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Médicos relembram medo no início da pandemia no Brasil

Em 26 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde confirmava o primeiro caso de infecção por coronavírus no Brasil – um homem de 61 anos que havia retornado da Itália

Profissionais atendem paciente no Hospital de Campanha de Goiânia

Profissionais atendem paciente no Hospital de Campanha de Goiânia (Douglas Schinatto / O Popular)

O Brasil confirmou o primeiro caso de Covid-19 há cinco anos. Em 26 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde informou que um homem de 61 anos, que havia retornado de viagem à Itália, recebeu o diagnóstico positivo em São Paulo, no Hospital Israelita Albert Einstein. "Não imaginava que a situação evoluiria para algo tão grave, mas hoje ainda me lembro do som do ventilador mecânico dos pacientes intubados", diz o infectologista Moacyr Silva, que cuidou dos primeiros casos no Einstein em meio ao temor de tratar uma doença ainda desconhecida.

Segundo Silva, o medo da morte era uma realidade para os profissionais. Já os pacientes, ao chegarem ao hospital, enfrentavam um sentimento de solidão, sem poder contar com a presença de familiares. "Parecia que estavam em uma solitária", diz o médico.

No Brasil, as primeiras infecções por Covid foram registradas na rede privada, segundo Eloísa Bonfá, presidente do Conselho Deliberativo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). "As pessoas que chegaram com os primeiros casos da doença estavam vindo da Europa, principalmente da Itália [que passava por uma onda de casos da doença], e eram atendidos na rede privada. O sistema público começou a receber mais casos cerca de 15 dias depois, em meados de março", explica.

Os pacientes com quadro leve de Covid eram orientados a cumprir quarentena de 21 dias em casa e a retornar ao hospital somente em caso de piora. Moacyr Silva recorda que o primeiro paciente apresentou sintomas leves, mas que casos graves já começaram a ser registrados no hospital poucas semanas depois. "Foi quase uma explosão. No hospital, treinávamos constantemente como nos paramentar para evitar que os profissionais de saúde contraíssem a doença", relata.

A partir de abril de 2020, o número de casos chegou a quase 4 mil, com 74 óbitos. Foi nesse período que as UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) passaram a ter muitos pacientes em estado grave, intubados em ventilação mecânica. O médico intensivista Leonardo Rolim, que chefiava a UTI para adultos do Einstein, conta que logo nos primeiros casos de Covid ele estabeleceu regras em casa para evitar que esposa e filhos fossem infectados.

"Entre fevereiro e junho de 2020, ninguém podia estar mais próximo de mim do que dois metros e eu dormia em um quarto separado", conta."

No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), os profissionais começaram a se preparar para atender os casos de Covid antes mesmo do primeiro registro da doença no país, mas toda a preparação não foi suficiente para o tamanho da demanda, lembra Eloísa Bonfá, que na época era diretora clínica da instituição.

"Ninguém tinha a mínima ideia da dimensão que isso seria. O pico da Covid foi tão grande que a gente tinha que abrir mais leitos de UTI a cada dois dias. Em dois meses nós passamos de 89 para 300 leitos."

Ela lembra que muitos médicos passaram a dormir no hospital e hotéis, com medo de que pudessem infectar seus parentes em casa. Membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Renato Grinbaum conta que imobiliárias começaram a oferecer apartamentos com aluguel reduzido para profissionais de saúde que precisavam se isolar de suas famílias.

"A gente não sabia quanto tempo iria durar a pandemia, então não tinha como manter dois apartamentos e ficar por anos longe da família", diz.

O primeiro caso de Covid-19 foi notificado pela China, onde surgiu o primeiro caso do vírus, à OMS (Organização Mundial da Saúde) em 31 de dezembro de 2019, descrito como uma "pneumonia de origem desconhecida". Nos últimos cinco anos, a doença causou 7 milhões de mortes no mundo.

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Há 5 anos, OMS declarou pandemia: Brasil tinha futebol lotado e Bolsonaro minimizava o vírus

Em 24 de março, no início da crise sanitária, o então presidente chamou o coronavírus de 'gripezinha'

Teste rápido de Covid-19 em Goiás

Teste rápido de Covid-19 em Goiás (Wildes Barbosa/O Popular)

Há cinco anos, as oitavas de final da Champions League, maior campeonato de futebol da Europa, aconteciam em Paris com as portas fechadas ao público. No mesmo dia, no Maracanã, 60 mil pessoas se aglomeraram para assistir a uma vitória do Flamengo na Libertadores.

