Seis anos e oito meses após a implantação das ciclofaixas de lazer nos parques Areião e Vaca Brava, na região Sul de Goiânia, os locais ainda não são respeitados por motoristas particulares nos horários de funcionamento, aos domingos e feriados entre 7h e 18h. Ao longo das faixas destinadas ao tráfego de bicicletas, há veículos estacionados irregularmente, o que dificulta e até proíbe o trânsito dos ciclistas, que acabam utilizando as pistas de caminhada das unidades de conservação e lazer, prejudicando os pedestres.Na tarde deste domingo (3), entre 14h e 15h, a reportagem do POPULAR verificou a presença de 23 carros estacionados na ciclofaixa de lazer do Parque Vaca Brava, na Rua T-15 do Setor Bueno. Outros quatro veículos estavam parados ao longo da faixa na T-3, localizada mais próxima ao parque. Isso ocorria, nas duas vias citadas, mesmo que houvesse espaços para o estacionamento dos veículos do lado oposto da rua, no lado das calçadas. Vendedores que trabalham no local afirmam que a situação é recorrente, mesmo com a presença da fiscalização. A preferência ocorreria pela presença da sombra para os veículos.A situação se repete, embora com menor volume, nos parques Areião e Jardim Botânico, além dos trechos de ciclorrota espalhados pela cidades, especialmente nas regiões Sul e Central. Gerente de educação para o Trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Horácio Ferreira, acredita que o desrespeito dos motoristas ocorre porque tem crescido um comportamento de que desrespeitar as leis não configura um prejuízo para a coletividade.“É como se expressasse o seu pensamento individualista no comportamento. Não estacionam ali por ser uma ciclofaixa de lazer, é por estacionar mesmo. O mesmo motoristas que para o carro por ali, para também em outro lugar que não pode, não tem relação por ser um espaço dos ciclistas”, afirma Ferreira. Ele entende que os motoristas têm tido comportamentos individualistas, em que a necessidade deles é maior do que a do outro e da coletividade. “Todos os domingos e feriados nós autuamos e removemos veículos das ciclofaixas de lazer, principalmente no Vaca Brava.”Para o gerente da SMM, o parque do Setor Bueno tem características específicas que faz com que receba o maior número de irregularidades. “Os outros parques que possuem ciclofaixa são de transição, as pessoas passam por eles. No Vaca Brava não, as pessoas vão para lá, fazem eventos, encontros, tem supermercados, tem o shopping”, relata. A prova disso, segundo Ferreira, é por ter um maior número de infrações na Rua T-15, onde há um movimento mais constante e por onde chega boa parte dos motoristas, já que é a via de acesso da região mais populosa do Setor Bueno.Ferreira considera ainda que a escolha dos motoristas é individualista também neste quesito. “O motoristas não estaciona na T-10. E por quê? Porque sabe que ali passa os ônibus e eles têm medo dos carros sofrerem uma batida. Nas outras ruas, há um menor movimento de pessoas, então tem o risco de assalto. A escolha da T-15 acomoda o motorista”, resume o gerente. Ele explica que a SMM possui equipes que realizam o trajeto de monitoramento das ciclofaixas de lazer, passando por todos os parques de Goiânia que possuem o benefício e autuando.Um dos vendedores que atuam no Vaca Brava disse ao POPULAR que ainda na manhã deste domingo (3) uma equipe da SMM multou um motorista em frente a sua banca. “Eles passam por aqui sempre, mas o pessoal não respeita. Muita gente que frequenta o parque liga para eles virem multar”, disse. O educador físico Reginaldo Garcia, de 35 anos, estava com sua bicicleta na pista de caminhada do parque na tarde de ontem e afirmou que utiliza o espaço por não conseguir se locomover na ciclofaixa. “Antigamente era mais fácil conseguir, agora sempre tem os carros. É mais fácil já ficar por aqui”, conta.Para se ter uma ideia, em todo o ano de 2020, a SMM multou 379 condutores por ocupação irregular da ciclofaixa de lazer no parque. Já no ano passado, foram 918 autuações, sendo 905 por estacionar sobre a faixa, 11 por parar e 2 por transitar no espaço destinado aos ciclistas. Neste ano, em janeiro e fevereiro, os agentes de trânsito verificaram a irregularidade 207 vezes, em que 204 carros estavam estacionados e 3 ficaram parados. O desrespeito ocorre desde o início do projeto, em julho de 2015, mas em menor escala.Naquele ano, até dezembro, foram verificados 122 estacionamentos irregulares somadas as multas verificadas no Vaca Brava, Areião e Lago das Rosas, cujo benefício foi lançado um mês depois dos dois primeiros. Na época, o projeto funcionava apenas aos domingos e entre 7h e 16h, o que concede uma média de 6 infrações por dia de funcionamento. Para se ter uma ideia, como base de comparação, apenas as irregularidades no Vaca Brava chega a uma média de 9 por domingo neste ano. Válido ressaltar ainda que, entre 2017 e 2019, o parque foi monitorado por câmeras para as infrações de trânsito, o que deixou de ocorrer entre 2020 e o final de março deste ano. Nesta semana, O POPULAR noticiou que a Prefeitura de Goiânia voltou a ligar as câmeras que ficam ao redor do parque e que o videomonitoramento volta a funcionar.Plano cicloviário ainda em estudosA comissão formada pela Prefeitura de Goiânia em outubro do ano passado para realizar a reestruturação da malha cicloviária da capital, que soma os trechos de ciclovia, ciclofaixa e ciclorrota, ainda não finalizou o estudo. Segundo gerente de Educação para o Trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade, Horácio Ferreira, que faz parte da comissão, o projeto foi iniciado no final de 2021 com a revitalização de alguns trechos já existentes. Na ocasião foi feita a repintura das ciclovias e das ciclofaixas de lazer.Agora, a intenção é elaborar um plano para a criação de novos trechos para o tráfego das bicicletas. “O goianiense já está acostumado com os locais de uso da bicicleta para o lazer. O que nós queremos agora é um projeto de ampliação pensando em locais de deslocamento das pessoas para o trabalho ou para estudar, para o dia a dia”, diz Ferreira, que explica se tratar de uma proposta de malha que vem sendo descrita como ativa.A gestão do prefeito Rogério Cruz (Republicanos), até então, realizou a ampliação da malha goianiense em apenas 2,5 quilômetros, fazendo a ligação da ciclorrota do Centro, que passa na Rua 2, por exemplo, com o Parque Mutirama e a sede do Instituto Federal de Goiás (IFG). No ano passado, havia um projeto para a instalação de outra ciclorrota que ligaria a Praça Universitária, no Setor Leste Universitário, ao Paço Municipal, localizado no Park Lozandes.A proposta ainda não saiu do papel. Ela seria realizada a partir de uma verba de R$ 238 mil de uma emenda parlamentar para Goiânia, em acordo assinado no final de 2020, ainda na gestão Iris Rezende (MDB). Além disso, a SMM ainda não finalizou o edital para o chamamento de empresas interessadas em operar o serviço de compartilhamento público de bicicletas. Entre 2016 e 2021, em parceria da pernambucana Serttel e a Unimed Goiânia, houve veículos disponíveis neste modelo, mas o Tribunal de Contas do Município (TCM) exigiu que fosse feito um processo licitatório.-Imagem (Image_1.2431658)