Um dos policiais militares que participaram da operação que deixou quatro mortos na zona rural de Colinas do Sul, na região da Chapada dos Veadeiros, já teria sido amigo de uma das vítimas e frequentado o sítio onde a ação foi realizada. É o que afirma uma das irmãs de Salviano Souza Conceição, de 63 anos, um dos quatro homens mortos durante o procedimento que apurava denúncia de que ele mantinha uma plantação de maconha para tráfico de drogas. A relação dos dois foi confirmada por outras duas fontes ouvidas pelo POPULAR.O policial conhecido pela família seria um dos sargentos que participaram da ação. Ele foi um dos sete PMs que integraram a operação e, pelo registro oficial, teria informado a um superior já ter recebido denúncias de plantação de entorpecentes na região. A propriedade fica próxima de uma comunidade que tem cerca de 500 habitantes. “Ele (o sargento) conhecia o sítio, ele foi amigo do Salviano por um tempo”, diz a irmã que, por medo, pediu para não ter o nome publicado.Os policiais dizem que quando chegaram à propriedade, após localizarem uma plantação de maconha, teriam sido surpreendidos por sete homens atirando contra eles. Além de Salviano, morreram na ação Alan Pereira Soares, de 27, Antônio da Cunha dos Santos, de 35, e Osanir Batista da Silva, de 47. Outras três pessoas teriam fugido do local. A polícia relata ter apreendido quatro revólveres e uma espingarda com os suspeitos.Ainda segundo a familiar, a relação de amizade entre Conceição e o militar teria encerrado após um desentendimento por conta da posse de um cachorro, há cerca de dois anos. A suposta briga teria envolvido Soares, conhecido pela polícia pelo envolvimento com furtos e roubos em Niquelândia, cidade próxima à comunidade. “O Salviano e o Alan descobriram que ele (o sargento) estava com o cachorro e foram atrás. Eles discutiram e o sargento disse que mataria eles”, afirma a irmã, que mora na mesma comunidade.Outro morador da região diverge sobre o real motivo dos supostos desentendimentos. “O Alan dava muito trabalho em Niquelândia, era conhecido dos policiais, já tinha sido jurado de morte”, afirma o homem, que não quis se identificar. Soares seria próximo de Conceição que, conforme afirma o conhecido, de fato mantinha uma plantação de maconha e fazia vendas de “poucas porções”.A irmã de Conceição diz que as plantas eram “apenas para consumo próprio” e defende que a morte não teve relação com a plantação que, segundo ela, “ficava apenas em alguns vasos”. “Ele era uma pessoa calma até demais. Tranquilo, totalmente passivo, plantava a maconha para consumo dele”, afirma a familiar.Para Murillo Aleixo, líder comunitário da região, os indícios são de execução. “Eles levaram tiro na cara, isso não é confronto, foi uma execução”, diz Aleixo. O líder era amigo próximo de Antônio, conhecido como Chico, e de Osanir, o Niro, também mortos na ação. Ele diz que os dois não teriam qualquer relação com a plantação de maconha. Chico tinha uma propriedade ao lado do sítio de Conceição e eram amigos dos outros homens.“Os dois (Chico e Niro) são filhos da comunidade, todos conhecem, não tinham armas. São pessoas que vendiam o almoço para comprar a janta”, diz Aleixo, ao destacar que os homens eram pobres. “Gostavam de uma cachaça, mas eram trabalhadores”, acrescenta o conhecido, que classifica a morte como “queima de arquivo”, afirmando que eles não estariam no alvo dos policiais, mas que morreram por estar na companhia dos outros homens. PMs dispararam 58 tiros na açãoAo menos 58 disparos de fuzil e pistolas de diferentes calibres foram efetuados pelos policiais militares que participaram da ação. No documento com o relato dos policiais consta que sete militares (dois sargentos, dois cabos e três soldados) do Grupo de Policiamento Tático (GPT) do Batalhão da PM de Niquelândia efetuaram disparos com fuzil, pistola calibre 9mm e calibre .40, sendo que não consta o número de tiros feito por um deles, o que elevaria o total de disparos.Não é informado no registro da ocorrência quantos disparos o grupo abordado teria feito contra os policiais, apesar de as supostas armas deles terem sido apreendidas – uma espingarda, dois revólveres calibre 32, um calibre 38 e outro 44. Nas fotografias do material recolhido pela PM, aparecem apenas cinco cápsulas.Os policiais contam que chegaram a pé ao local após deixarem a viatura em um rio a dois quilômetros da propriedade. Após a ação que resultou nas mortes, ainda segundo a versão dada na delegacia, os mesmos policiais tentaram socorrer os baleados, levando-os até a viatura que estava próxima ao rio e depois até o hospital municipal de Colinas, onde os quatro já chegaram mortos. No relato consta que na propriedade rural não havia sinal de celular. Os pés de maconha foram incinerados no local pelos policiais.Polícia Civil investiga operaçãoO caso está sendo investigado pelo delegado da Polícia Civil Alex Rodrigues, que atua na delegacia de Cavalcante. Perguntado sobre as informações sobre a antiga proximidade entre um PM e uma das vítimas e que a ação teria sido uma execução, Rodrigues diz que ainda não as recebeu. “O inquérito policial já foi instaurado, as diligências estão em andamento”, informa o delegado, que diz não haver prazo para a conclusão do inquérito. “Esperamos resolver o mais rápido possível”, acrescenta. O POPULAR entrou em contato com a Polícia Militar de Goiás (PMGO), solicitando posicionamento sobre o caso e os apontamentos, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. Não foi possível estabelecer contato com o sargento citado pelos familiares de Salviano Conceição, o espaço segue aberto para manifestações. A ação policial causou revolta da população da região. Muitas manifestações foram feitas nas redes sociais, lamentando as mortes e cobrando esclarecimentos por parte da polícia. Os familiares e amigos, juntos com entidades sociais, farão reunião neste sábado (22) para buscar repercussão para o caso. “Não queremos embate, mas queremos justiça”, diz a irmã de Conceição. Segundo o advogado que irá representar as famílias das vítimas, as quatro vítimas estavam rendidas no momento em que foram mortas. O representante, que diz que se identificará na próxima semana, afirma que as pessoas que conseguiram fugir sustentam o relato. O advogado afirma que tentou acompanhar a perícia do local, mas que foi impedido. Ele diz que são muitas as questões a serem apuradas. Entre elas, está o local em que os homens foram mortos e quantos tiros eles teriam disparado contra os policiais.(Colaborou Márcio Leijoto)-Imagem (1.2390922)