Em Pirenópolis, moradores denunciam que estão sendo coagidos a contratar serviços de segurança particular. As propostas chegam sem explicações claras, apenas com a informação de que é necessário aderir ao serviço porque “o restante” da vizinhança já está pagando as taxas mensais.As sirenes das rondas feitas por motocicletas estão se multiplicando semana após semana, interrompendo o silêncio noturno da cidade de 25 mil habitantes. O suposto reforço na segurança tem sido apoiado por um sargento da Polícia Militar (PM) da cidade, que indica o serviço como “interessante”, conforme denunciado por comerciantes. Quem decide não contratar enfrenta insistência.Uma moradora de um bairro vizinho ao Centro Histórico diz que começou a observar a movimentação há um mês. “Já era noite e alguém bateu no meu portão. Ele de moto, disse que era o vigia e que havia sido contratado pelos demais moradores e que eu deveria aderir”, relata. Desconfortável, a moradora informou que não tinha interesse. Ela e todos os demais ouvidos pela reportagem não terão a identidade revelada por questão de segurança.“Mas comecei a questionar e perguntei o telefone da empresa. Ele pegou um papel e escreveu um telefone atrás”, conta. O número tinha o código 64, enquanto o utilizado na cidade é o 62. “Achei estranho, perguntei e ele disse que aquele era um número apenas para prestação de contas, que não tinha como deixar um número de telefone”, acrescenta a moradora.O POPULAR recebeu fotos do papel entregue para a moradora. A empresa indicada se chama Grupo Lima Monitoramento. No panfleto há a informação de que o grupo atua em Goiânia, Valparaíso e Alexânia. A reportagem tentou ligar para o número impresso no panfleto original e no que foi escrito no verso, mas as ligações não foram completadas. Há uma empresa registrada com o nome indicado, que não tem site oficial, redes sociais e o único contato disponível, de um número fixo, não recebe ligações.IndicaçãoUm comerciante diz que a presença das motos tem trazido mais medo que segurança. “Fica a impressão de que se você não pagar vai ficar desprotegido. Se eu não pagar eles vão articular com os que roubam para mostrar que não estou seguro?”, questiona o comerciante.Os relatos sobre a forma de abordagem são quase idênticos. “Há três meses comecei a escutar o barulho das sirenes das motos. Até pensei em entrar em contato com a empresa e falar que a sirene não servia de nada durante a madrugada”, relata outro comerciante, que foi surpreendido semanas seguintes.Na porta de sua loja, recebeu a visita de um sargento da PM da cidade. “Uma pessoa muito conhecida. Primeiro perguntou se eu tinha notado o barulho de sirenes passando na rua. Disse que sim e ele passou a explicar: ‘Tem um conhecido nosso, o rapaz é bom. Ele foi lá no batalhão e disse que ia fazer o serviço de segurança, pediu nosso aval e a gente acha interessante’. Fiquei meio assim, um policial me abordando para falar de um vigilante amigo?”, conta.A conversa prosseguiu: “Perguntou se o vigilante já tinha aparecido no meu comércio, eu disse que não e ele falou: ‘Ah, mas ele vai lá’. Não dei importância, passa um mês e o cabra (vigilante) vai lá no comércio e diz que a vizinhança já estava contribuindo e só faltava eu do grupo. Eu disse que ia continuar faltando”.Um morador denuncia que no último domingo (24) a família escutou barulho de tiro durante a madrugada. “Monitoramos e nada tinha acontecido até o dia seguinte. A nossa conclusão é de que estão dando tiro para cima. Seria para causar medo nos moradores?”, supõe.Sem respostaO POPULAR entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), que informou que o problema deveria ser questionado para a Polícia Militar, o que foi feito. Apesar disso, até o fechamento desta reportagem, não houve respostas. A reportagem também tentou contato com o 37° Batalhão da Polícia Militar de Pirenópolis, onde o sargento é lotado, mas as ligações não foram atendidas.Ainda, a reportagem procurou a Prefeitura de Pirenópolis e questionou se a gestão tem conhecimento sobre a situação. A única resposta foi de que “a competência de fiscalização é da Secretaria de Segurança Pública”.Serviços oferecidos vão além das rondasEntre nove moradores consultados pela reportagem, apenas uma disse que contratou o serviço por achar uma boa proposta. E os serviços prestados pelos ditos vigilantes vão bem além das rondas, revela a cliente. “O que precisar pode ligar para eles. Se precisar de um remédio, se precisar de alguma coisa eles buscam. Se for chegar em casa tarde eles esperam na porta”, conta a moradora que paga 50 reais por mês pelo serviço. Em meio aos elogios, a moradora lembra, sem ser questionada, que há alguns meses teve problema com as cobranças feitas por um dos funcionários da empresa. “No começo tinha um cara que ficava enchendo o saco querendo receber, ia de madrugada, batia na minha casa à noite. Eu disse para a empresa que não queria mais e eles disseram que ele estava indo receber escondido e que já o tinham mandado embora”, conta a moradora, que agora diz estar “tudo tranquilo”. MuitosUm morador e comerciante de uma área afastada do centro diz que não há local específico de atuação dos motoqueiros que se apresentam como vigias: “Estão em toda a cidade”, afirma. No bairro em que vive, ele diz que já chegou a ver seis motoqueiros que prestariam o reforço da segurança. “No meu comércio vieram quatro diferentes oferecendo o mesmo serviço”, diz. Outro morador conta que os supostos vigilantes passaram em sua casa “praticamente exigindo a ‘contribuição’”. “Foi com minha esposa, que bom não ter sido comigo. Coagir uma mulher tarde da noite exigindo essa contribuição, não é normal”, reclama. A coação contra mulheres se repetiu algumas vezes nos relatos. “No dia que veio pela primeira vez disse que eu tinha de fechar porque meus vizinhos fecharam. Fiquei preocupada. Temos um grupo no bairro e uma pessoa comentou se estavam gostando do serviço e choveu de reclamações. Principalmente por conta da forma de abordagem, mas também pelo barulho.”SegurançaNo site da prefeitura de Pirenópolis consta que a cidade conta com 20 policiais civis e 70 policiais militares. Tanto a Polícia Civil como a Militar mantêm plantão 24 horas. Um morador diz que há registro de furtos e assaltos esporádicos, mas avalia que no geral a segurança é considerada boa. “O que mais acontece é furto às casas que são deixadas vazias apenas para o uso nas férias. É péssimo, mas é uma questão que tem de ser encarada pela segurança pública e não ficar dependendo de pagamento. Em informativo direcionado ao turismo, a gestão municipal afirma: “A criminalidade em Pirenópolis se concentra, na maioria dos casos, em furtos e assaltos. Localmente, a maior parte de ocorrências, é ocasionada por delinquentes juvenis. Em feriados e finais de semana, há um aumento nos casos de furtos e roubos devido oriundos de criminosos de outras localidades, que vêm a Pirenópolis com este intuito”. Leia também:- Judiciário revela tesouro histórico de Goiás- Goiás lidera crimes contra crianças- Igreja ecológica de taipa é concluída em Goiás