Atualizada às 21h38 do dia 18/7/2022O volume de viagens intermunicipais por meio de lotação clandestina que saem de Goiânia aumentou depois da pandemia da Covid-19. É o que relatam os usuários desse tipo de transporte. De acordo com eles, o número de destinos também aumentou. Se antes as lotações eram majoritariamente para Anápolis e Brasília, agora também vão para destinos como Pires do Rio e Caldas Novas. Passageiros dizem que optam pelo serviço por ele ser mais rápido e ter horários flexíveis.O POPULAR esteve na Praça da Bíblia, no Setor Leste Universitário, no final da manhã da última sexta-feira (25) ao longo de uma hora constatou a presença de pelo menos seis motoristas oferecendo viagens. Quatro deles estavam indo para Anápolis, um para Brasília e outro para Inhumas. Os valores variavam de R$ 15 até R$ 60. Os veículos tinham entre 4 e 6 lugares disponíveis.Os usuários apelidaram esse tipo de transporte de ‘Goiânia Urgente’. Eles podem ser carros ou até mesmo vans. A comunicação com os motoristas é feita muitas vezes pelo celular, onde uma vaga é reservada. Entretanto, lugares também são oferecidos no momento do embarque. As lotações costumam sair dos arredores da Praça Bíblia em direção às cidades do interior. De acordo com os passageiros, antigamente era mais comum apenas viagens para Anápolis, mas agora também existem lotações para Ceres, Pires do Rio, Caldas Novas e outras cidades.A reportagem conversou com uma psicóloga de 26 anos que preferiu não se identificar e estava indo para Anápolis de lotação. Ela trabalha em Goiânia e mora na cidade vizinha. “Eu acabo pagando um pouquinho mais caro, mas é cômodo para mim”, conta. Uma vaga em uma lotação para Anápolis custa R$ 15, enquanto a passagem do ônibus intermunicipal tem o valor de R$ 13,50.Leia também:- Alta do diesel deve deixar frete até 7% mais caro- Veja roteiro com opções de resorts para curtir nas férias de julho em Goiás- Pandemia faz viagens caírem em mais de 40% em GoiásA mulher diz que trabalha no setor Bueno e que para ir para a Rodoviária, no setor Norte Ferroviário, é mais demorado do que ir para a Praça Bíblia. “Preciso pegar dois ônibus para chegar lá (Rodoviária). Por isso, para mim é melhor esperar na praça mesmo”, relata. A psicóloga esclarece ainda que na Rodoviária ela tem que esperar pelo ônibus que sai de 30 em 30 minutos. Já na Praça da Bíblia existem ônibus e diversas lotações. “Saem carros o tempo de lá. Sempre dou preferência porque eles chegam bem mais rápido em Anápolis do que os ônibus.”Um rapaz, de 21 anos, que mora em Inhumas e estuda em Goiânia também opta por viajar de lotação por conta da rapidez do transporte. “Durante a pandemia da Covid-19 as viagens de ônibus passaram a ter os horários mais espaçados. Então, comecei a ir de lotação quando tinha aula presencial. Agora, me acostumei. Como a praça fica muito perto do setor Leste Universitário, onde eu estudo, sair daqui também é mais cômodo para mim”, afirma o jovem que preferiu não se identificar.De acordo com a Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos (AGR, tanto a Praça da Bíblia como o Ponto do Jura, na Avenida Anhanguera, saída para Inhumas, são pontos permitido para embarque e desembarque de passageiros e que a empresa Viação Araguarina é autorizada a fazer o embarque e desembarque de passageiros na Praça da Bíblia para a cidade de Anápolis.O proprietário da Transmirim Passagens, empresa de venda de passagens que fica nos arredores da Praça da Bíblia, diz que percebeu o aumento na quantidade de lotações nos últimos dois anos e que isso acaba afetando nas viagens feitas pelos ônibus convencionais. “Muitas vezes temos 20 passageiros esperando para embarcar, mas antes do ônibus chegar eles preferem subir em lotações para irem para os seus destinos”, relata Antônio da Silva.Ele também acredita que a pandemia teve influência no crescimento das atividades desse tipo de transporte. “Antes tinha uma empresa aqui com três linhas para Pontalina. Com a pandemia, diminuiu para apenas uma. Agora, eles estão tentando aumentar de novo, mas não tem tanta demanda, pois os passageiros ainda preferem ir de lotação”, finaliza.AGR diz fiscalizar com frequência A Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos (AGR) diz que a fiscalização de transportes clandestinos na Praça da Bíblia, no Setor Leste Universitário, é constante. Porém, de acordo com a agência, a existência de “olheiros” no local que “rapidamente avisam os demais clandestinos sobre a chegada das equipes de fiscalização é, no entanto, um dos fatores que dificultam a fiscalização, além da falta de apoio policial.”Comerciantes da região relataram ao POPULAR que a fiscalização na região é escassa. “Muitos fiscais ficam