Atualizada às 21h14Em Goiás não é diferente de outras partes do Brasil a alta demanda por testes para o diagnóstico de Covid-19 com a entrada no País da variante ômicron. Os sintomas gripais que têm acometido grande parte da população provocaram nos últimos dias uma corrida às unidades de saúde, públicas e privadas. A superlotação levou a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), por meio de seu Comitê de Análises Clínicas, a soltar nesta quarta-feira (12) uma nota técnica recomendando aos associados que priorizem os testes em pacientes mais graves em razão da possibilidade de faltar exames por causa da carência de insumos necessários para a fabricação. Em Goiânia, laboratórios e drogarias têm registrado aumento na procura pelo serviço. De maneira geral, os materiais estão escassos e não há fornecimento suficiente para a demanda. Uma farmácia da capital chegou a ficar uma semana sem exame porque não havia conseguido realizar compras.A Abramed informa que entre 3 e 8 de janeiro foram processados 240 mil testes nos laboratórios associados à entidade, um crescimento de 98% em relação aos dias 20 a 26 de dezembro de 2020. Filas imensas de pessoas à procura de um diagnóstico assertivo podem ser vistas em toda a Região Metropolitana de Goiânia e não apenas em unidades da rede pública. Em dois carros, a família da psicóloga Inês Pena precisou aguardar quatro horas, na segunda-feira (10), para fazer o exame num laboratório privado que confirmou Covid-19 em seis pessoas. Márcio André, da rede de laboratórios Citocenter, disse ao POPULAR que em janeiro a demanda por testes de Covid-19 aumentou 70% em relação ao mesmo período de dezembro de 2020. “Estamos com dificuldade para aquisição desses testes, mas acreditamos que até segunda-feira (17), tudo estará normalizado.” Segundo o representante do Citocenter, neste momento o entrave maior é a falta de mão de obra qualificada para atender a população porque na própria rede houve um aumento significativo de casos positivos. “Temos um grande número de colaboradores afastados e não há possibilidade de colocar pessoas na linha de frente sem um mínimo de treinamento e experiência”. Márcio André explicou que o Citocenter está realizando cerca de mil testes diários atendendo a prioridade recomendada pela Abramed e a maioria com resultado positivo. “Os pacientes, vinculados a planos de saúde, também estão enfrentando dificuldades para conseguir uma consulta para que o médico libere o pedido”, contou. Foi o que ocorreu com a gerente de escritório de contabilidade Euda Cândida Jaime que, fragilizada pelos sintomas gripais, perambulou por vários hospitais e não conseguiu fazer uma consulta pelo Ipasgo para solicitar o exame RT-PCR, considerado o mais confiável. “Em todos os hospitais que eu fui, fiquei horas na fila. Fui obrigada a pagar pelo teste.” Uma dentista, que preferiu não se identificar, confirmou que o Ipasgo está demorando 24 horas para autorizar o exame.Na nota técnica, a Abramed diz que a alta transmissibilidade da variante ômicron causou um aumento exponencial de casos da Covid-19 e que insumos para testes já faltam em outros países, por isso a orientação para que sejam priorizados os pacientes que buscarem pelo diagnóstico. Pela escala proposta, devem se submeter ao teste prioritariamente, pacientes que tenham maior gravidade de sintomas, seguidos de pacientes hospitalizados e cirúrgicos; pessoas no grupo de risco; trabalhadores da saúde e colaboradores de serviços essenciais.PreocupaçãoO Laboratório Hemolabor, que concentra os testes de Covid-19 em sua unidade do Setor Aeroporto, em Goiânia, já anunciou que vai atender a recomendação da Abramed. “A possibilidade de desabastecimento de insumos preocupa o setor de medicina diagnóstica e precisamos apenas tomar algumas medidas para gerenciar estoques até que a situação esteja normalizada e contar com a compreensão de toda a população para esta limitação de pessoal e insumos que todos os laboratórios do Brasil estão sofrendo”, comentou