eles partiram para a procura da ajuda necessária para demolição. “Foram dois anos e dez meses para conseguir toda documentação e o dinheiro necessário para a demolição”, esclarece Lêda.O espaço, agora vago, vai abrigar a ampliação da sede da academia que é vizinha do imóvel demolido. No entanto, ainda não há previsão para a obra. A presidente conta que vai procurar ajuda para conseguir os recursos financeiros necessários. Lêda diz que a nova sede vai suprir algumas necessidades da academia,mas a AGL vai manter o espaço atual, que é tombado pelo Iphan.A casa é antigaA casa não tinha grandes eventos há pelo menos quatro anos, quando foi ocupada pelo movimento Muda - Ocupação em Arte Urbana em 2014. Na época, o projeto gratuito fez um uso artístico do espaço. Cinco artistas selecionados, três convidados, dois curadores e mais seis artistas colaboradores interviram de maneira imersiva por sete dias na residência. O produto foi a exposição ‘Residência Resistência’, aberta ao público por 15 dias daquele ano.O objetivo, segundo os organizadores, foi promover o intercâmbio entre os artistas locais residentes e curadores, além de engajar o público, tornando a arte fisicamente acessível.Dani Fiuza, uma das realizadoras do projeto, disse que o evento foi possível porque a casa foi cedida pela AGL com o propósito da ocupação artística. “(A iniciativa) tinha a intenção de convesar e trazer o debate sobre a importância desse patrimônio histórico”, ressalta.