Entre janeiro de 2019 e abril deste ano, Goiás teve 94.798,30 hectares desmatados e 75,2% desta área teve a vegetação original totalmente suprimida sem que houvesse qualquer ação fiscalizatória da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Os números fazem parte do Monitor da Fiscalização de Desmatamento, formatado pelo projeto MapBiomas, que cruzou dados de alertas de supressão vegetal com base em informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com as ações fiscalizatórias do órgão estadual.Neste período, o MapBiomas verificou um total de 3.055 alertas de desmatamento em território goiano e de responsabilidade estadual. Destes, a fiscalização chegou em apenas 316, o que corresponde a 10,3% do total. Nestas ações, a Semad aplicou 314 autos de infração e ocorreram 278 embargos nas áreas. Segundo o superintendente de Fiscalização da Semad, Robson Disarz, o levantamento teve o apoio da pasta, que forneceu os dados para o cruzamento das informações. Ele explica que na análise de desmatamento o mais assertivo é verificar a área prejudicada.“O número de alertas e de fiscalização não mostra o tamanho do dano, pois pode haver um alerta em uma área pequena enquanto que a fiscalização ocorreu em outro alerta em uma área mais significativa, por exemplo”, afirma o superintendente. Neste caso, ele entende que a situação de Goiás está na média dos demais estados e acima do fiscalizado pelo governo federal. Disarz ressalta ainda a importância de ter os dados goianos públicos, sendo um dos cinco estados capazes de fornecer essas informações para o monitoramento realizado pelo MapBiomas.Coordenador geral do projeto, Tasso Azevedo, explicou, durante a divulgação do monitor na terça-feira (3), que no panorama nacional ainda predomina a ilegalidade. Em todo o Brasil, entre 2019 e 2022, 3.566.396,85 hectares foram desmatados sem qualquer intervenção dos órgãos de fiscalização, o que corresponde a 86,9% do total da área vegetal suprimida. Ele contou ainda que normalmente o MapBiomas recebe entre 60 mil e 70 mil alertas de desmatamento no País e que cerca de 98% deles são ilegais. “Quando se soma as áreas, 13% é um nível muito aquém do necessário para coibir desmatamento”, diz Azevedo.Leia também:Parque da Chapada dos Veadeiros terá visitação noturnaDado Dolabella sobre morar na Chapada dos Veadeiros, em Goiás: "senti o chamado"O coordenador confirma que os dados estaduais que foram analisados são um pouco melhores, especialmente no Mato Grosso, em que 41% do desmatamento foi fiscalizado e gerou embargos, autos de infração ou ambos. Em Minas Gerais, o índice é de 34,6% da área, um número ainda acima do verificado em São Paulo (26,3%), que está próximo do registrado em terras goianas. O pior índice estadual é no Pará, em que apenas 9,8% da área desmatada foi acompanhada pelas autoridades locais.Para Disarz, as ações de fiscalização em Goiás ainda estão aquém do necessário, mas que é preciso valorizar a evolução dos números de 2016 em diante. “Nós tivemos de reestruturar toda a gerência de fiscalização e monitoramento, confirmar os dados, definir as poligonais de áreas, lavrar os autos de infração. Desde 2020 conseguimos finalizar isso e estamos crescendo. Hoje já conseguimos atuar remotamente, mandar os autos de infração pelos Correios e tomar as devidas providências de forma mais rápida e eficiente.”ReforçoEle conta, no entanto, que é necessário reforçar o efetivo responsável pelos atos e aperfeiçoar o monitoramento, já que novas tecnologias chegam a todo momento. O superintendente ressalta também que os dados com relação a Goiás devem ser melhorados já na próxima atualização do Monitor da Fiscalização, isso porque a Semad deve apresentar as informações sobre as áreas desmatadas que tiveram a autorização para isso, assim como aquelas que já foram desembargadas. O último caso se refere àquelas que sofreram embargo, mas os proprietários já se adequaram às demandas exigidas pelas autoridades.O superintendente afirma ainda que as ações de combate ao desmatamento em Goiás estão atentas com a região Nordeste do estado, que tem sido a mais preocupante. Ele explica que a localização ainda possui grandes reservas de vegetação e por isso tem sido bastante desmatada. No entanto, Disarz reforça que a supressão das vegetações nativas tem ocorrido de maneira generalizada. A prática em Goiás mais comum para a supressão da vegetação é o uso do trator de esteira, em que apenas um equipamento arrasta os espécimes arbóreos ao longo da área a ser desmatada. O coordenador do MapBiomas reforça que o monitor é importante para verificar se as irregularidades são coibidas, de modo a não gerar a sensação de impunidade.