Médicos residentes em ginecologia e obstetrícia no Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI) temem a retirada definitiva dos atendimentos e cirurgias eletivas da unidade, que estão suspensos desde agosto passado. O novo contrato com a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da (Fundahc), que ainda não foi assinado, terá redução de 40% no repasse à gestora das três maternidades municipais e deve cair de R$ 20,5 milhões para R$ 12,3 milhões ao mês. Com isso, os serviços eletivos devem ser encerrados e apenas casos de urgência e emergência seriam mantidos nas unidades. Para os residentes, a medida prejudicaria a formação prática e sobrecarregaria a rede municipal.O POPULAR mostrou que o novo valor foi acordado entre a Prefeitura e a Fundahc no início de fevereiro. A suspensão dos atendimentos eletivos, contudo, já havia ocorrido antes mesmo do corte de 40% no contrato, diante de dívidas acumuladas durante a gestão do então prefeito Rogério Cruz (SD). As maiores reduções ocorreram no HMDI e no Hospital Municipal da Mulher e Maternidade Célia Câmara (HMMCC). A primeira unidade, que antes tinha repasse mensal de R$ 7,6 milhões, passará a receber R$ 6,2 milhões. Já a segunda, de R$ 10 milhões anteriormente só terá R$ 4,1 milhões. Na prática, o corte orçamentário representaria a suspensão dos atendimentos eletivos nas maternidades.Sob condição de anonimato, uma médica residente na Maternidade Dona Iris aponta que, mesmo com a suspensão de atendimentos e cirurgias eletivas em meados do ano passado, a classe esperava que a nova gestão do prefeito Sandro Mabel (UB) retomasse o serviço. Contudo, diz, já tem sido iniciada uma série de demissões de especialistas em cirurgia ginecológica diante da mudança de perfil das maternidades. Em apenas um dia, dez teriam sido dispensados. Diante do novo cenário, ela aponta que haveria risco de fechamento da residência médica na unidade, “devido à falta de cenários e recursos para formação”.“Com a retirada do nosso campo de ginecologia, ficaremos apenas com a obstetrícia nas maternidades municipais. Estamos correndo atrás de outros serviços por conta própria, para que a residência não acabe, mas não é tão simples e fácil assim. Não tem como ter uma formação completa somente com obstetrícia, sem a ginecologia. Até então, os atendimento eletivos suspensos não ameaçavam a continuidade da residência, pois havia esperança de serem retomados. O Dona Iris é um hospital relativamente novo, tem todos os equipamentos necessários e equipe especializada pra atendimentos, e tudo isso será perdido”, comenta.A residente cita que só na unidade, há 726 autorizações para internações hospitalares para cirurgias ginecológicas com as fichas paradas. O POPULAR questionou à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) qual é a fila de espera para cirurgias ginecológicas e obstétricas. A pasta, em nota, disse que “atualmente existem 70 solicitações para realização de cirurgias ginecológicas/obstétricas no Complexo Regulador Municipal, que devem ser encaminhadas às unidades executantes na próxima semana.” A reportagem questionou à SMS se o número está correto, haja vista que se mantém bem abaixo do informado que está em espera apenas na Maternidade Dona Iris. A pasta manteve a afirmação de que esse quantitativo representa o total na fila de espera. Outras 24 pacientes aguardam por cirurgia pela regulação estadual, o que soma, ao todo, 1,8 mil em espera. As informações foram repassadas pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO).“Atualmente os procedimentos eletivos do tipo são realizados no Hospital Santa Lúcia, Hospital Santa Catarina e Hospital das Clínicas, uma vez que a prestação do serviço nas maternidades municipais foi suspenso no ano passado, em razão das dívidas da gestão anterior com a organização que faz a gestão das unidades (Fundahc). Os novos planos de trabalho das maternidades ainda estão em avaliação”, continua a pasta. A fundação também reforça que haverá uma restruturação, mas ainda sem definição. “Os planos de trabalho estão em tramitação junto à SMS”, pontua.O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), um dos que têm recebido pacientes segundo a SMS, diz que “continua realizando normalmente as cirurgias ginecológicas e operando com sua capacidade máxima de atendimento”. Aponta ainda que não houve mudança na contratualização do serviço com a Prefeitura.