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Os jogos aconteceram em 11 de março de 2020, dia em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou oficialmente o início da pandemia da Covid-19. O vírus já circulava no Brasil, mas apenas 69 casos tinham sido confirmados até aquele momento ---e a primeira morte ocorreria no dia seguinte, em São Paulo.

As duas situações contrastantes mostram os diferentes estágios do vírus ---e as diferentes respostas políticas--- no mundo. A Europa e os Estados Unidos, onde o coronavírus já circulava em larga escala e fazia crescer o número de mortos, já tomavam medidas para evitar o contágio, restringindo viagens e promovendo lockdowns.

No Brasil, o então presidente Jair Bolsonaro (sem partido à época), iniciava a retórica que marcaria seu mandato e a resposta brasileira à Covid.

Em 2020, a doença mataria quase 195 mil brasileiros e, em 2021, enquanto o resto do mundo já vacinava sua população e reabria fronteiras e comércios, morreriam mais de 424 mil brasileiros, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Rapidamente foi perceptível que a postura brasileira seria o negacionismo", afirma Deisy Ventura, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).

No dia 9 de março, Bolsonaro afirmou em evento esvaziado em Miami, nos EUA, que o coronavírus estava sendo superdimensionado e culpou a mídia.

Apesar das declarações de Bolsonaro, os primeiros sinais de atuação davam a entender que haveria uma preocupação com o vírus: a repatriação dos brasileiros em Wuhan, na China, epicentro da Covid no início do surto; e, em fevereiro, a declaração de emergência sanitária pelo então ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Na Educação, o então ministro Abraham Weintraub já admitia a possibilidade de transferir as aulas para o modelo remoto, o que de fato aconteceu na semana seguinte, em 17 de março.

O governo dava orientações contraditórias no início da crise. No dia seguinte à declaração da OMS, Bolsonaro apareceu de máscara em sua live semanal e desencorajou apoiadores a fazerem manifestações previstas em seu favor, afirmando que a população deveria evitar que o vírus se espalhasse.

No dia 16 de março, porém, Bolsonaro publicou um decreto mudando a coordenação da resposta à pandemia para a Casa Civil, comandada pelo general Braga Netto.

A partir daí, o Ministério da Saúde perdeu o controle da resposta à pandemia", diz Ventura. "A gente vê um processo absolutamente documentado, por normas e também por atos de gestão, de transferência da cadeia de comando do Ministério da Saúde, até o esvaziamento completo."

O tom das declarações de Bolsonaro também aumentaria conforme o agravamento da pandemia. Em 24 de março, ele já chamava a Covid-19 de "gripezinha", expressão que virou emblema de como o governo federal respondeu à crise sanitária ---o presidente chegou a negar que tenha usado a palavra, embora haja ao menos dois registros em vídeo.

Globalmente, diz a professora da USP, o mundo também enfrentava dificuldades na resposta ao vírus em razão da presidência de Donald Trump nos Estados Unidos. O republicano, que estava em seu primeiro mandato à frente da Casa Branca, atuou contra mecanismos internacionais de combate à pandemia, como a própria OMS. "Ele não foi tão violento quanto agora no seu segundo mandato, mas restringiu recursos para a cooperação internacional em saúde", diz Ventura.

Em março de 2020, o mundo acompanhava assustado a Itália se tornar o polo de mortes da Covid. Histórias como a da mulher que ficou dias presa em casa com o corpo do marido, morto pela doença, por causa de uma regra de quarentena, chegavam aos jornais brasileiros. O país europeu, que tem uma das populações mais idosas do continente, começou a bater recordes de mortes, chegando a 919 diárias em 27 de março. Até 4 de abril, havia registrado cerca de 15 mil vítimas da doença.

No Brasil, o pico de mortes da Covid viria em 2021, em meio à recusa do governo federal na compra de vacinas e ao atraso generalizado na aplicação do imunizante. No dia mais letal, 6 de abril de 2021, foram registrada 4.211 mortes.

A professora da USP afirma que houve, na verdade, uma estratégia de disseminação intencional da doença durante a gestão Bolsonaro, com o objetivo de estabelecer a "imunidade de rebanho". A ideia, que foi tema recorrente de fala do então presidente, é a de que a circulação do vírus e as mortes parariam quando uma alta porcentagem da população tivesse tido a doença.

É a mesma lógica, na verdade, por trás da vacinação. A diferença é que no segundo caso a imunidade de rebanho é atingida sem que haja contração da doença, o que diminui drasticamente o número de mortes.

Como afirmou o infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), à Folha de S.Paulo, em dezembro de 2024, "todas as pandemias terminam da mesma forma, com o atingimento de uma boa imunidade populacional. A diferença é que você pode atingir isso com milhares de mortes ou milhões de mortes".

