A Justiça quer saber o que aconteceu com uma arma de cano longo – carabina ou fuzil – que sumiu de dentro da caminhonete onde estava o instrutor de tiros Danilo de Castro Sahium, executado aos 32 anos em um posto de combustíveis em Aparecida de Goiânia, em 21 de agosto, por ordem do Comando Vermelho (CV). Os criminosos não levaram a arma, mas a família notou que ela não foi devolvida pela polícia junto com o material recolhido no local, como duas pistolas e o próprio veículo. A dúvida sobre o destino da arma só veio à tona agora após a defesa de William de Jesus Medeiros, um dos acusados, cobrar uma resposta dentro do processo por homicídio.Danilo teria sido morto com 18 tiros porque o CV acreditava que ele, de alguma forma, havia repassado informações à Polícia Militar que resultaram na apreensão, um mês antes, de um carregamento de armas, envolvendo fuzis AK-47 e pistolas, que iria de Goiás para o Rio de Janeiro. Seis pessoas respondem pelo assassinato, sendo que duas delas estariam escondidas em alguma área sob controle da facção na capital fluminense. O instrutor voltava de uma chácara com um tio quando foram até o posto pegar uma moto e caíram em uma emboscada. O grupo já monitorava há dias a vítima e esperava o melhor momento para matá-lo.O tio de Danilo voltou a ser ouvido pela Polícia Civil no dia 23 de outubro e falou que, na volta da chácara, antes de passar no posto de combustíveis, o instrutor foi até o apartamento dele em Goiânia e voltou para a caminhonete com uma arma de cano longo em uma caixa grande e preta, colocando-a no banco de trás do veículo junto com um cachorro da família. Dias depois, ao se lembrar disso, ele descobriu que nem a arma nem a caixa estavam relacionadas entre os objetos que foram apreendidos no local do crime. E imagens das câmeras de segurança do estabelecimento mostram que os criminosos que fizeram a emboscada foram embora sem levar nada.O sumiço da arma de cano longo foi citado no final de julho durante audiência de instrução e julgamento pela morte de Danilo, quando o tio dele comentou sobre a situação. A defesa de William pediu então os vídeos das câmeras de segurança no dia do crime para esclarecer o fato. O argumento é que a informação prestada pelo tio é um “indício concreto e relevante de ocultação de provas materiais que podem alterar substancialmente a compreensão dos fatos e a eventual responsabilização penal”. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) foi contra o pedido, alegando não ter relação nenhuma com a acusação que pesa contra o réu. A juíza Christiana Aparecida Nasser Saad, da 2ª Vara Criminal de Aparecida, negou parcialmente o pedido da defesa, dizendo não haver necessidade de ir atrás dos vídeos, mas autorizando que os órgãos de segurança pública esclareçam sobre o suposto sumiço. Tanto a Polícia Civil como a PM já enviaram ofício dizendo que nenhuma arma de cano longo foi apreendida. Na oitiva do tio de Danilo, o delegado Rogério Bicalho, da GIH de Aparecida, comentou que não tinha nenhuma arma similar registrada em nome de Danilo e perguntou se o familiar não teria se confundido até mesmo em relação ao momento em que a caixa preta foi deixada no veículo. Mas o tio manteve a versão.Ao responder à demanda da juíza, Rogério afirmou que, além de ouvir o tio de Danilo, também foi atrás de informações sobre os vídeos das câmeras de segurança e que as imagens mostram apenas alguns minutos após a fuga dos criminosos, “não constando o momento da chegada dos policiais militares”. Ele reforça que o “possível furto ou extravio de tal arma” não tem qualquer relação com o crime em investigação, mas sugere que, como nos primeiros minutos após a morte esteve no posto “uma grande quantidade de policiais militares”, a Justiça encaminhe à corregedoria da Polícia Militar as informações “visando a apuração de possível conduta criminosa”.O POPULAR não conseguiu contato com o delegado nesta quinta-feira (30).