Qual é a avaliação que a Secretaria de Estado da Saúde faz da pandemia em Goiás nesse momento? A gente tinha um grande temor da variante delta e isso não se concretizou. O grande fator foi a vacinação, por isso não tivemos uma explosão de casos em razão dessa variante, como na Europa e nos Estados Unidos. Quando a delta chegou nesses países, eles ainda não tinham uma grande quantidade de pessoas vacinadas. Aqui no Brasil, a vacina foi um fator importantíssimo e ela não explodiu. Nosso termômetro era o Rio de Janeiro e lá não houve um grande número de casos provocados pela delta, como era esperado.Nesse momento, o nosso prognóstico é positivo. Mas, ressalto, é prognóstico, que pode mudar se vier uma variante que seja resistente às vacinas. Aí será outra história. Vocês sentem que a vacinação deu uma estagnada?Sim, mas o que mais nos preocupa é que precisamos de 70% a 80% da população totalmente imunizada. Em Goiás, chegamos a 90% de pessoas de 18 anos ou mais com a primeira dose. Mas precisamos trabalhar junto aos municípios para que os 90% tenham a segunda dose. Se isso ocorrer, vamos viver o que Portugal está vivendo: com mais de 80% da população imunizada, é o país da Europa com as menores taxas de ocupação de leitos, menor incidência de casos e menor número de óbitos. Eles liberaram o uso de máscaras em locais abertos. Portugal é o nosso laboratório. Se lá der certo, vamos poder fazer isso aqui também quando a gente tiver essas mesmas coberturas.Embora seja um país muito menor do que o Brasil, em tamanho e em população, repercute. Chamamos isso de amostragem. Eles chegaram a 80% de cobertura vacinal e vimos o que pode acontecer. Como vocês avaliam o fato de, neste momento, a grande maioria dos municípios goianos estar há um mês sem óbitos provocados pela Covid?Sim, 173 municípios não registram nenhum óbito provocado pela doença há quatro semanas. Em 77, no mesmo período, não foram registrados casos confirmados. Nos últimos dias repercutiu muito o fato de Goiás ficar 48 horas sem registrar óbito, o que não quer dizer muita coisa. Para nós o que interessa é a data da ocorrência do óbito. Quando a gente olha a data de ocorrência, ainda estamos registrando uma média de 20 a 27 óbitos por dia. É possível dizer que as equipes de saúde já respiram mais aliviadas, após a imensa pressão por leitos para o tratamento de Covid-19 e as mortes sucessivas? A gente está numa fase de queda de ocorrências de casos e de mortes e esperamos que ela seja sustentada. Para isso precisamos manter o avanço da vacinação e também os protocolos sanitários. Não podemos trabalhar como se não tivesse uma pandemia. Se tiver um evento, os protocolos ainda precisam ser mantidos para garantir essa queda sustentada. Só assim não teremos aumento de casos. Como há muita gente com a segunda dose atrasada ou que não tomou nenhuma dose da vacina, o correto é fazer um evento com limitação da capacidade máxima e com todos os protocolos. Qual é a principal justificativa que as equipes de saúde têm ouvido de pessoas que resistem a procurar os postos para tomar a segunda dose?Alguns dizem que tiveram reação à primeira dose e têm medo de tomar a segunda. Outros, que receberam mensagem falando que não precisam tomar a segunda. E há também aqueles que acham que estão imunes com apenas uma dose, apesar de todas as orientações. Um post recente de uma profissional de saúde diz que a segunda dose diminui a imunidade. Isso é “para acabar com os pequis de Goiás”, como costumamos dizer aqui . Essas fake news têm atrapalhado muito o nosso trabalho. A busca pelas pessoas que não tomaram a segunda dose tem sido sistemática?Todas as semanas encaminhamos uma lista nominal para os municípios, de pessoas que estão com a segunda dose atrasada, com nome, CPF, endereço, para que essa busca seja feita pelos agentes de saúde. Os municípios têm trabalhado nesse sentido.Infelizmente são 600 mil pessoas sem a segunda dose, o que é muita gente. Não faltam vacinas. Aqui não tivemos nem falta da Astrazeneca, porque trabalhamos de acordo com o planejamento enviado ao Ministério da Saúde. Orientamos os municípios a não usar a D2 como D1, porque sabíamos que poderia faltar a segunda dose da Astrazeneca. Qual é a grande preocupação em relação a quem não tomou a primeira ou a segunda dose?Quem não tomou nenhuma dose pode fazer parte daquele grande contingente de pessoas que vai parar no hospital e na UTI. Vários estudos e análises têm mostrado que a grande parte das pessoas hospitalizadas por Covid não são vacinadas. E as pessoas desse grupo, infelizmente, podem vir a óbito. Em relação à segunda dose, a duração da imunidade total é em torno de seis meses. Numa escala de suscetibilidade à doença, primeiro estará quem não tomou nenhuma dose, segundo quem tomou só uma. Já estamos ministrando a dose de reforço e tem gente que não tomou a segunda ainda. Isso está relacionado às novas variantes do coronavírus?Não somente com elas. As novas variantes aumentam mais essas chances, mas mesmo se elas não existissem essas pessoas estão completamente sem proteção. A partir do ano que vem a vacina contra Covid passa a integrar o calendário anual de vacinação. Como está esse planejamento?Pelo planejamento que vem sendo trabalhado pelo Ministério da Saúde, idosos deverão tomar duas doses e os mais jovens apenas uma. Mas precisamos ver o que as evidências vão nos mostrar até lá para ver como será conduzido isso. Que vai ter vacinação no ano que vem é fato, mas como ela vai acontecer precisamos esperar resultados de estudos. Na última semana houve um grande debate sobre o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. Qual é sua opinião a respeito? Outros locais do mundo servem de laboratório para nós. A tendência é que quando tivermos uma cobertura vacinal maior, de cerca de 70% a 80%, possamos pensar em não exigir o uso da máscara em locais abertos, mas isso ainda não é possível. Estamos com apenas 40% da população totalmente vacinada em Goiás e no Brasil não é muito diferente. Temos um longo caminho a seguir para poder pensar nisso. Ainda é muito precoce. Usar máscara não é o fim do mundo. É uma estratégia importante e não só para Covid. Desde o início da pandemia tivemos queda nos registros de várias outras doenças. Este ano não tivemos surto de catapora e não identificamos, em 2021, nenhum caso de H1N1. Houve uma queda considerável de doenças respiratórias e atribuímos isso ao uso da máscara.