o diretor técnico da rede, Nelcivone Soares de Melo. O Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh) também registrou um aumento substancial dos pedidos por testes RT-PCR nos últimos dias. “Entre 1º e 12 de janeiro, a demanda mais que dobrou em comparação aos últimos dez dias do mês de dezembro”, informou em nota o Ingoh. A empresa considera alarmante a possibilidade de falta de insumos para os exames. “Esses materiais também são utilizados no processamento de painéis de vírus respiratórios, os quais passaram a ser mais solicitados, diante de casos de coinfecção encontrados na população. Nesse caso, a demanda quintuplicou nos mesmos períodos citados anteriormente.” O Ingoh informou que mantém contato permanente com fornecedores para manter o abastecimento de testes em seu estoque e resguardar o atendimento de pacientes hospitalizados, assim como de toda a população. Redes de drogarias suspendem o serviçoNesta quinta-feira (13) a reportagem tentou agendar exame de detecção da Covid-19 em farmácias de Goiânia. A marcação, que é feita de maneira digital nas grandes redes, estava com o aviso de suspensão em três das quatro pesquisadas. O anúncio dizia que nos próximos dias o abastecimento seria normalizado e o atendimento retomado. Em outra grande rede com farmácias em todas as regiões da capital só havia disponibilidade do serviço para a unidade do Jardim Novo Mundo. A primeira data em aberto era a próxima segunda-feira (17), com horários pela manhã e à tarde.A reportagem ligou em 15 farmácias das regiões Central, Sul e Sudoeste de Goiânia à procura do serviço, todas que não são de rede, e 14 delas não realizavam o serviço. AumentoNa drogaria onde o serviço estava disponível, o mesmo custava cem reais e poderia ser marcado em breve. No entanto, antes disto, o estabelecimento do Jardim América chegou a ficar uma semana sem realizar testes porque estava desabastecido. O local fazia, em média, nos meses de outubro e novembro, um teste de antígeno por semana. Agora são dez por dia.Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Goiás (Sincofarma), João Aguiar Neto afirmou ao POPULAR que as drogarias da capital sofrem com o desabastecimento dos insumos necessários para a detecção da Covid-19. Ele explicou que as importadores que trazem os materiais de outras partes do mundo. “Vêm de algumas partes do mundo, mas o principal fornecedor é a China”, explicou. No momento, acrescentou ele, estas distribuidoras não têm material suficiente para abastecer a demanda de mercado.O presidente do Sincofarma disse que o aumento mais expressivo se deu do início do ano para cá. Sindicato confirma dificuldadeEm nota, o Sindicato dos Laboratórios de Análises e Bancos de Sangue do Estado de Goiás (Sindilabs) confirmou que a grande procura por testes RT-PCR desde meados de dezembro está provocando escassez de reagentes nos mercados nacional e internacional, mas este reflexo ainda não é sentido no estado e que os laboratórios têm conseguido atender a demanda. A entidade diz que está monitorando a situação. Presidente do Sindilabs, Christiane do Valle diz que a alta procura pelo exame e a possibilidade de faltar insumos podem aumentar o prazo de entrega de resultados ou levar à suspensão temporária de testes. O Sindlabs não disse se vai orientar os associados sobre a recomendação da Abramed. IpasgoO Instituto de Assistência dos Servidores Públicos de Goiás (Ipasgo) foi procurado para responder sobre a possível dificuldade de realizar testes para a Covid-19 por meio do plano. O Ipasgo reconheceu que nos últimos dias houve um aumento “expressivo” na procura por atendimentos médicos.O instituto esclareceu que 130 unidades oferecem o teste RT-PCR. O Ipasgo acrescentou que nos primeiros 13 dias de 2022, foram realizados 10.268 testes para a detecção da Covid-19. “A demanda já é superior aos exames realizados em todo o mês de dezembro (4.889).”Para dar resposta ao aumento, o Ipasgo afirmou que reforçou as equipes que fazem a autorização dos pedidos.