-Imagem (1.1694707)Um dos lugares mais aprazíveis de Goiânia, o Jardim Botânico Amália Hermano Teixeira, deve ganhar novos cuidados neste início de 2019, depois de ter passado este ano com um acúmulo de problemas. A promessa é da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) que definiu como prioridade uma atenção maior para a área de preservação ambiental que integra o plano original da cidade e em 2018 completou 40 anos na categoria de Jardim Botânico. O parque é utilizado pela população para contemplação, educação ambiental e pesquisas, mas a sistemática carência de servidores especializados tem interrompido nos últimos anos ações inovadoras que exigiram custos e dedicação.Mato, lixo, erosões e invasão de vândalos e usuários de drogas são situações aparentes e recorrentes, entretanto muito do que foi feito na área em termos de projetos ambientais e de pesquisa científica sofre com os efeitos da descontinuidade. Há alguns meses de licença-prêmio, a bióloga Geórgia Ribeiro Silveira Sant’Ana, doutora em Ciências Ambientais, que durante cerca de 20 anos trabalhou no Jardim Botânico, deve se aposentar. Ela não foi substituída ainda e muito das atividades que desenvolveu depende de profissionais gabaritados.Inaugurada em 2008 a Ilha das Borboletas, com uma estrutura telada para atrair, criar e pesquisar borboletas, tornou-se um dos grandes atrativos do Jardim Botânico. “Mas só funcionou adequadamente durante três anos”, conta Geórgia. A bióloga explica que pessoas qualificadas em contínuo treinamento é de grande importância. “É preciso cultivar o jardim e ter cuidado com as lagartas. Cada borboleta exige uma planta especial. Sem pessoal capacitado ficou difícil fazer a manutenção”, detalha. Um pequeno lago ao lado do borboletário, que abrigava a planta aquática ninfeia, está seco.Servidor efetivo da Prefeitura de Goiânia, Flávio Costa Pereira deixou a gerência do Mercado Municipal do Setor Pedro Ludovico no início do mês de dezembro para assumir a administração do Jardim Botânico. “Estou me inteirando das necessidades imediatas e já tomando providências”, diz. Roçadeiras estavam no parque na última semana aparando o gramado e as laterais da pista de caminhada. Já o conserto do deck e do anfiteatro para 300 pessoas, outros chamarizes da área verde, deverá ser feito nos próximos dias após análise de um arquiteto. O local é muito procurado para eventos culturais e cerimônias religiosas, como casamentos.Categoria APresidente da Amma, Gilberto Marques Neto promete uma “transformação radical” no local em 2019. “Vamos elevá-lo à categoria A”, garante. Em função de atividades implementadas (veja algumas na página ao lado) e da melhoria da estrutura, o Jardim Botânico de Goiânia possui o título de categorias C e B, segundo classificação da Secretaria Nacional de Jardins Botânicos, do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Em 2010, quando recebeu o título C, a unidade contava em seu quadro funcional com 11 servidores técnicos, 8 deles efetivos, sem incluir jardineiros e guardas. Hoje, são apenas seis jardineiros lotados no Botânico, todo o corpo técnico está na Amma e presta serviços na unidade.Flávio Costa informa que pretende buscar parcerias junto a instituições universitárias para garantir a continuidade dos projetos de pesquisa e de educação ambiental. Atualmente duas pessoas vinculadas à Faculdade Alfredo Nasser (Unifan) colaboram com a unidade, mas já houve períodos de maior interesse.O Herbário do Jardim Botânico é um legado do professor José Ângelo Rizzo, um dos mais reconhecidos botânicos do País, que morreu em novembro deste ano. Também em decorrência de parcerias com empresas privadas muitos projetos foram realizados no local, agora paralisados.“Muita gente tem dificuldade de entender o que é um Jardim Botânico. Não se trata apenas de um parque, é uma unidade diferenciada que envolve pesquisa, educação, contemplação e turismo. São atividades diversas”, define Geórgia Sant’Ana.Ela acredita que este desconhecimento implica diretamente na falta de investimento e locação de pessoal. O presidente da Amma afirma que tem buscado informações sobre atividades desenvolvidas em unidades similares para implantar ações semelhantes em Goiânia. Grades devem ser recolocadas em volta do parqueEste ano cerca de 3 mil estudantes foram levados ao Jardim Botânico para aulas de educação ambiental e outras 7 mil visitaram a unidade para contemplação, eventos e outras atividades. É um número pequeno pela riqueza que a área oferece. João Barros, servidor operacional há sete anos atuando no local, fica incomodado com o lixo que costuma amanhecer na pista de caminhada. Por ali é comum encontrar entulhos de construção, restos de móveis, peças velhas de carros e de eletrodomésticos. Até sacos cheios de papel já foram depositados na área por uma gráfica.“A população precisa se conscientizar da importância do Jardim Botânico”, clama Flávio Costa. E com toda essa imundíce convivem animais como macacos e capivaras, além de aves como tucanos, araras, garças e paturis, algumas das espécies que habitam na unidade de conservação e podem ser cotidianamente observadas. “Dentro da mata tem muitas erosões e invasores drogados”, detalha João Barros. A cuidadora de idosos Sônia Coelho Batista, que mora nas imediações, costuma aproveitar as sombras do Jardim Botânico ao lado da filha especial e do casal de netos. “Gosto do cheiro de mato. Aqui é um lugar sossegado”, mas nem tanto. Na quinta-feira ela procurou um lugar próximo à sede administrativa ao ser perseguida por um rapaz visivelmente drogado que tinha saído da mata.Um dos projetos em vista, conforme Flávio Costa, é o retorno das grades cercando a unidade. O Jardim Botânico possui um posto da Guarda Municipal, o que não impede problemas em seu interior. O novo administrador pretende também pedir apoio da Polícia Militar para reforçar a segurança. João Barros estima que em sete anos trabalhando na unidade entre dez e 15 corpos de pessoas assassinadas foram localizados no interior da área verde. As grades, acredita o diretor de Áreas Verdes e Unidades de Conservação da Amma, Ormando Pires, poderão intimidar a entrada de invasores e impedir o trânsito de animais para as vias urbanas. Vizinho ao Jardim Botânico, o artesão Gné Azevedo não se conforma com o que tem visto por ali. “É um absurdo o descaso dos nossos governantes com a maior área verde de Goiânia”. Importância ecológica e históricaA área do Jardim Botânico, com 100 hectares, está localizada na região sul de Goiânia, entre os bairros Santo Antônio, Pedro Ludovico e Vila Redenção. Dividida ao meio pela Avenida 3ª Radial, abriga três nascentes do Córrego Botafogo, duas delas foram represadas formando lagos. Sua cobertura vegetal conta com espécimes centenárias de grande porte. A área 1, com 60 hectares, sofre com a degradação provocada por famílias invasoras. Parte delas foi retirada, mas ainda restam cerca de 150. Na área 2, que também foi invadida, restam apenas duas edificações objetos de demandas judiciais.Em 1978 a área ganhou o conceito de Jardim Botânico de Goiânia. Vinte anos depois, por força da Lei Municipal 7.800, a unidade de preservação passou a ter como finalidade desenvolver pesquisa, divulgação, conservação e recuperação, além de programas de atividades de educação ambiental.-Imagem (1.1694744)