Nenhuma cidade goiana conseguiu atingir uma pontuação alta no ranking do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades - Brasil (IDSC-BR). O município mais bem colocado foi Chapadão do Céu, no extremo Sudoeste goiano, que alcançou 59,52 de um total de 100 pontos possíveis. Os municípios com as piores colocações ficam na região Nordeste do estado. Especialista aponta que cenário é preocupante e reflete necessidade de fortalecimento de políticas públicas. A situação de Goiás acompanha a da Região Centro-Oeste. No País, as regiões Norte e Nordeste concentram os municípios com os piores índices e em São Paulo estão as cidades com as melhores colocações. “Em Goiás, as cidades mais bem colocadas estão onde gira o dinheiro, especialmente do agronegócio, na região Sul. Entretanto, no geral, a situação não é boa. No Entorno do Distrito Federal e na região metropolitana de Goiânia, por exemplo, temos milhões de pessoas que moram em cidades que ainda precisam superar muitos desafios”, explica Celene Cunha, professora do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), da Universidade Federal de Goiás (UFG). O IDSC-BR é uma ferramenta para verificar como está a implantação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil faz parte. Eles são uma releitura dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), definidos em 2000. Cada um dos ODS é dividido em indicadores. A colocação de Chapadão do Céu foi influenciada por ODS positivos como o alto nível de esgoto tratado, quantidade de domicílios com acesso à energia elétrica e o tratamento de resíduos urbanos coletados seletivamente. “Nós temos uma usina de reciclagem que faz a separação do lixo urbano e o recicla. Agora, nossa intenção é passar esta usina para a administração de uma cooperativa”, conta Eduardo Gadelha, chefe de gabinete da cidade. Gadelha aponta que a agropecuária é a principal atividade desenvolvida na cidade. Entretanto, o município também conta com uma usina de açúcar e etanol, que gera uma grande quantidade de postos de trabalho. “São cerca de 1,5 mil empregos gerados. Isso é positivo, pois traz arrecadação para o município”, diz Gadelha. Mesmo sendo a mais bem colocada, a cidade ainda tem desafios em alguns indicadores como o estímulo à agricultura familiar, que entra no ODS de erradicação da fome, e a melhora da qualidade do serviço educacional. “É um problema de proporção. Aqui, mesmo em áreas pequenas, o pessoal quer plantar soja e milho”, esclarece. Já em relação à educação, uma creche e uma escola estão sendo construídas no município.A piorDo lado oposto do ranking está Monte Alegre de Goiás, no Nordeste goiano. O município ainda não conseguiu atingir nenhum ODS e alguns indicadores básicos como, por exemplo, o fornecimento de água potável e esgoto e o combate à desnutrição infantil, dentro do ODS de erradicação da fome, ainda estão longe de serem alcançados. O prefeito da cidade, Felipi Campos (UB), aponta que enfrenta diversos desafios, mas o principal é a falta de investimento pela iniciativa privada. “Temos uma economia baseada quase exclusivamente na pecuária. O comércio na cidade vizinha, Campos Belos de Goiás, é muito forte, o que tira nossa força comercial”, aponta. De acordo com ele, a prefeitura tem feito ações como a doação de terrenos para fomentar áreas como construção civil. “Também estamos sempre buscando emendas junto ao governo federal e estadual”, diz. Região NordesteJunto com Monte Alegre de Goiás, as outras quatro cidades com as piores colocações estão na região Nordeste e extremo Norte de Goiás. “É um problema histórico. A região já foi conhecida como ‘corredor da miséria’ e enfrenta problemas históricos de isolamento econômico, que impede o desenvolvimento e melhora dos índices”, explica Celene.A professora do Iesa aponta que apesar disso, a realidade local pode ser alterada. “Precisamos de políticas públicas específicas voltadas para a realidade da região, além de um trabalho para atrair atividades comerciais mais elaboradas como, por exemplo, as indústrias. O fortalecimento do turismo, como aconteceu em Alto Paraíso de Goiás, também é um caminho. Tudo isso precisa ser equilibrado com a preservação do Cerrado que temos na região”, explica. O titular da Secretaria de Estado de Retomada (SER), César Augusto Moura, diz que o estado tem trabalhado neste sentido. “Fizemos um trabalho de estímulo à plantação de mandioca na região e providenciamos compradores. Uma fecularia está vindo se estabelecer em Posse. Estamos sempre tentando fomentar uma cadeia produtiva”, aponta. De acordo com ele, o Colégio Tecnológico (Cotec) de Goiás também tem promovido ações voltadas para produção sustentável na região e a formação de cooperativas tem sido estimulada para fortalecer a economia local. “Desta forma, conseguimos começar a vislumbrar mudanças na região”, finaliza.Leia também:- Vazão do Rio Meia Ponte chega ao nível crítico 1- MPF apura supostas irregularidades contra onças em instituto, em GoiásIntegração da região metropolitana é desafioApesar de Goiânia ser a segunda cidade mais bem colocada do estado no ranking