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Post alega sem apresentar provas que covid-19 foi criada em laboratório por ordem de Obama

É enganoso que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama tenha ordenado a criação do vírus da covid-19, no ano de 2015. Não há documentos ou evidências que comprovem essa acusação. O conteúdo investigado faz uso de teorias conspiratórias e descontextualiza publicações científicas

Post alega sem apresentar provas que covid-19 foi criada em laboratório por ordem de Obama

(Projeto Comprova)

Conteúdo investigado: Post afirmando que documentos oficiais provam que o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ordenou a criação do vírus da covid-19.

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Onde foi publicado: X e site Infowars.

Conclusão do Comprova: É enganoso o conteúdo de um post no X que afirma que documentos federais provam que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama ordenou a criação da covid-19 em 2015, e que a doença tem sido usada como arma biológica desde então.

Post engana ao afirmar que a Pfizer divulgou uma lista com 46 efeitos colaterais da vacina contra a covid-19​
Site engana ao dizer que miocardite e pericardite são causadas apenas por vacinas e não por covid-19
CEO da Pfizer não enfrenta prisão perpétua nem encara tribunal holandês, ao contrário do que diz post

O post compartilha o link para uma publicação do site Infowars, criado em 1999 pelo conspiracionista de extrema-direita Alex Jones. Segundo o site, o documento comprobatório teria vindo à tona após o atual presidente Donald Trump assumir o controle da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), uma das maiores agências de ajuda humanitária do mundo.

No entanto, a publicação não compartilha qualquer documento e se resume a declarações vagas feitas em entrevista de Jones com o advogado Tom Renz no dia 6 de fevereiro deste ano. A única menção a Obama é feita por Jones no vídeo quando ele diz que cobriu um "grande escândalo" em 2015 quando cientistas denunciaram que Obama estava criando um vírus e que este foi "movido para Wuhan", na China, para que, quando o vírus fosse implementado, fosse possível negar o envolvimento dos EUA.

Em 2014, os EUA suspenderam financiamentos para estudos de "ganho de função" envolvendo vírus Influenza, Sars e Mers para avaliar os "riscos potenciais associados". Na época, o National Institutes of Health (NIH) financiava um estudo na Universidade da Carolina do Norte que, usando engenharia reversa no vírus Sars-CoV, apontou um "risco potencial de ressurgimento do SARS-CoV a partir de vírus que atualmente circulam em populações de morcegos".

No entanto, não é possível afirmar que o vírus tenha vazado a partir deste estudo ou de algum outro financiado pelos EUA. Os autores da alegação também não apresentaram documentos que provem que Obama mandou fabricar a covid-19 para usar como arma biológica.

O Comprova procurou o autor da declaração, o radialista Alex Jones -- que já teve conteúdos banidos de redes sociais por disseminar desinformação e discurso de ódio -- mas não obteve resposta até a publicação desta verificação. Um dos e-mails retornou sem ser entregue ao destinatário

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação investigada aqui acumula mais de 9 mil interações apenas no X até 11 de fevereiro.

Fontes que consultamos: Primeiramente, o Comprova acessou o site compartilhado na publicação no X a fim de averiguar a confiabilidade da fonte. Em seguida, por meio de pesquisa no Google, investigamos quais informações públicas existiam sobre o responsável pelo site Infowars. Dessa forma, foi possível encontrar diversas matérias e reportagens sobre as teorias conspiratórias propagadas por Alex Jones.

Também consultamos pesquisas e estudos científicos publicados a partir de 2014 a respeito da origem da covid-19 e sua possível relação com o governo Barack Obama. Buscamos ainda o artigo da revista Nature citado durante o vídeo investigado, compartilhado no site Infowars. Além disso, ouvimos um pesquisador na área de Biociências e Zoologia, o professor Daniel Lahr, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).

Documentos provam que Obama mandou criar o Sars-CoV-2?

Não. A alegação se mistura à teoria não confirmada de que o Sars-CoV-2 escapou de um laboratório de Wuhan, na China, após estudos feitos em parceria com pesquisadores norte-americanos. O que aconteceu foi que, em 2014, pesquisadores liderados pelo virologista Ralph Baric, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos Estados Unidos, conduziram um estudo que apontou que um aglomerado de coronavírus circulantes em morcegos, semelhantes aos SARS, mostrava potencial para uma emergência de saúde em humanos.

