A Polícia Civil revelou a primeira parte de uma operação que investiga um esquema milionário de corrupção envolvendo o Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) que pode existir desde 2011. Foram identificados, até agora, 16 empresas e cinco médicos que fraudavam o sistema do Ipasgo para receber por serviços não autorizados. Uma dessas empresas recebeu por 200 hemogramas feitos em um único dia no mesmo paciente. Outros indícios desse tipo foram detectados. Assim, os investigadores também apuram prestações de serviço pagas que não foram cumpridas na realidade.Nesta segunda-feira (1º) foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão, seis intimações simultâneas e oito determinações de afastamento de funcionários. Segundo as investigações, esses funcionários, da área de tecnologia da informação (TI) da empresa terceirizada Hominus Gestão Tecnologia, conhecida como GT1, fraudavam o sistema do Ipasgo. Eles credenciaram empresas de saúde e médicos para realizar serviços sem passar pelos critérios e burocracias do Instituto. Dessa maneira, eles recebiam por serviços de maneira irregular.Em alguns casos, médicos tinham uma única inserção irregular no sistema que lhe rendiam mais de R$ 100 mil de faturamento. Segundo o delegado da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap), Rhaniel Almeida, está sendo apurado quanto desse valor recebido realmente correspondia a um serviço médico prestado.A ponte entre os prestadores de serviço (médicos, clínicas e laboratórios) e esses funcionários da GT1 seria um faturista, espécie de lobista, que foi alvo de busca e apreensão. Ele receberia cerca de R$ 35 mil por inserção no sistema do Ipasgo. Esses prestadores, que ainda não foram identificados, também devem ser responsabilizados em nova fase da operação, que foi batizada de Morfina.De acordo com o delegado Rhaniel Almeida, os investigadores interceptaram uma tabela com mais de 100 nomes de empresas de saúde e médicos enviada pelo faturista para os funcionários da GT1. Ele ordenaria inserções irregulares de novos serviços de saúde para esses nomes da tabela.Toda essa primeira parte da investigação começou por acaso, quando um médico cadastrado irregularmente foi até o Ipasgo mudar o endereço de sua clínica e os funcionários observaram que ele não estava credenciado de forma regular no sistema do Instituto. Essa denúncia e outras são resultado de uma auditoria feita pela nova gestão do Ipasgo e repassada para a Superintendência de Combate a Corrupção.O secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, afirmou durante coletiva na tarde desta segunda-feira que essa primeira fase da operação foi importante para “estancar a sangria” que esse esquema envolvendo a GT1 estava causando para o Ipasgo. As investigações pelo Dercap começaram há um mês.Ainda durante a investigação, Rodney adiantou que outro braço da operação apura a existência de pacientes conveniados de forma irregular pelo Ipasgo, que correspondem a cerca de 15% dos seus 625 mil usuários em todo o Estado. Outro ladoPor nota, a empresa GT1 garantiu que está contribuindo para a elucidação do caso e que afastou os oito funcionários somente nesta segunda-feira, após a deflagração da operação, porque não saberia da existência da investigação.“A GT1 presta serviços ao Ipasgo há mais de oito anos e é a primeira vez que alguns de seus empregados têm a conduta questionada por meio de investigação policial. A prestação de serviço não será comprometida, havendo imediata reposição de cada um dos postos de trabalho alvos da investigação”, diz nota enviada pela empresa terceirizada. GT1 tem R$ 383 mi em contratosA empresa Hominus Gestão Tecnologia, conhecida como GT1, tem R$ 383.018.337,56 em contratos com o Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo). Entre 2011 e 2018 foram assinados 16 contratos da terceirizado com o plano de Saúde, além de aditivos. As informações foram extraídas do Portal da Transparência do Governo do Estado. Na maior parte dos contratos, a GT1 presta serviço de tecnologia da informação e comunicação, mas desde 2013 também há apoio administrativo, técnico e operacional, com o oferecimento de mão de obra em várias áreas, como operador de call center, analista técnico administrativo, atendente, ascensorista, até enfermeiro, médico do trabalho e auxiliar de saúde bucal. Segundo a Polícia Civil, que indiciou oito funcionários da empresa por um esquema de corrupção com prestadores de serviço do Ipasgo, existe a suspeita que a empresa terceirizada foi criada para alimentar o esquema. Para o delegado Rhaniel Almeida, da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap), um dos inícios para isso é a falta de proteção do sistema que era corrompido pelos funcionários. Quando alguém fazia alguma alteração nesse sistema de computador, que beneficiava de forma irregular alguns prestadores, não ficava registrado o nome do funcionário, nem mesmo o IP, que identifica o computador ou o login usado para fazer a alteração. Ainda segundo o Portal da Transparência, além dos 16 contratos com o Ipasgo, há um contrato de 2017 da GT1 com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (SEDI) no valor de R$ 637.379,54. O objetivo da contratação era desenvolver um sistema para a Superintendência do Fundo de Financiamento do Banco do Povo.