com medo de abordar esses motoristas sem o apoio policial e, por isso, restringem a fiscalização a apenas os ônibus que param por aqui e são regulares”, disse um homem que tem uma loja na região e preferiu não se identificar. A nota explica ainda que eles estão em contato constante com a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO) para que “seja firmado termo de cooperação para que tenhamos, em breve, esse apoio essencial para nossa fiscalização.”BuserA AGR comunicou também que sempre verifica o site do aplicativo Buser para “saber se estão fazendo o transporte intermunicipal de passageiros” e que “caso constatado o fato, tanto a empresa proprietária do veículo quanto o veículo (que não pertence à Buser) devem estar cadastrados na AGR e possuir Licença de Viagem Fretamento/Turismo com lista de passageiros.” Um posto na BR-153, na altura do Shopping Flamboyant, no Jardim Goiás, é palco para embarque e desembarque de diversos ônibus que viajam em colaboração com a plataforma para outros estados. A AGR informou que no caso de transporte interestadual a competência é da Agência Nacional de Transportes Terrestre (ANTT), que comunicou que a Buser funciona como uma plataforma digital usada para venda de passagens e, portanto, “ela não é uma prestadora de serviço rodoviário de passageiros e não está submetida às regras da ANTT."Em nota, a Buser comunicou que "escolhe locais estratégicos para os pontos de embarque e desembarque de passageiros, sempre pensando na comodidade e na segurança dos viajantes e dos funcionários das empresas fretadoras parceiras da plataforma" e que "dado que o seu modelo não tem permissão para operar em rodoviária, por se tratar de uma atividade privada, a empresa estrutura a operação em áreas públicas previstas por lei que permitem o embarque e desembarque de fretados ou áreas privadas que estão licenciadas para estacionamento. Ou seja, o uso desses locais é sempre regular, e se enquadram dentro de todas as regras e legislações."A empresa informou ainda que "nem a Buser nem as fretadoras parceiras praticam o transporte chamado pirata ou clandestino" e que "todas as empresas de transportes que atuam por meio da plataforma contam com motoristas treinados e possuem todas as licenças dos órgãos competentes e as autorizações de viagens necessárias", além de recolherem os mesmos tributos que as empresas que possuem concessão pública.Com relação à segurança, a Buser disse que desde 2017, quando iniciou as operações, "implementou seguro-viagem grátis para todos os passageiros, além daquele já oferecido pelo fretador. Ainda, conta com uma equipe de monitoramento treinada que funciona 24h por dia nos sete dias da semana."Além disso, a empresa destacou que vem implantando equipamentos de tecnologia para garantir viagens mais segura como, por exemplo, "o sistema de telemetria, que monitora a velocidade do ônibus em tempo real para evitar que motoristas ultrapassagem o limite, e as câmeras de fadiga, que detectam sinais de cansaço dos condutores e ajudam a evitar acidentes."A Buser frisou ainda que não é uma empresa de ônibus e sim uma startup que promove a intermediação de viagens rodoviárias por meio do modelo de fretamento colaborativo, "um modelo que tem a legalidade reconhecida por diversas instâncias do Judiciário - até mesmo no Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu a legalidade da atuação da Buser no julgamento da ADPF 574. Vale destacar que, em dezembro de 2020, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) tomou decisão semelhante, ao julgar improcedente um recurso do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo (Setpesp), que acusava a Buser de transporte ilegal de passageiros." Segurança é problema A segurança durante as viagens de lotação é um dos principais problemas apontados por pessoas que optam por não fazem o uso desse tipo de transporte. De acordo com uma professora, de 50 anos, que preferiu não se identificar, as vezes os motoristas dirigem de forma imprudente. “Eles estão constantemente acima da velocidade e já vi várias vezes eles colocarem crianças dentro dos carros sem a cadeirinha específica. Além disso, não é difícil ver eles viajando com mais passageiros do que o carro acomoda”, conta.A mulher mora em Anápolis e trabalha em Goiânia, mas opta por ir e voltar de ônibus todos os dias junto com um outro amigo que também é professor, de 52 anos. “Já tive experiências ruins. Já viajei com motoristas que minutos antes estavam no bar aqui ao lado bebendo. Além disso, os carros normalmente são sujos e bastante antigos. Não confio na manutenção que eles dão. Por isso, mesmo demorando mais, prefiro ir de ônibus do que colocar a minha vida em risco”, finaliza o professor.