do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades - Brasil (IDSC-BR), a necessidade de integração com os municípios da região metropolitana é um ponto crucial para que o índice cresça. É o que aponta Celene Cunha, professora do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), da Universidade Federal de Goiás (UFG).Dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organizações da Nações Unidas (ONU), Goiânia ainda precisar atingir alguns como, por exemplo, a erradicação da fome, a diminuição da incidência de dengue, dentro do objetivo de saúde e bem-estar, e a queda no porcentual da população de baixa renda com tempo de deslocamento ao trabalho superior a uma hora, dentro do objeto de cidades e comunidades sustentáveis. Celene lembra que considerando a pontuação máxima que pode ser obtida por uma cidade no IDSC-BR ( 100), Goiânia ainda está em patamar mediano (58,32). Além disso, ela destaca que quando se observa as cidades da região metropolitana, a pontuação é ainda menor. Aparecida de Goiânia, por exemplo, registrou 50,31 pontos e Trindade, 49,20 pontos. Ela esclarece que isso é efeito da metropolização. “Viver em Goiânia é caro e, por isso, grande parte das pessoas que trabalham na capital moram na região metropolitana. Entretanto, essas cidades costumam ter muito menos condições e meios para fornecer qualidade de vida para a população.”Por isso, ela acredita que ocorra uma gestão integrada nas regiões metropolitanas em alguns aspectos como, por exemplo, mobilidade urbana. “Já existem mecanismo legais para fazer isso. Temos o Estatuto da Metrópole. Na UFG, estamos com um plano de desenvolvimento integrado da região metropolitana em fase final. Ele engloba Goiânia e outros 21 municípios. O intuito é apresentá-lo para o poder público.”Objetivos cumpridosDentre os 17 ODS, Goiânia já atingiu três completamente: o alto nível de esgoto tratado, quantidade massiva de domicílios com acesso à energia elétrica e o investimento em infraestrutura e participação dos empregos em atividades/ intensivas em conhecimento e tecnologia.O titular da Secretaria Municipal de Governo (Segov), Michel Magul, acredita que a colocação de Goiânia no ranking mostra que a cidade está no caminho certo. “Estamos com projetos estruturais de interligações que serão entregues logo. Temos um Plano Diretor já aprovado e projetos como, por exemplo, o da Cidade Inteligente, que trará benefícios em quase todas as áreas, Também temos o Renda Família, que auxilia a população em situação de vulnerabilidade”, pontua.No que tange os objetivos já alcançados pela capital, ele afirma que a reforma do Código Tributário Municipal (CTM) teve influência. “Temos a isenção de 30% do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), por três anos, para empresas que se instalarem nos Polos de Desenvolvimento Econômico, além de outras vantagens.”Caminhão dos ODS estará em Senado Canedo O caminhão ‘Conhecendo os ODS estará em Senador Canedo, na região metropolitana de Goiânia, neste sábado (27), das 9 às 17 horas, na Praça Criativa, na Avenida Dom Emanuel, Conjunto Uirapuru. O intuito é estimular o debate e o acesso da população aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). São esperadas aproximadamente 4 mil pessoas.Além do caminhão com informações sobre os ODS, serão montadas 13 tendas, uma para cada objetivo, com oficinas, atividades práticas, realidade virtual, exposições e rodas de conversa. O caminhão passará por 13 cidades, em sete estados brasileiros. A primeira delas é Senador Canedo, que atingiu 47,39 pontos no Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades - Brasil (IDSC-BR).A cidade é a 2.531ª colocada no ranking brasileiro e tem desafios como a promoção de saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gêneroe acesso a água limpa e saneamento.O evento é realizado pela Ecotransforma e NTICS. “Estamos em Senador Canedo há cerca de quatro meses, trabalhando na apresentação deste material para o poder público. É importante que os ODS sejam incorporados nas metas de gestão dos governos locais para que possam ser implementados com sucesso”, explica Ana Carolina Xavier, diretora de Inovação Governança ambiental, social e corporativa da NTICS.Ana Carolina aponta ainda a importância do engajamento da população e também da iniciativa privada. “O ODS 17 falam das parcerias para a implementação dos objetivos. Considero ele um dos mais importantes. É importante que as empresas também entendam a importância de trabalharem guiadas pelos ODS em conjunto com o poder público. Além disso, a população precisa ter conhecimento do que são esses objetivos. Um dos lemas dos ODS é ‘não deixar ninguém para trás na década da regeneração’.”O gerente de Gente e Gestão da Jaepel Papéis e Embalagens, que patrocina o evento em Goiás, compartilha do mesmo pensamentos. De acordo com ele, a política de sustentabilidade da empresa se baseia nos ODS. “Nós temos uma produção inteira com produtos de origem renovável. Vivemos cotidianamente os benefícios da sustentabilidade e queríamos trazer isso para a população goiana também”, finaliza Marco Aurélio Cardoso. -Imagem (1.2518019)