A lama e a poeira são vizinhos indesejados e permanentes em 54 bairros de Goiânia. É só abrir a janela, o portão, sair e entrar de casa que pelo menos uma das duas aparece para os milhares de cidadãos que moram em ruas sem asfalto na capital. A falta dessa estrutura pública afeta as vias respiratórias, a mobilidade e até a dignidade dos cidadãos, que têm de analisar até o momento de estender roupas para não ter a lavagem perdida. O número de bairros afetados é 75% maior do que em 2013, quando O POPULAR mostrou que a Prefeitura não asfaltava ruas desde 2012. Na época, 31 bairros sofriam com o problema.O motorista Loeni Paulo da Costa, de 69 anos, resume que onde não há asfalto, não há civilização, o que é endossado pelo seu vizinho no Jardim do Cerrado 4, o pedreiro Devaldo Alves Queiroz, de 61. “Aqui não estamos nem na rua e nem na roça”, diz Devaldo.A dupla usa entulho e lixo para tapar os buracos no bairro e chegou a usar blocos de concreto para fazer uma curva de nível que jogasse a água da enxurrada para um lote baldio, evitando que maiores erosões ocorressem na Rua Luiza M. Coimbra Bueno.O cinegrafista Waldimar Garcia, de 38 anos, mora há três anos na Rua Monsenhor Primo Vieira, no Residencial Monte Pascoal, e já se cansou de retirar carros dos buracos na via onde mora. “Há duas semanas um caminhão da coleta de lixo ficou atolado nesta rua e agora eles não passam mais aqui com o veículo”, relata. Nesses casos, os garis fazem a coleta com as mãos, levando os sacos até uma rua mais transitável.Apesar de conviver com a poeira no tempo seco, Waldimar acredita que morar em uma rua sem asfalto é ainda pior durante a chuva, já que ocorrem as erosões que impossibilitam a mobilidade e a chegada de serviços públicos, como Samu e Corpo de Bombeiros.O pastor Wesley Ferreira de Brito, de 36 anos, morador do Jardim do Cerrado, relata que vários vizinhos já perderam muros após fortes chuvas, o que seria resolvido com o asfalto e a galeria pluvial. Wesley também diz que os filhos têm problemas respiratórios em razão da poeira. “Aqui é um setor que tem muitos cadeirantes e deveria ter uma oficina de cadeira de rodas, pois toda hora elas quebram ao andar nessas ruas.”A assessoria de imprensa da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) explica que a coleta é feita em todas as ruas. Onde não há asfalto são usados os caminhões menores, por eles transitarem com maior agilidade. Em uma situação pior, os catadores utilizam uma caminhonete pick-up e, em último caso, os garis vão a pé, levando o lixo até onde o caminhão estiver, como ocorre na rua de Waldimar.Essa disposição, no entanto, é restrita. Loeni conta que dificilmente consegue receber entregas em sua residência, localizada a menos de 300 metros de uma avenida asfaltada. Devaldo afirma que em outras ruas, mais abaixo, a situação atinge até mesmo os carteiros. “Tem muita gente aí que tem de vir pegar as correspondências em uma casa mais acima, porque não chega até lá.”MudançaAnalista de operações Renato Alves, de 28 anos, vai se mudar para um bairro sem asfalto a partir do mês que vem, mas já sabe que vai conviver com problemas. Atualmente morador do Setor Nova Vila, sempre que vai visitar sua casa nova no Chácaras Recreio São Joaquim se sente inseguro. Por enquanto, o maior problema são as erosões causadas pelas chuvas. “Não conseguimos desenvolver velocidade na rua, porque sempre tem buraco e fica perigoso”, diz.Renato já sabe que sempre terá de buscar um novo caminho cada vez que chover forte na região, pois a rua pode ficar intransitável. “Quando compramos eu pensava que o bairro seria asfaltado logo”-Imagem (1.836947)-Imagem (1.836946)-Imagem (1.836945)