O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) apresentou denúncia contra dez policiais militares e dois bombeiros envolvidos na abordagem que resultou na morte do comerciante Wilker Darckian Camargo, aos 35 anos, em Trindade, no dia 10 de dezembro de 2021. A petição encaminhada à Justiça cita quatro crimes: invasão de domicílio, fraude processual, adulteração de placa veicular e omissão de socorro. Cinco dos policiais denunciados já respondem processo pelo assassinato do comerciante.Os promotores afiram na nova ação que o segundo tenente da PM Alexsander de Carvalho Gonçalves, apontado como uma espécie de líder do grupo responsável pela morte, promoveu uma “abusiva devassa à vida privada” da vítima, “envolvendo seus subordinados nas diligências ilícitas”. O comerciante foi abordado uma primeira vez no dia 7 de dezembro, quando teve a casa invadida e móveis destruídos, e por estar na época com tornozeleira eletrônica era monitorado e perseguido pelos policiais.O caso de Wilker ganhou repercussão após um vídeo feito em um celular ser divulgado mostrando a vítima desarmada sendo arrastada por policiais para dentro da casa em que residia e, em seguida, o barulho dos tiros. Em março, a Polícia Civil de Trindade concluiu o inquérito do caso apontando uma sequência de crimes cometidos pelos policiais e bombeiros. Na época, cinco policiais militares envolvidos diretamente na morte dele foram presos.A nova denúncia aponta que os bombeiros chamados para socorrer Wilker chegaram ao local e o encontraram ainda vivo, “gaspeando e com pulso fraco, quase imperceptível”. Entretanto, um dos socorristas foi atender uma vizinha que estava passando mal com crise de pânico enquanto o colega ficou sozinho com o comerciante, sem prestar qualquer procedimento de urgência naquele momento.Dentro da ambulância, Wilker teve uma parada cardíaca, mas como um dos bombeiros ficou no local da ocorrência atendendo a vizinha, o colega o socorreu sozinho, quando o recomendado é que o procedimento seja feito por duas pessoas.PerseguiçãoO motivo que levou os policiais a irem atrás de Wilker não foi apurado. Oficialmente, os denunciados pelo homicídio dizem que supostamente receberam uma denúncia de que o comerciante estaria envolvido com tráfico de drogas, mas nenhuma prova foi relacionada pelos acusados.Antes da primeira abordagem, quando ainda monitoravam o comerciante, Alexsander e outros policiais usaram uma viatura descaracterizada e com placas ilegalmente adulteradas. No dia 7 de dezembro, o segundo tenente estava acompanhado de um terceiro policial, com a mesma viatura, quando encontraram Wilker em um bar, chamaram mais quatro policiais e Alexsander ordenou que estes levassem a vítima à casa dela, ali perto.“(Três policiais) entraram na residência da vítima sem nenhum mandado judicial ou situação de flagrância, vasculharam a casa e ainda quebraram alguns móveis. Nada de ilícito foi encontrado no local. Na sequência, os policiais determinaram que Wilker entregasse uma arma de fogo para a guarnição, o que não foi atendido, uma vez que a vítima não possuía arma alguma naquela oportunidade”, escreveram os promotores do caso.Os policiais foram embora e Wilker, com medo, deixou a residência em seguida, só retornando dois dias depois. Ele teria dito a uma ex-namorada que recebeu um ultimato para conseguir um revólver calibre 38.No dia 10, segundo o MP-GO, os policiais citados armaram uma emboscada para pegar Wilker, sabendo onde ele estava e para onde iria, já que estava com o monitoramento eletrônico acionado. Wilker percebeu que estava sendo seguido por um veículo sem identificação oficial, já que era a viatura descaracterizada, e dirigindo outro carro, tentou escapar. Entretanto, após um acidente de trânsito, saiu correndo a pé para sua residência.Leia também:- Defensoria pede investigação sobre abordagem da GCM em Goiânia- Homem encontrado morto após ser levado por PMs se ajoelhou antes de morrer, diz laudo- Homem diz que ouviu “Vai gritar Lula na África” de PM e que estava em casa ao ser presoFoi quando os policiais devidamente fardados entraram em ação, foram até a casa, impediram que ele escapasse, o colocaram para dentro da residência novamente e o mataram. Testemunhas ouviram quando Wilker disse que não estava armado e que não precisavam matá-lo: “Não faz isso não, não precisa.” Em depoimento na delegacia, as testemunhas também disseram ter certeza que o comerciante não estava armado.Já a perícia no local não encontrou nenhum indício de que houve troca de tiros no local e que Wilker tenha efetuado qualquer disparo.ProcessoAtualmente, o processo no qual os cinco policiais respondem pelo homicídio se encontra na fase final de instrução e julgamento para decidir se o caso vai ou não para júri.Os promotores pediram que todas as provas testemunhais arroladas na ação pelo assassinato sejam juntadas à nova denúncia e, se este pleito não for acatado, que as testemunhas já citadas anteriormente sejam arroladas também neste caso.