Para realizar o estudo, os cientistas usaram um sistema de genética reversa do vírus Sars-CoV -- mapeado em 2003, ou seja, diferente do SARS-CoV-2, que causa a covid-19 -- para gerar um vírus quimérico, isto é, híbrido. Esse vírus quimérico mostrava o pico do coronavírus de morcego em uma estrutura de Sars-CoV adaptada em camundongos. O resultado foi que o vírus se replicava com eficiência nas vias respiratórias dos camundongos, o que sugeria um "risco potencial de ressurgimento do Sars-CoV a partir de vírus que atualmente circulam em populações de morcegos".

A pesquisa foi aprovada no Comitê de Biossegurança Institucional da Universidade da Carolina do Norte e recebia financiamento do governo dos Estados Unidos através do National Institutes of Health. No entanto, em outubro de 2014, quando o estudo ainda estava em andamento, o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de Barack Obama, decidiu suspender o financiamento de pesquisas de "ganho de função" envolvendo os vírus influenza, SARS e MERS enquanto avaliava "os riscos potenciais associados".

O ganho de função ocorre quando um organismo --- ou um vírus --- ganha outras habilidades. No caso dos vírus, pesquisas assim costumam ser feitas para que se descubra como combatê-los num momento em que, eventualmente, se tornem mais transmissíveis ou mais perigosos. Segundo os autores do estudo, houve um pedido de reavaliação do financiamento e o NIH liberou a continuidade. O virologista Ralph Boric disse ao Washington Post que a pesquisa foi avaliada como não sendo de ganho de função.

Um artigo derivado do estudo foi publicado em 2015 pela renomada revista científica Nature. Em março de 2020, os editores publicaram uma nota informando estar cientes de que o conteúdo estava "sendo usado como base para teorias não verificadas de que o novo coronavírus que causa a COVID-19 foi projetado". A nota disse ainda: "Não há evidências de que isso seja verdade; os cientistas acreditam que um animal é a fonte mais provável do coronavírus".

Em maio do ano passado, a revista Vanity Fair publicou uma reportagem com base no conteúdo de entrevistas de Ralph Boric ao Subcomitê Seleto de Supervisão e Responsabilidade sobre a Pandemia do Coronavírus e o Subcomitê de Supervisão e Investigações de Energia e Comércio, ambos da Câmara e ambos liderados por Republicanos.

Ele disse que, em Chapel Hill, a pesquisa era desenvolvida em laboratórios com instalações de nível de biossegurança 3 (BSL-3), mas que, mais tarde, no Instituto de Virologia de Wuhan, na China, a pesquisa estaria sendo feita em um laboratório com nível inferior, BSL-2. O pesquisador também afirmou que acredita ser muito mais provável que o SARS-CoV-2 tenha se espalhado naturalmente de animais para humanos, "dada a grande abundância de vírus na natureza", mas declarou que não pode descartar um vazamento do laboratório.

O nome do presidente Obama vem sendo nos últimos anos associado à criação do SARS-CoV-2 como uma arma biológica, possivelmente, devido ao financiamento federal para o estudo, mas também por conta de uma declaração feita por ele em dezembro de 2014, na sede do NIH, em Maryland. Na época, ele visitou as instalações do instituto para falar sobre o combate ao vírus Ebola, que assolava países da África.

Em determinado momento do discurso, Obama ressaltou a importância de fazer pesquisas que pudessem se antecipar a cenários mais catastróficos. "Pode e provavelmente chegará um momento em que teremos uma doença transmitida pelo ar que é mortal. E para que possamos lidar com isso efetivamente, temos que colocar em prática uma infraestrutura --- não apenas aqui em casa, mas globalmente --- que nos permita vê-la rapidamente, isolá-la rapidamente, responder a ela rapidamente. E também exige que continuemos o mesmo caminho de pesquisa básica que está sendo feito aqui no NIH", disse.

Na mesma época, esta imagem viralizou como se mostrasse Obama em um laboratório de Wuhan. Na verdade, a foto foi feita em Maryland, nas instalações do NIH, em dezembro de 2014.

O Comprova tentou contato com o virologista Ralph Boric, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.

Evidências apontam transferência de morcego para humanos

A teoria de que o Sars-CoV-2 teria sido fabricado em laboratório não é recente. No ano de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia negado essa hipótese, afirmando que o mais provável era que a transmissão tivesse ocorrido de um animal para os humanos. Mais de cinco anos após a crise sanitária, o professor Daniel Lahr, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), afirma que essa ainda é a origem com mais evidências.

"A ciência depende da evidência disponível, e até onde temos evidência, o organismo mais próximo com o qual o Sars-CoV-2 compartilha um ancestral em comum é um vírus que infecta morcegos na China. Isso está bastante claro", explica.

