O índice de isolamento social em Goiânia caiu 1,4 ponto porcentual na primeira semana de reabertura do comércio, incluindo bares, restaurantes, shoppings e academias, em relação à semana anterior, quando ainda prevalecia o decreto estadual do revezamento 14x14, que mantinha as atividades econômicas fechadas por 14 dias, intercalando com mesmo período de reabertura. Autoridades e especialistas se dividem quanto a uma análise desta queda, mas concordam que é preciso reforçar a conscientização das pessoas quanto aos riscos que correm se expondo mais fora de casa.Considerando a semana entre os dias 12 (domingo) e 18 (sábado), o índice medido pela empresa In Loco, que é monitorado por prefeituras e governo estadual, além de pesquisadores, ficou em 38,3%, enquanto no mesmo período da semana anterior fechou em 39,7%. A partir da semana do dia 5 de junho, quando a prefeitura havia anunciado que só reabriria as atividades comerciais se o índice chegasse a 50%, a semana que se encerrou foi a terceira melhor na média. Ao todo, se passaram 7 semanas desde então. O índice médio da semana que se encerrou dia 18 é melhor do que o da semana entre os dias 21 e 27 de junho, que ficou em 36,4% e foi quando as atividades comerciais foram autorizadas por menos de duas semanas pela Prefeitura.É praticamente um consenso no meio acadêmico e nas administrações públicas municipais e estadual que o índice de isolamento está diretamente relacionado à taxa de contágio do novo coronavírus (Sars-CoV-2). Quanto maior o primeiro, menor o segundo. O índice apontado como ideal é acima de 50%, algo que em Goiânia só aconteceu no fim de março e esporadicamente em alguns domingos em abril.Tanto o titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia de Goiânia, Walison Moreira, como o da Secretaria-Geral da Governadoria (SGG) do Estado, Adriano da Rocha Lima, acreditam que os decretos já perderam força junto à população e independentemente se as atividades comerciais estão autorizadas ou não a funcionar, as pessoas já se decidiram se vão ou não quebrar o isolamento.“As pessoas que decidiram sair, vão sair, vão continuar se arriscando. Quem tem mais consciência dos riscos, dentro do possível vai ficar isolada ou se precisar sair, vai fazer isso seguindo os protocolos”, comentou Adriano, para quem o índice de isolamento variou muito pouco nos últimos dois meses justamente porque o goianiense já está com a postura em relação ao isolamento consolidada.Walison afirma que a capacidade de manter a população em isolamento foi perdida no começo de maio, quando os índices passaram a ficar entre 39% e 35% nos dias úteis.Entre esta época e o começo de junho, tanto a Prefeitura como o governo estadual ainda falavam em tentar manter o índice acima de 50%, algo que já não ocorria desde 19 de abril. “O comércio não consegue ficar sem funcionar e a população acaba consumindo. O isolamento não varia conforme a dureza do decreto”, comentou o secretário municipal.perigoO biólogo e professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thiago Rangel, que integra um grupo de pesquisadores que faz modelagem de cenários da Covid-19 em Goiás, diz que mesmo caindo pouco o índice é muito baixo e preocupante e mantido neste patamar segue agravando o quadro de internações e óbitos pela doença.“Se as pessoas ainda não se conscientizaram pelo medo, com os mais de mil óbitos, então não sei como o poder público pode conscientizar mais”, disse Rangel. O pesquisador destaca que o isolamento é atualmente a medida mais eficaz para enfrentar o avanço da Covid-19, inclusive para reforçar outras políticas de combate, como o rastreamento de contatos de pessoas contaminadas. “O rastreamento se mostrou eficaz, mas em locais onde o número de novos casos é baixo.” Para a taxa de contágio cair, explica o biólogo, precisa aumentar o índice de isolamento.Rangel também ressalta que o índice de isolamento tem impacto diferente entre as classes sociais, uma vez que as pessoas mais ricas têm melhores condições de se manter em distanciamento mesmo quebrando o isolamento. “Me preocupa muito a questão do transporte público, das aglomerações. A população mais pobre sofre mais.” ConscientizaçãoAdriano concorda que é preciso reforçar o trabalho de conscientização das pessoas e que isso seria mais eficaz do que a imposição de decretos no momento. Entretanto, diz que o Estado está limitado financeiramente na parte da comunicação e que o governo tem feito o possível, principalmente nas redes sociais. Ainda segundo o secretário, as prefeituras poderiam fazer mais neste sentido, ao tentar levar mais informações para os cidadãos.O secretário estadual acha possível que a piora na situação da Covid-19 no Estado, principalmente com relação aos óbitos, pode frear o ímpeto das pessoas de aproveitarem mais a flexibilização.Walison também é favorável a se trabalhar mais como informação para o goianiense, mas lembra que a falta de uma unidade no discurso das autoridades federal, estadual e municipais confunde a população.Para o secretário municipal, os índices podem cair um pouco mais nos próximos dias, uma vez que muitos comércios passaram a semana repondo estoque e outros estabelecimentos ainda não reabriram, seja por questões financeiras ou por receio dos riscos com a pandemia em vigor. Além disso, ele destaca que serviços e comércios que eram considerados não-essenciais há quatro meses, com a chegada da epidemia, hoje já são considerados necessários, como vestuário, o que pode levar mais pessoas às ruas.-Imagem (1.2089196)