Mais de 3.500 dias depois do assassinato do jornalista e radialista Valério Luiz, de 49 anos, o caso finalmente terá o tribunal de júri realizado na próxima segunda-feira (14). A execução do jornalista esportivo que tecia duras críticas aos times goianos, chocou o estado. O filho de Valério será um dos assistentes da acusação e relata anseio pela condenação dos réus.Devido às restrições provocadas pela pandemia da Covid-19, o tribunal do júri não será aberto ao público. Quem irá conduzir a sessão será o juiz Lourival Machado da Costa. Ao todo, quatro advogados de defesa, três promotores e três assistentes de acusação atuarão no caso, que conta com a participação de sete jurados e 30 testemunhas. O ex-presidente do Atlético Clube Goianiense, Maurício Borges Sampaio, é acusado de ser o mandante do crime. Outros quatro homens estão envolvidos. A defesa acredita na absolvição. Um dos réus não estará presente (leia mais ao lado).Apesar de quase 10 anos desde o dia 5 de julho de 2012, o advogado Valério Luiz Filho, vê a realização do julgamento como uma grande vitória. “Eu ouvi muito durante esses 10 anos que minha vida estava muito focada nisso. Entretanto, esta não foi uma escolha minha. Tiveram muitas resistências para este julgamento acontecer”, diz. A pronúncia da sentença de júri popular ocorreu em agosto de 2014 pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). Entretanto, os réus recorreram em vários graus (confira ao lado).O advogado será um dos assistentes de acusação do caso. “Estamos nos preparando há dias. Revendo todo o processo. A ansiedade é grande. Com isso, espero poder honrar a memória do meu pai e dar um desfecho digno para esta história. Foi necessário combater uma grande rede de influência para chegarmos neste momento”, comenta.Os promotores de Justiça Renata de Oliveira Marinho e Sousa, Maurício Gonçalves de Camargos e Sebastião Marcos Martins representarão o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) na sessão.JustiçaValério Luiz acredita na condenação dos acusados e acredita que o caso poderá servir de exemplo para outras famílias que buscam justiça há anos pelos familiares. “Foi um assassinato covarde, cruel e humilhante. Uma punição exemplar serve para mostrar para essas pessoas que a vida tem valor e que por mais poderosa e rica que a pessoa seja, a justiça acontece.”Ele comenta sobre o caso do assassinato do advogado Davi Sebba, que foi morto em 2012 por três policiais no estacionamento de um hipermercado de Goiânia. Nesta semana, o julgamento dos recursos impetrados pela defesa da família do advogado foi suspenso. O desembargador Eudélcio Machado Fagundes pediu vistas para analisar melhor o caso. O objetivo é fazer com que a sentença proferida em 2017 que condenou apenas um dos três policiais acusados seja reavaliada. A intenção da família é levar todos os militares a júri popular. “Torço para a reversão do caso e para que eles sejam levados ao tribunal de júri”, relata.Ele relembra o fato do avô, o ex-deputado estadual e radialista Manoel José de Oliveira, ter morrido em fevereiro de 2021 sem ver o julgamento do caso do filho. Ele tinha 80 anos e lutava contra um câncer no intestino. Deixou 11 filhos e 26 netos. “Tudo vem à memória de novo. É um sofrimento muito grande. A ausência dele (avô) é mais sentida agora. Ele lutou muito para que isso acontecesse. Quando ele morreu, eu segui o mesmo ritmo. Gosto de pensar que de onde ele estiver, está vendo isso acontecer.” Réu acompanhará júri pela internet Um dos acusados de participar do assassinato do jornalista e radialista Valério Luiz de Oliveira, de 49 anos, não estará presente no tribunal de júri que começa na próxima segunda-feira (14). Marcus Vinicius Pereira Xavier, acusado de ser um dos articuladores do crime, está em Portugal. O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) informou que foi solicitada a participação do réu de forma on-line.De acordo com o advogado de defesa do réu, Rogério de Paula, Marcus Vinícius não pretende voltar para o Brasil, pois já tem uma vida constituída junto com a família na Europa. O fato de o réu não estar presente não impede o julgamento de acontecer, já que o direito de defesa dele é resguardado pelo advogado.A reportagem entrou em contato com Ney Moura Teles, que defende o empresário Maurício Borges Sampaio, acusado de ser o mandante do crime, mas não obteve resposta. Entretanto, o advogado Ricardo Naves, que representa Ademá Figueredo Aguiar Filho, Djalma Gomes da Silva e Urbano Carvalho Malta, diz que os acusados são a favor de que o julgamento aconteça logo e acreditam na absolvição. “Eu tenho absoluta convicção da inocência deles. Iremos fazer uma defesa em bloco. Estou estudando esse processo há dois anos e acredito que ele primou pela fraude desde o inquérito”, afirma o advogado. Naves também critica o fato de a Justiça goiana ter concedido liberdade para Marcus Vinicius em 2015, depois de ele ser extraditado de Portugal para o Brasil devido a um mandado de prisão preventiva. “O depoimento dele é central para o caso. Deveria estar aqui. Considero um erro da máquina judiciária”, explica o advogado.Ademá e Maurício foram denunciados pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) por homicídio, mediante pagamento ou promessa de recompensa e recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima. Já Djalma, Urbano e Marcus foram denunciados pelo mesmo crime e por terem articulado o assassinato. Se forem condenados, a pena é de reclusão de 12 a 30 anos. MotivaçõesDe acordo com investigações do MP-GO, as críticas que Valério Luiz fazia à diretoria do Atlético Clube Goianiense como jornalista esportivo nos programas Jornal de Debates, da Rádio Jornal 820 AM, e Mais Esporte, da PUC-TV, teriam desagradado o empresário Maurício Sampaio, que era dirigente do clube de futebol na época.Segundo a investigação, no dia 17 de junho de 2012, em meio aos comentários que a vítima fazia no programa Mais Esporte, ao falar a respeito de possível desligamento de Maurício Sampaio da diretoria do time, ele teria dito que “nos filmes, quando o barco está afundando, os ratos são os primeiros a pular fora”. Em represália, a diretoria do Atlético Clube Goianiense proibiu a entrada das equipes jornalísticas nas dependências do clube.Depois disso, Maurício teria procurado Ademá e Djalma da Silva, que contou com o auxílio de Urbano Malta para organizar o crime, que era próximo de Maurício. Djalma também teria convidado Marcus Vinicius para fazer parte do crime. De acordo com a investigação, ele, que era proprietário de um açougue, chegou a guardar a arma do crime no estabelecimento e o celular que seriam utilizados no homicídio. Os chips dos telefones utilizados na comunicação foram habilitados em nomes de outras pessoas.