Segundo o pesquisador, estudos indicam que a transferência do vírus do morcego para o humano teria ocorrido nos últimos meses de 2019. Além disso, a descoberta do mercado de Wuhan, na China, como epicentro da pandemia, apenas trouxe mais evidências de que a origem da doença veio da transferência de animais.

"É essa a origem que a maior parte da evidência científica indica. A transferência de um hospedeiro animal para um hospedeiro humano. Devido às características desse epicentro, uma localidade extremamente densa, com muita gente e circulação enorme, tanto de animais quanto de pessoas, o vírus foi se propagando e conseguindo então velocidade para causar uma epidemia", destaca Daniel Lahr.

Para ele, é pouco plausível a hipótese da criação do coronavírus como uma arma biológica. "É algo que nunca foi feito. Custa muito caro, exige uma estrutura muito grande. Se alguém estivesse ou está tentando construir um vírus causador de pandemia, deveria haver evidências e simplesmente não há", finaliza.

Infowars e teorias da conspiração

O conteúdo aqui investigado foi originalmente publicado no site Infowars, um portal norte-americano de extrema-direita fundado em 1999 e conhecido por propagar teorias da conspiração e informações falsas. Foi criado por Alexander Emerick Jones, mais conhecido como Alex Jones, radialista e conspiracionista já processado e condenado pela Justiça pela disseminação de desinformação.

Em 2018, Facebook, Youtube, Spotify e Apple baniram de suas plataformas conteúdos de Jones que propagavam discurso de ódio. No mesmo ano, o conspiracionista foi banido do X por violar a política de comportamento da plataforma. Mas seu retorno para a rede social foi autorizado por Elon Musk em 2023.

Um ano depois, em 2024, Alex Jones foi condenado a pagar quase 1,5 bilhão de dólares aos familiares das vítimas do tiroteio ocorrido na escola primária de Sandy Hook, em Connecticut, nos Estados Unidos, em 14 de dezembro de 2012. Por anos, ele afirmou que o massacre que resultou na morte de 20 crianças e seis adultos foi fabricado pelo governo americano e pelos defensores do desarmamento.

O radialista chegou a dizer que os pais das vítimas seriam atores e que alguns nunca nem existiram. Com a denúncia por difamação e as condenações na Justiça, Jones declarou falência no Texas, seu estado natal. Um juiz autorizou a liquidação dos seus bens para o pagamento de indenização às famílias das vítimas do tiroteio.

Como parte da liquidação dos ativos, o Infowars foi à leilão e, inicialmente, comprado pelo portal de sátiras The Onion. Em novembro de 2024, o CEO da empresa anunciou em um editorial a aquisição do site. Porém, um mês depois, o juiz de um tribunal de falências no Texas impediu a venda por falhas no procedimento do leilão.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou ser falso que a criação do vírus da covid-19 esteja comprovada, que é enganoso que e-mail de Anthony Fauci mostrado no Fantástico prove origem do vírus em laboratório e que o Nobel de Medicina Tasuku Honjo não disse que o coronavírus é artificial.

Notas da comunidade: O X não liberou notas da comunidade para o post investigado até a publicação desta verificação.

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Post engana ao afirmar que a Pfizer divulgou uma lista com 46 efeitos colaterais da vacina contra a covid-19

É enganoso que a Pfizer tenha divulgado uma lista com 46 efeitos colaterais da vacina contra a covid-19. Dentre os problemas de saúde listados no post investigado, apenas três aparecem nas bulas dos imunizantes da farmacêutica que são utilizados no Brasil: miocardite, pericardite e paralisia facial aguda. Os dois primeiros efeitos adversos são considerados muito raros e o terceiro, raro. Além disso, nenhum deles foi informado recentemente. Todos constam nas versões atuais das bulas da Comirnaty bivalente, publicada em maio de 2024, e da vacina atualizada para proteger contra a variante JN.1, disponibilizada em 28 de novembro e que também está disponível para crianças a partir de seis meses

Post engana ao afirmar que a Pfizer divulgou uma lista com 46 efeitos colaterais da vacina contra a covid-19

(Projeto Comprova)

Conteúdo investigado: Post afirmando que a Pfizer divulgou uma lista de 46 efeitos colaterais da vacina contra a covid-19 que inclui lesão renal aguda, insuficiência cardíaca, pneumonia, diabetes tipo 1 e morte súbita.

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Onde foi publicado: X, Facebook e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: O post é enganoso porque a maior parte dos eventos adversos citados em uma lista divulgada nas redes sociais não está relacionada à vacina contra a covid-19 da Pfizer.

