Um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) mostra que as medidas restritivas de isolamento social adotadas pelo governo estadual e pelas prefeituras e o comportamento da população nas primeiras semanas da pandemia de Covid-19 no Estado evitaram a morte de até 3,4 mil pessoas.O trabalho foi desenvolvido pelo mesmo grupo que tem acertado na previsão de cenários de avanço do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiás, inclusive com precisão no número de mortes futuras. Na modelagem feita em abril, por exemplo, os pesquisadores acertaram o dia em que ocorreriam as mortes 100 e 150 no Estado, apontando que estamos no pior cenário previsto para a pandemia.Para chegar a esse cálculo, o grupo projetou o cenário de Goiás com os índices de isolamento verificados antes do primeiro decreto estadual com medidas restritivas de atividades econômicas e sociais, publicado em 13 de março. As três notas técnicas elaboradas a partir de abril pelos pesquisadores mostram uma forte relação entre o isolamento social e a taxa de contágio do novo coronavírus – quanto maior o primeiro, mais baixo o segundo.No começo da epidemia em Goiás, a taxa de contágio estava em 2,3, ou seja, 10 pessoas contaminavam em média 23 pessoas. Com as medidas de restrição em março e o índice de isolamento mantido acima de 50% no final daquele mês, a taxa caiu para menos de 1,2 no começo de abril, mas com o relaxamento da população e posteriormente das próprias autoridades, essa taxa voltou a subir, chegando a 1,6 no final do mês passado.Exaurido“São mais de 3 mil goianos que devem a vida a esse esforço da sociedade. Mas outra conclusão do estudo é que todo aquele esforço de março e abril já foi exaurido, precisa ser renovado, porque nossos índices de isolamento estão baixos demais e estamos diante de uma sobrecarga no sistema hospitalar”, disse o professor e biólogo Thiago Rangel, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG.Para Thiago, é fundamental que a população consiga voltar a ter um índice de isolamento acima de 50% novamente o quanto antes. “O problema de atrasar estas medidas é que se não tomarmos esta precaução agora, quando a medida vier vai ser mais agressiva porque será mais urgente a necessidade”, destaca o biólogo, lembrando que medidas mais radicais para conter o coronavírus trazem um impacto maior para a sociedade. “O momento de tomar a decisão é agora. Nunca estivemos tão perto de um colapso do sistema hospitalar”, disse em entrevista que está disponível na íntegra no perfil do POPULAR no Facebook.Atualmente, o índice de isolamento em Goiás está em um meio termo entre o ideal necessário e o que era constatado antes da pandemia.Pesquisador alerta para baixo índice em GoiásO biólogo e pesquisador Thiago Rangel acredita que o uso de máscaras e o respeito às medidas de higiene e distanciamento social têm ajudado para que o cenário não seja ainda pior do que está em Goiás, mas diz ser fundamental que a população volte o quanto antes para um índice de isolamento acima de 50%. Desde abril que o Estado não alcança em nenhum dia este valor e a média semanal, considerado os dias úteis, tem ficado entre 36% e 38% atualmente.“Por um lado dá para dizer que poderia estar muito pior (sem as máscaras e as práticas de higiene e distanciamento), mas não é suficiente. Precisamos evitar contato, aglomerações, manter o distanciamento social. A máscara ajuda, mas e como faz em um ônibus lotado?”, questiona Rangel.O pesquisador cita como um bom exemplo de que é possível reduzir a velocidade do contágio do novo coronavírus o caso de Florianópolis, cidade que se destacou na mídia nacional nesta semana por estar há um mês sem registrar mortes por Covid-19. Na capital catarinense foram adotadas medidas como a suspensão do transporte coletivo e outras medidas para evitar ao máximo aglomerações de pessoas, associado a uma maior testagem de pessoas.“Se nós conseguíssemos manter (a taxa de contágio) abaixo de 1,2, estaríamos seguros. Se baixasse ainda mais, daria mais tempo para os hospitais se prepararem ainda mais, daria um fôlego maior. Temos exemplos no Brasil de cidades que conseguiram fazer isso, como Florianópolis.”Rangel destaca que as duas primeiras semanas de junho são cruciais para se evitar em Goiás o colapso do sistema de saúde, considerando que até agora as projeções feitas pelo grupo que ele integra estão acertando nas estimativas futuras, o que coloca Goiás em um cenário no qual haveria um pico de casos de internação insustentável já a partir do final do mês. “Estas duas primeiras semanas de junho são muito críticas, estamos em um momento de tomada de decisão, porque agora os hospitais já estão substancialmente ocupados. Não podemos esperar o hospital colapsar porque se esperar teremos pelo menos duas semanas do sistema completamente colapsados.”Em Goiânia, medidas restritivas evitaram até 1,6 mil mortes O estudo da UFG mostrando como seria Goiás sem as medidas de isolamento adotadas até então mostra números graves para o Estado. Caso este cenário se confirmasse, já seríamos em torno de 4,4 milhões de contaminados, com uma média superior de 200 mortes diárias por Covid-19. E a situação seria ainda mais grave, pois o levantamento não leva em conta as mortes de pessoas que não conseguiriam atendimento médico por sobrecarga do sistema.Este novo estudo feito pela UFG foi apresentado no começo da semana em reuniões do Comitê de Operações Emergenciais (COE) de enfrentamento ao novo coronavírus municipal de Goiânia e estadual. A Prefeitura chegou a emitir uma nota mostrando que o levantamento reforça a necessidade de cuidados em relação ao isolamento social nestas próximas duas semanas. “Caso a evolução ocorra conforme o primeiro cenário, ou seja, atingindo isolamento social de 50-55%, entre 800 a 1.600 pessoas deixarão de morrer por Covid-19 (em Goiânia).”