Depois de 11 dias recebendo cuidados na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) de um hospital privado de Goiânia, o médico urologista José Ronaldo Menezes, de 61 anos, não resistiu às complicações da Covid-19. Ele sofreu uma parada cardíaca na madrugada desta terça-feira (19). Além de clinicar na capital, onde vivia com a família, ele atendia na rede pública de saúde de Goianésia e de Abadia de Goiás. Ele é a terceira vítima da doença entre profissionais de saúde em Goiás.Logo que foi internado, familiares do médico divulgaram um comunicado informando a contaminação. “Infelizmente meu pai foi contaminado pela Covid-19 por fazer parte da área da saúde e estar atuando na linha de frente atendendo a população”, disse em nota um dos filhos. Segundo a nota, José Ronaldo estava com os dois pulmões muito afetados e seu estado era considerado grave. O médico, que era de Niquelândia, chegou a ser candidato naquele município em várias ocasiões, uma delas para prefeito.“A gravidade desse problema é maior do que todos nós imaginávamos, e só me caiu a ficha de tão grave quanto é esse vírus (sic) quando vi meu pai precisando de aparelho para respirar, necessitando de ir para um leito de UTI”, afirmou o filho do médico no comunicado distribuído a amigos e familiares.O urologista clinicava em Goiânia, mas de segunda a quarta-feira fazia plantão na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e no Hospital Municipal de Goianésia. Diretor da UPA, Carlos Eduardo, conhecido como Kaká Filho, lamentou a morte do médico. “Grande colega, grande ser humano”, disse ele ao POPULAR.Em nota, a Secretaria de Saúde de Goianésia confirmou a morte de José Ronaldo Menezes pela Covid-19. “O Dr. José Ronaldo desempenhou um excelente trabalho na rede pública de saúde de Goianésia, servindo com muita dedicação e comprometimento no Hospital Municipal Irmã Fanny Duran e na UPA Walter Augusto Fernandes. Neste momento, prestamos nossas condolências a seus amigos e familiares”, completa o comunicado assinado pelo secretário Hisham Mohamad Hamida.O médico atendia também no Centro Especializado de Saúde de Abadia de Goiás, na região metropolitana da capital. A prefeitura do município publicou uma nota lamentando a perda de José Ronaldo que integrava o corpo clínico da unidade havia mais de 15 anos.Filha do médico e ainda muito abalada, Lucélia Menezes informou que o pai não possuía nenhuma comorbidade e estava bem de saúde até ser infectado. “Este vírus veio para abalar nossa família”, afirmou, antes de dizer que o grupo familiar preferia não se manifestar sobre a morte de José Ronaldo.O corpo do médico foi sepultado às 15 horas desta terça-feira no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia, em caixão lacrado.Nesta terça-feira, dos 32 casos confirmados em Goianésia, apenas duas pessoas estavam sob monitoramento domiciliar, os demais foram curados. Há 45 casos suspeitos no município, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Três pessoas morreram no município em consequência da Covid-19. Já Abadia de Goiás contava com 26 casos suspeitos e nenhum confirmado. Estado já teve outros profissionais internados por causa da doençaPresidente do Sindicato dos Médicos do Estado de Goiás (Simego), Franscine Leão manifestou tristeza com a morte de José Ronaldo. Segundo ela, é o primeiro médico a morrer em Goiás acometido da Covid-19. Já o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) não confirmou a informação. Em nota, o Cremego informou que “se solidariza com a família, os amigos e os médicos goianos neste momento de dor”.Na última segunda-feira (18), em nota oficial, o presidente do Cremego, Leonardo Mariano Reis criticou o “confinamento absoluto” durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, o distanciamento social aliado às medidas de proteção e ao isolamento dos mais vulneráveis e de crianças pode ser efetivo do ponto de vista sanitário e “com menos prejuízos para a economia”.Para Leonardo Reis, “os médicos não podem ser incoerentes e defender isolamento dos outros enquanto defendem a manutenção de seus consultórios, exames e abertura de centros cirúrgicos”.Não há informações oficiais sobre o número de médicos infectados em Goiás pelo coronavírus. A pediatra Almerita Rizério Borges e o cardiologista Alexander Dobriansky precisaram de cuidados intensivos em decorrência da contaminação. Eles ficaram vários dias internados em hospitais privados de Goiânia e foram aplaudidos por profissionais da saúde, parte deles colegas médicos, ao receberem alta. No dia 8 deste mês, em levantamento divulgado pela Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), o último realizado, 17 médicos estavam afastados do trabalho por causa da Covid-19. Eles integram um grupo de 41 profissionais de saúde que àquela altura haviam sido acometidos pela doença. Segundo a Ahpaceg, o número representa menos de 0,4% do total de trabalhadores, aproximadamente 7,5 mil, distribuídos nas áreas de enfermagem, administrativa, entre outras, além de 4 mil médicos. A maior taxa de afastamento era de médicos, 17, em seguida de técnicos de enfermagem, 14, e de enfermeiros, 4.Falta de transparência em dados preocupa sindicatoEm Goiás outros dois profissionais de saúde perderam a luta para a Covid-19. No último dia 4 de abril morreu a técnica de enfermagem e de laboratório Adelita Ribeiro da Silva, de 38 anos. Ela trabalhava numa unidade do Hemolabor dentro do Hospital do Coração e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Novo Mundo, região Leste de Goiânia. No dia 21 do mesmo mês, Javier Martins de Oliveira, de 57, servidor da Gerência de Atenção Secundária e Terciária da Superintendência de Atenção Integrada da Secretaria Estadual de Saúde, também morreu depois de ser contaminado pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde-GO), Ricardo Sousa Manzi disse que todos os dias recebe denúncias sobre trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) contaminados e afastados de suas atividades, mas a entidade não consegue descobrir o número real. Desde o início da pandemia, ofícios solicitando estes números têm sido encaminhados aos órgãos públicos e às organizações sociais que gerem unidades de saúde, mas o Sindsaúde não tem recebido respostas. “Precisamos saber o que está acontecendo com nossos trabalhadores.”Na plataforma Observatório da Enfermagem, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), consta que até esta terça-feira (19), em todo o Brasil, foram reportados 15.620 casos de contaminação de profissionais de saúde, 134 deles em Goiás. Dos 128 que perderam a vida no País, um era a técnica de enfermagem Adelita Ribeiro da Silva. Ela trabalhava na capital.-Imagem (Image_1.2055537)-Imagem (Image_1.2055536)