Artigo que exige retirada de vacina contra covid-19 do mercado tem erros e não tem relevância no meio científico
CEO da Pfizer não enfrenta prisão perpétua nem encara tribunal holandês, ao contrário do que diz post
Site engana ao dizer que miocardite e pericardite são causadas apenas por vacinas e não por covid-19

Dos 46 problemas de saúde mencionados, apenas três aparecem nas bulas das vacinas da farmacêutica utilizadas no Brasil: miocardite (infecção das fibras do coração), pericardite (inflamação do revestimento externo do coração) e paralisia facial aguda.

Os dois primeiros são classificados como reações muito raras, que ocorrem em menos de 0,01% dos pacientes que utilizam este imunizante. O Comprova já explicou isso em outras publicações, informando, inclusive, que a incidência de miocardite em infectados pela covid-19 é sete vezes maior do que em vacinados. Já o terceiro é listado como uma reação rara, que ocorre entre 0,01% e 0,1% dos pacientes.

A versão atual da bula da vacina Comirnaty bivalente, a mais usada no Brasil, foi publicada em maio de 2024. Ela inclui em sua composição a cepa original e variantes que prevalecem em circulação no mundo. Já a bula da vacina atualizada para proteger contra a variante JN.1 foi aprovada em 28 de novembro do ano passado. Ambos os documentos também são disponibilizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A assessoria de imprensa da Pfizer confirmou à reportagem que a última atualização de bula ocorreu em novembro e que nela constam a composição do imunizante e os eventos adversos que podem ser relacionados à vacina e que foram identificados durante as fases de estudo pré e pós-comercialização.

A farmacêutica reforçou que diferentes agências regulatórias pelo mundo, incluindo a Anvisa, no Brasil, autorizaram o uso da Comirnaty com base em avaliações robustas e independentes, a partir de dados científicos sobre qualidade, segurança e eficácia. "Dados de estudos de mundo real complementam as informações dos estudos clínicos e proporcionam evidência adicional de que a vacina fornece proteção eficaz contra formas graves da doença", afirma a fabricante.

A Pfizer distribuiu mais de 4,8 bilhões de doses da vacina em mais de 183 países e informa não haver, até o momento, qualquer alerta de segurança, de modo que o benefício da vacinação permanece se sobrepondo a qualquer risco.

No Facebook, à alegação foi acrescentado um link sobre efeitos colaterais e segurança da Comirnaty divulgado pela farmacêutica, mas que também não cita a maior parte das doenças relacionadas no post. Na página, há um aviso de que o site destina-se apenas a residentes nos Estados Unidos porque os produtos podem ter rótulos distintos em diferentes países.

O Comprova tentou contato com o autor da postagem no X, mas o perfil não aceita o envio de mensagens diretas pela plataforma. O autor da postagem no Facebook foi contatado, mas não respondeu até a publicação desta checagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a postagem acumula mais de 725 mil visualizações, 5 mil compartilhamentos e 14 mil curtidas.

Fontes que consultamos: O Comprova analisou as bulas disponíveis no site da Pfizer no Brasil, que são as mesmas disponibilizadas no site da Anvisa.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou, anteriormente, outras postagens enganosas sobre informações da Pfizer relacionadas às vacinas contra a covid-19, como um vídeo que distorce declaração de uma executiva da farmacêutica sobre eficácia do imunizante e uma publicação que tirou documentos da empresa de contexto para sugerir que imunidade natural é suficiente para combater a doença. Também já desmentiu que as vacinas causam infarto e morte súbita em crianças.

Notas da comunidade: Até o encerramento desta checagem, o X não havia acrescentado notas da comunidade à postagem verificada.

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Artigo que exige retirada de vacina contra covid-19 do mercado tem erros e não tem relevância no meio científico

Vídeo alega que um estudo comprovou excesso de mortalidade, eficácia negativa e contaminação de DNA provocada pela vacina contra a covid-19. O Popular ajudou na apuração deste caso.

Vídeo sobre retirada de vacinas de covid-19

Vídeo sobre retirada de vacinas de covid-19 (Reprodução/Comprova)

Conteúdo investigado: Vídeo com afirmações de que um estudo revisado por pares e publicado na revista Science, Public Health Policy and the Law pede o fim da aplicação de vacinas de mRNA contra a covid-19 devido aos seguintes achados: excesso de mortalidade associada ao imunizante, eficácia negativa, sem redução de hospitalizações e mortes, e material de DNA contaminado na vacina.
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Onde foi publicado: Instagram e X.

Conclusão do Comprova : O artigo utiliza dados que não servem para comprovar suas afirmações. Pelo contrário, as evidências publicadas em revistas reconhecidas no meio científico e em órgãos de regulação apontam que as vacinas reduziram hospitalizações e mortes por covid-19, demonstrando eficácia e segurança. Também não há comprovação científica de contaminação por DNA.

