O Hospital Materno-Infantil (HMI), principal unidade de atendimento pediátrico de alta complexidade diminuiu a quantidade de consultas e atendimentos de urgência e emergência no segundo semestre do ano passado. A queda coincide com o aumento das metas para esses tipos de serviço pela Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO). A Organização Social (OS) que administra o HMI, o Instituto de Gestão e Humanização (IGH), alega que irregularidades no repasse financeiro do Estado no ano passado impediram o cumprimento das metas.No segundo semestre de 2018 houve uma redução de 26% da atividade ambulatorial do Materno-Infantil, quando comparado com o mesmo período de 2017. Enquanto em 2017 foi realizada uma média de 3.365 exames e consultas por mês, acima da meta da época, que era de 2.750, no ano passado foi 2.487, mas com uma nova meta, de 3.053 mensais.Já os atendimentos de urgência e emergência tiveram uma queda de 18% quando se compara o segundo semestre do ano passado e o de 2017. Em 2018 foi realizada uma média de 3.826 atendimentos mensais e em 2017 foi de 4.642. Ao mesmo tempo, esta área teve sua meta mais que dobrada, que passou de 2.000 por mês para 5.260. (veja o quadro).Além do HMI, o aumento de metas aconteceu para outros hospitais da rede estadual administrados por OSs, baseado análise da W Taborda Consultoria Executiva de Saúde. A empresa paulista ajudou na implantação do modelo de Organização Social em São Paulo na década de 1990 e teria percebido que os hospitais de gestão compartilhada de Goiás estavam com metas muito baixas.A coluna Giro adiantou no mês passado que o não cumprimento das metas, acima do tolerado pelo contrato, vai fazer a SES-GO reduzir em 10% os próximos repasses para as áreas que não atingirem as metas. O maior impacto destes descontos será na renegociação com fornecedores e prestadores de serviço, considerando o endividamento decorrente do atraso de repasses no ano passado, segundo o IGH. No entanto, nos bastidores se diz que as cirurgias eletivas, ou seja, que não são urgência e emergência, podem ser prejudicadas.Sobre a diminuição de serviços, o HMI justifica que isso foi gerado por irregularidade nos repasses financeiros. “A falta de repasses ocasionou atrasos e irregularidades de pagamentos aos prestadores de serviços, o que levou a paralisação de serviços, desabastecimento de insumos e medicamentos, exigindo a priorização dos atendimentos dentro do perfil da unidade e aos pacientes já internados”, diz nota do hospital.Além disso, a unidade afirma que atualmente todos os repasses financeiros estão em dia e as metas estão sendo atingidas. Neste ano já foram repassados R$ 43,3 milhões ao hospital, sendo que R$ 6,8 milhões deste valor são referentes ao ano passado. Segundo o site da transparência, ainda há R$ 29,9 milhões a pagar da última gestão, que representa um quarto de todo o valor empenhado para pagamento ao HMI no ano passado.HistóricoReportagem do POPULAR do dia 30 de março de 2019 já questionava os números do Materno-Infantil. Mesmo com a diminuição da proporção de atendimento classificados como verde e azuis (baixa complexidade), o atendimento geral vinha diminuindo.O Materno-Infantil tem passado por uma série de crises nos últimos anos. Em março deste ano, uma criança de 5 anos morreu depois de esperar por 11 horas, no corredor, por uma internação. Depois disso, a unidade passou a ter novos leitos no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). Já em março de 2017, dois bebês recém-nascidos morreram no HMI infectados por uma superbactéria. Na época, o hospital restringiu as internações para evitar superlotação e novos casos.A SES-GO negocia a renovação do contrato para o IGH. O acerto vence neste mês. Por nota, a OS informou que tem interesse de renová-lo e que isso está em discussão. (Colaborou Márcio Leijoto).OS responsabiliza município Além do atraso de repasses, o Instituto de Gestão e Humanização (IGH) apresenta outros fatores que colaboraram em menor intensidade para o não cumprimento das metas no segundo semestre do ano passado no Hospital Materno- Infantil (HMI).Segundo nota do HMI, serviços ambulatoriais ficaram prejudicados pelo não agendamento das próprias consultas. O agendamento da primeira consulta do paciente parte da Central de Regulação Municipal e estas ficariam ociosas. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que as vagas supostamente ociosas são de serviços oferecidos pelo HMI que não têm demanda. A pasta exemplifica como a falta de demanda o “pré-natal para Zika”, que tem 86 vagas por mês não preenchidas. “A oferta que o Hospital Materno-Infantil oferece não está em conformidade com as necessidades da população. Assim, quando as vagas não são preenchidas gera uma falsa ideia de má gestão das vagas”, diz nota da SMS. Outro fator apontado pelo HMI para a queda da produção é a saída do serviço de ginecologia da unidade. -Imagem (1.1812087)