Três moradores de rua foram mortos, na madrugada de ontem, nos setores Central e Coimbra, em regiões bem próximas na capital. Apenas duas horas separaram um crime do outro, no período da meia-noite às 4 horas (leia reportagem nesta página). Um policial militar, que estaria agindo a mando de traficantes, é o principal suspeito de ter praticado um dos assassinatos, de acordo com a delegada Adriana Ribeiro de Barros, titular da Delegacia de Homicídios. As evidências da Polícia Civil apontam para rixas entre moradores de rua, nas duas mortes registradas no Setor Central - uma, na Praça do Trabalhador e outra, num ponto de ônibus da Praça Cívica, um dos cartões-postais da cidade (veja locais dos assassinatos no quadro). Representantes de grupos ligados à defesa dos direitos humanos, entretanto, viram as mortes em série como o estopim para criticar a conduta de policiais militares em Goiânia. Integrante da Pastoral dos Povos de Rua, do Vigariato Oeste da Arquidiocese de Goiânia, Madalena Patrício de Almeida diz que, durante o seu trabalho voluntário ao longo de 30 anos, acredita que nenhum dos moradores de rua foi morto por causa de rixa. “Eles são muito solitários. A própria discriminação e o preconceito na rua faz com que criem laços de afetividade e de respeito entre si”, diz. “Quando tenta se justificar a morte de um morador de rua banaliza-se a vida e legitima-se a violência”, emenda. A delegada Adriana Ribeiro não citou o nome ou a patente do militar, para não atrapalhar as investigações, mas adiantou que ele já esteve preso na Delegacia de Investigação de Homicídios, também pela morte de moradores de rua. O suspeito estaria cobrando dinheiro de moradores de rua e matando quem não lhe pagasse. O dinheiro seria usado para alimentar o tráfico de drogas na capital. Ação violenta Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás, o deputado Mauro Rubem (PT) ressalta que “a Polícia Militar tem agido de maneira muito violenta, inclusive estimulada pelo seu próprio comando”, critica. “A corporação funciona de forma equivocada e errada, apenas se organiza para o confronto e não tem garantido segurança a ninguém”, frisa. Procurado pela reportagem, o comando da PM não se pronunciou. Em seu lugar, o major Ariel Anselmo de Oliveira, sub-chefe da Assessoria de Comunicação da PM, classificou a postura do deputado como “infeliz”. “Em nenhum momento, o comando da corporação estimula o confronto, apenas informa que, se houver, que reconheçamos a necessidade de o militar ter êxito”, defendeu-se. “São muito infelizes as críticas do deputado que se intitula defensor dos direitos humanos”, rebateu. O major lembrou que toda denúncia contra abuso policial deve ser levado à Corregedoria Geral ou Ouvidoria da PM. “A corporação tem dado vazão a todas as denúncias e procura dar repostas, de maneira rápida e eficaz, desde que não se levante falsa suspeição”, afirma o oficial. O delegado Athos Galba Costa Lima, adjunto da Delegacia de Homicídios, frisou que não descarta a possibilidade de um militar ter praticado os homicídios. Entretanto, disse no final da tarde de ontem, que o principal desafio é a identificação das três vítimas. “Há grande indício de serem usuárias de drogas”, suspeita. Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), Mônica Araújo de Moura entende que “o Estado deve garantir a integridade física e moral para todos os cidadãos.” Para ela, os três assassinatos representam “plena violação de direitos humanos.” “Queremos que seja feita apuração correta”, reivindica. O secretário municipal de Assistência Social, Darci Accorsi, admite que, na capital, os moradores de rua sofrem com a falta até de abrigos com condições para acolhê-los. “A Casa da Acolhida Cidadã não está adequada para receber moradores de rua, precisamos aumentar a quantidade de casas de acolhidas e fazer a diferenciação por sexo e faixa etária”, reconhece. Ele promete a construção de cinco unidades, na capital, no próximo ano. “Espero que a Polícia Civil investigue profundamente os homicídios desses três moradores de rua, que foram excluídos da sociedade, mas que não sejam excluídos das investigações, depois de mortos”, pondera o deputado Mauro Rubem. “As mortes estão sendo promovidas por um segmento da sociedade”, emenda Madalena Patrício.-Imagem (Image_1.229115)-Imagem (Image_1.229118)-Imagem (Image_1.229117)-Imagem (Image_1.229116)