Essas evidências em contrário não constam no artigo, o que demonstra viés em sua elaboração. Há, ainda, interpretação equivocada de dados do sistema de monitoramento de segurança das vacinas (Vaers), dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), para basear a afirmação de "excesso de mortes" provocadas pela vacina. O sistema apenas registra notificações que podem ser feitas por qualquer pessoa, sem necessidade de comprovação entre causa e efeito.

O site que publicou o texto não é reconhecido como uma revista científica. O autor do artigo, assim como médicos do seu corpo editorial, são conhecidos por propagar desinformação sobre vacinas. Alguns deles tiveram o registro médico cassado por divulgar tratamentos sem comprovação científica.

O médico Roberto Zeballos, que publicou o post verificado aqui e já teve outros conteúdos checados pelo Comprova (leia mais no fim do texto), insistiu que se trata de um artigo de revisão, e que ele concorda com as conclusões, inclusive com base em sua experiência como médico. "A ciência da observação é muito importante", diz.

Enganoso , para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até ser removido, o post no Instagram foi visto ao menos 93 mil vezes. Uma das publicações no X foi visualizada mais de 1,7 mil vezes até 6 de fevereiro.

Fontes que consultamos: O Comprova localizou o artigo e ouviu profissionais para verificar sua legitimidade. Foram consultados a infectologista e epidemiologista Luana Araujo, formada em Medicina e Infectologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg (BSPH), o médico geneticista Salmo Raskin, diretor científico da Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica (SBGM) e presidente do Departamento Científico de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e a médica patologista Francine Hehn de Oliveira, coordenadora do Laboratório de Genética e Biologia Molecular do Hospital Moinhos de Vento.

O Comprova ainda fez pesquisas sobre os autores do estudo e os membros do corpo editorial da revista que o publicou.

Sem reconhecimento

O artigo é publicado na Science, Public Health Policy and the Law. Consultados pelo Comprova, a infectologista e epidemiologista Luana Araujo e o médico geneticista Salmo Raskin afirmam que a publicação não tem qualquer reconhecimento no meio científico.

"Ela não tem fator de impacto reconhecido por nenhuma das principais bases de dados científicas e é frequentemente focada em temas e posições anticiência, notadamente, antivacina. É, comumente, descrita como um blog e somente isso", diz Luana Araujo.

O geneticista Salmo Raskin acrescenta que ela não é indexada internacionalmente por não atender requisitos mínimos, como revisores externos independentes. "Seu corpo editorial é composto por pessoas que são reconhecidamente contra vacinas. Não se trata de um periódico científico no qual opiniões diversas são aceitas", afirma Raskin.

Dados distorcidos

Ao tratar de um suposto excesso de mortes causadas pelas vacinas, o texto cita dados do sistema de monitoramento de segurança das vacinas (Vaers) , dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) , cujas informações não podem ser interpretadas como evidência de associação causal entre vacina e um evento adverso, como consta no próprio site do CDC . O Estadão Verifica já mostrou que a interpretação desses dados é comumente distorcida por movimentos antivacina.

O Vaers é um sistema de alerta para eventuais problemas com vacinas, que precisam ser investigados a fundo para saber se existe relação com o imunizante. "Qualquer pessoa pode reportar um evento adverso ali, não sendo obrigatória a investigação prévia", explica Luana. "O Vaers identifica padrões de relatos, não investiga ou conclui qualquer coisa".

Raskin acrescenta: "Historicamente, a enorme maioria dos casos relatados ao Vaers, após uma análise minuciosa, são descartados por não haver mínima evidência que o relato seja causal, mas simples associações".

Informações sem valor científico

Em dado momento, ao se referir ao Vaers, o próprio artigo cita que os dados foram inseridos por pessoas que "acreditam que o produto (vacina) está relacionado à morte". Em outro trecho, os autores escrevem: "É nossa opinião que mais americanos podem ter morrido em decorrência da vacinação contra a covid-19 do que por infecção do Sars-CoV-2".

"Essa confusão entre 'causa' e 'associação' é proposital e perpassa todo o artigo, que não investiga nada", aponta Raskin.

As fontes consultadas pelo Comprova afirmam que, ao citar uma suposta eficácia negativa da vacina -- sem redução de hospitalizações e mortes --, o texto se baseia em artigos equivocados ou mal intencionados, e despreza os inúmeros estudos científicos publicados em revistas relevantes que atestam a eficácia e segurança da vacina (1 , 2 , 3 , 4 , 5 )

Agências reguladoras como aAnvisa , a Food and Drug Administration (FDA) e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) afirmam haver eficácia e segurança das vacinas aprovadas contra a covid-19.

Não há comprovação de contaminação de DNA

Dados sem valor científico também são utilizados para basear a falsa alegação de que as vacinas provocam contaminação generalizada de DNA. Raskin chama atenção para o fato de que duas referências são postagens na rede social X. "São postagens que qualquer pessoa pode fazer, sem a mínima validade científica", diz Raskin.

Ele acrescenta: "O uso de referências como postagens no X, por si só, demonstra a falta de qualidade da revisão realizada, e deveria fazer com que qualquer leitor desacreditasse a revisão em sua íntegra".

Raskin explica que não há qualquer evidência científica de que fragmentos de DNA utilizados no desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro causem danos às pessoas. "As vacinas de RNAm podem conter quantidades minúsculas de DNA residual dos processos de produção, mas estes fragmentos estão fortemente degradados e não representam qualquer risco para a saúde humana".

Segundo o geneticista, o uso de moléculas de DNA é uma prática comum no desenvolvimento de vacinas, como as que são contra a gripe e a hepatite, que têm sido administradas há décadas. "Mas contra estas, os autores da revisão não se opõem, demonstrando mais uma vez seus vieses", diz Raskin.

A médica patologista Francine Hehn de Oliveira também afirma não haver, até o momento, confirmação de que exista contaminação de DNA com a vacina de RNA mensageiro. Ela acredita que uma eventual confirmação só pode se dar com estudos a longo prazo.

"Acho que precisamos de mais estudos com acompanhamento de longo prazo para confirmarmos se há contaminação ou não", diz Francine, que chama atenção para as mesmas fragilidades no estudo levantadas pelos colegas: publicação sem credibilidade científica, referências bibliográficas enviesadas e corpo editorial controverso.

Documento da FDA , de dezembro de 2023, afirma que, com mais de um bilhão de doses das vacinas de mRNA administradas, não foram identificadas preocupações de segurança relacionadas a DNA residual.

O texto da FDA observa ainda que "é bastante improvável que os pequenos fragmentos de DNA residual localizados no citosol possam encontrar seu caminho até o núcleo através da membrana nuclear presente em células intactas e, então, serem incorporados ao DNA cromossômico".

Autor é conhecido por propagar desinformação

O suposto estudo é assinado por Peter McCullough, um cardiologista norte-americano reconhecido por propagar desinformação sobre as vacinas contra a covid-19. No Google, é possível conferir uma série dealegações dele desmentidas por agências de checagem. O Comprova, por exemplo, o desmentiu quando ele afirmou que a proteína spike, presente na vacina da covid, causa ferimentos nas pessoas e quando ele apresentou evidências enganosas ao sugerir conspiração da ciência contra a cloroquina.

Médicos que tiveram registro cassado fazem parte do corpo editorial

No corpo editorial do site Science, Public Health Policy and the Law, o nome do infectologista francês Didier Raoult também chama atenção. Conhecido como o "Dr. Cloroquina", ele foi proibido de exercer a medicina por dois anos, a partir de 1º de fevereiro. Segundo o site Le Monde, Raoult é acusado de ter violado o código de saúde pública ao incentivar a prescrição de hidroxicloroquina contra a Covid-19 sem dados científicos confiáveis. A notícia repercutiu no Brasil (UOL e O Globo).

Já Pierre Kory e Paul Marik, que também integram o corpo editorial da publicação, tiveram suas certificações profissionais revogadas pelo American Board of Internal Medicine (ABIM), entidade equivalente ao Conselho Federal de Medicina do Brasil (CFM). Os dois integram a Front Line COVID-19 Critical Care Alliance (FLCCC), entidade que divulga protocolos para tratar covid com medicamentos sem comprovação científica, como a ivermectina.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A agência Aos Fatos e o Boatos.org também classificaram o conteúdo como desinformativo. Ainda sobre os imunizantes contra a covid, o Comprova já checou, por exemplo, não ser necessário detox de proteína do produto e ser falso que pessoas vacinadas tenham o dobro de chances de pegar a doença.

O autor do post checado pelo Comprova já teve seu nome citado em outras verificações do Comprova, tais como: áudio de médico é verdadeiro, mas opinião sobre origem do coronavírus não tem respaldo científico; vacinas são eficazes contra variante delta, ao contrário do que diz médico e ainda não há cura oficial para a covid-19; tratamento com corticoides não tem estudo publicado.

Notas da Comunidade: O vídeo foi também compartilhado no X. Não haviam sido inseridas "notas da comunidade" até a publicação desta verificação.

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